\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

domingo, abril 03, 2011

Mário Silva Freire

PELOS CAMINHOS DA PAZ - 6

A família e a paz

No seu sentido mais tradicional, a família é o agregado doméstico composto de pessoas unidas pelos vínculos de casamento, parentesco e afinidade. Hoje, o conceito de família estende-se a outras formas de agregado doméstico que não implicam, necessariamente, quer o casamento, quer a existência simultânea de um pai, uma mãe e filhos. Cada vez mais se vai ouvindo falar em uniões de facto, assim como de famílias mono-parentais. Seja qual for o modelo adoptado, a família constitui um espaço essencialmente afectivo. E se essa afectividade for vivida intensamente, de maneira positiva, todos aqueles que dela fazem parte poderão transmitir para fora dela essas vivências que nela experimentaram. Quer isto dizer que se na família houver relações de amizade e de paz, esses mesmos sentimentos serão transmitidos nas relações que os seus membros estabelecerem com os outros. A oposta também é verdadeira: numa família em que a agressividade seja uma constante, onde os filhos vêem os pais a ofenderem-se, onde eles próprios ofendem e são ofendidos, é provável que estes elementos, nos diferentes ambientes em que se inserem, sejam eles o escolar, o profissional, o social, não encontrem maneiras ajustadas e pacíficas de resolver os conflitos ou, simplesmente, as frustrações que o dia a dia lhes traz.
A família não é algo que está parado no tempo. Ela sofre influências quer do ambiente em que está implantada, quer dos meios de comunicação social, quer dos diferentes factores, económicos e culturais, que a condicionam no seu dia a dia. Ela tem que encontrar espaços e tempos para todos os que nela convivem possam estar uns com os outros. Nenhum dos seus elementos se pode alhear do que aos outros acontece, seja na escola, seja com os amigos, seja no emprego. Ter esse conhecimento implica diálogo e o diálogo dá segurança. A insegurança gera o medo e o medo gera a agressividade.
A droga, o desemprego e a pobreza são ameaças a que nenhuma família está imune. Cada um destes factores introduz contextos, familiares e extra-familiares, que vão contra a paz. Tentar eliminá-los da sociedade e do seio das famílias é tarefa que compete, em primeira instância, às instituições públicas. Os deficits orçamentais, por muito importantes que sejam no equilíbrio das contas de um país, não devem sobrepor-se às condições de vida das pessoas. Mas, compete, também, às organizações privadas empenharem-se na eliminação daquelas ameaças. Elas têm também uma função social. Uma pessoa não pode ser encarada, apenas, como um meio de consumo ou de produzir riqueza. Toda a pessoa tem uma dignidade. E esta tem que ser preservada a todo o custo.
Mário Freire