\ A VOZ PORTALEGRENSE: António Martinó de Azevedo Coutinho

sábado, abril 30, 2011

António Martinó de Azevedo Coutinho

OUTRO PONTAPÉ NA CRISE

As estatísticas da bola – Parte Dois

Nisto, como em alguns outros universos do quotidiano, também há recaídas. Agora, no dia seguinte à histórica vitória do Barcelona versus o aportuguesado Real Madrid, desta vez no mundo da Champions, novamente deparei com outra estatística sobre o comportamento comparado dos maiores monstros em compita -Ronaldo e Messi- patente em dois diários, os do costume.
Embora partindo do lógico princípio de que a estatística pertence ao domínio das ciências exactas e de que os seus resultados merecem, por isso, a devida credibilidade, dei-me ao trabalho de confrontar os dados disponíveis, agora com indisfarçável desconfiança, dada a recente experiência.
Nada terei acrescentado, entretanto, aos meus parcos conhecimentos de ciência futebolística, mas domino -ou julgo dominar!- os seus rudimentos mais básicos: o que é um golo, um passe certo ou errado, uma falta cometida ou sofrida, uma assistência, um fora de jogo, um pontapé certeiro ou falhado, etc., etc., etc.
Mas a conclusão apenas confirmou os meus mais secretos receios. Uma vez mais, as coincidências estatísticas ficariam resumidas aos golos e às assistências. O resto continuou mergulhado no mais delirante e surrealista registo divergente...
A conclusão mais óbvia, que aqui fica devidamente declarada, é a de que jamais perderei um segundo sequer do meu futuro tempo de ócio a ler estatísticas da bola.
No entanto, as minhas reflexões, desta vez, foram um pouco mais longe.
Este processo de comparação entre vedetas talvez devesse ser transplantado do mundo do futebol para um outro mundo, na maior parte das vezes também recheado de pontapés nas canelas do adversário, de flagrantes situações de fora de jogo, de jogadas subterrâneas, de faltas de respeito para com as regras do jogo, para com os árbitros e até para com os indefesos espectadores. Embora também aqui se registem fabulosos prémios de jogo, cunhas, luvas e contratos milionários, dirigentes incompetentes, irresponsáveis e caquéticos, equipas com comportamento amador onde se exigia um rigoroso profissionalismo, promessas sem limites religiosamente proferidas no acto de assinatura dos compromissos e logo esquecidas ou violadas, pedradas, comunicados e lançamento de outros petardos, conferências de imprensa, violentas claques devidamente organizadas, adeptos crédulos qb, árbitros míopes e corruptos e até frequentes mudanças -cirúrgicas- de camisola, embora, em suma, as semelhanças sejam óbvias, este outro “jogo” paralelo ao da bola é o da política (central ou provinciana), tal como entre nós se vive e se entende. Dizem que, tal como no futebol, há países onde esta prática é diferente. Diferente para melhor, entenda-se! Dizem...
Porém, neste jogo à portuguesa, infelizmente, nem sequer existem cartões amarelos ou vermelhos, que bem precisos seriam para moralizar um pouco as constantes jogadas deliberadamente executadas à margem da lei... Ninguém por aqui é penalizado por ser incompetente ou perjuro, mesmo quando falha a marcação de uma grande penalidade legislativa, quando concede um frangalhão executivo de todo o tamanho ou quando comete um auto-golo judicial sem pés nem cabeça, metido com a mão...
Mas voltemos à sugestão: comparar as vedetas políticas, ainda que segundo a mesma “competência” profissional patente nos delirantes exemplos futebolísticos em apreço. Aqui fica um exemplo, modelo elaborado ao acaso sem qualquer rigor especial, dedicado aos dois nomes cimeiros do actual universo político indígena: um credenciado veterano e uma jovem promessa...
Ao contrário do que possa pensar-se, não há nada de inocente nesta proposta. O seu mais fundado objectivo consiste em serem eventualmente divulgadas tão convincentes estatísticas alusivas que algum poderoso e rico “clube” estrangeiro assuma a iniciativa de importar a peso de ouro pelo menos uma destas vedetas -ou mesmo as duas- assim aliviando o nosso défice, e talvez -quem sabe?- dispensando até o recurso ao FMI.
Não foi assim com o Figo, com o Mourinho e com o Ronaldo? E, agora, isto não seria mesmo um valente pontapé na crise?!
António Martinó de Azevedo Coutinho