Mário Silva Freire
Em memória de um amigo
(António Figueiredo)
Teve lugar no passado dia 29 de Janeiro, no Centro Cultural de Cascais, uma homenagem a um amigo que nos deixou para sempre há poucos dias. Tendo ele expressado a sua mulher que não pretenderia quaisquer cerimónias fúnebres aquando do seu falecimento, entendeu a sua família, duas semanas depois, prestar-lhe uma homenagem pública.
O António Figueiredo era uma pessoa de cultura. Por isso, nessa homenagem, não faltou a música e a poesia que ele tanto apreciava. E até um neto, uma criança de cerca de 11 anos, pôde dedicar-lhe uma pequena peça, para piano, por ele composta. Mas era a pintura a arte que ele mais apreciava. A sua casa era um autêntico mostruário de telas de muitos dos pintores consagrados mas também de jovens talentos ignorados a quem ele ajudava a afirmar-se nesse sector difícil da arte.
Mas a faceta que a mim mais me tocava em António Figueiredo era a arte de congregar as pessoas, em reuni-las, em fazê-las celebrar a companhia de estar juntas. Por isso, nessa homenagem, houve um momento de convívio para que todos aqueles que, estando em Cascais ou vindo de algumas partes do País, pudessem confraternizar, conviver, aquilo que, precisamente, António Figueiredo, tanto perseguiu ao longo da sua vida.
Foi por causa dele que, ao longo de mais de 55 anos, desde que saímos do liceu de Castelo Branco, que continuámos a reunir-nos. E esses encontros começaram a tornar-se mais frequentes, à medida que o tempo ia passando. Era o tempo que estava a escoar-se e, por isso, tornava-se necessário não esquecermos as nossas memórias, não nos esquecermos uns dos outros. Era preciso dar força à amizade que se tinha forjado há já muitos anos!
É no esquecimento que reside, verdadeiramente, a morte. Por isso, ele telefonava, escrevia circulares e, por vezes, até ralhava, à maneira de um pai compreensivo, com aqueles que davam razões para não comparecerem. Naqueles encontros que comemoravam números de anos redondos, lá havia a tal homenagem, por vezes um ofício religioso, outras, nem isso. Mas sempre a enunciação dos nomes daqueles que já tinham partido. Era a maneira que o António Figueiredo tinha para nos recordar que eles, não estando, continuavam presentes. Era a luta que ele mantinha contra a morte – a morte do esquecimento!
E agora, António Figueiredo, como vai ser? Tu continuas vivo entre nós, porque te lembramos e, certamente, enquanto tivermos memória, não te esqueceremos! Mas nós? Quem vai escrever a tal carta para nos convocar para a reunião? Quem vai telefonar para que possamos estar presentes? Quem vai ralhar connosco para que não faltemos? Quem vai ser, afinal, aquele que nos vai dizer que, só celebrando a amizade e o encontro, se vive da maneira como tu querias? Quem vai?
Mário Freire
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