Mário Silva Freire
PARA UM DESENVOLVIMENTO SOLIDÁRIO
A Caridade como princípio estruturante da ordem social
Uma das palavras cujo sentido mais está desvirtuado é o de caridade. Esta é, frequentemente, confundida com esmola ou compaixão. Não significa que na prática da caridade não estejam incluídas tais situações mas reduzi-la a isso é desconhecer um dos pilares da teologia cristã.
Jesus legou-nos dois grandes mandamentos: um, o do amor a Deus e o outro, semelhante ao primeiro, o do amor ao próximo. Se um dos conceitos contidos na palavra “amor” é o de eros, aquele que exige reciprocidade, como o que se passa entre um homem e uma mulher, o outro é o de ágape ou caridade. Neste, o amor é definido como de pura dádiva, tal como os pais o praticam em relação aos filhos. Na encíclica de Bento XVI “Deus é amor” desenvolvem-se estes temas.
Quando se vê aquela mulher, já idosa, a tratar do marido, acamado, com desvelado carinho, talvez o eros tivesse sido o móbil da união entre essas duas pessoas. Os laços, entretanto, foram-se estreitando nesse casal e hoje ela proporciona-lhe um amor doação, em que dá sem estar à espera de receber. É a caridade no seu sentido mais amplo.
Nestes tempos de crise, em que o desemprego e a desestruturação familiar são flagelos que contribuem para um aumento significativo da pobreza, assiste-se, ao mesmo tempo, a uma maior consciência cívica que se traduz, de entre os vários modos de ajudar o próximo, no número crescente de voluntários. Ora, um voluntário, ao dar parte do seu tempo disponível no acompanhamento de doentes, idosos, crianças deficientes… e pondo nessa ajuda todo o seu empenho, sem nada receber a não ser a alegria de ajudar quem precisa, está a exemplificar aquele mandamento cristão, referido no princípio, seja ou não religioso.
A ordem social, perante a tormenta que nos está avassalar, necessita, pois, de um princípio estruturante para se manter; esse princípio é o da prática da caridade.
Mário Freire
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