António Martinó de Azevedo Coutinho
Pode afirmar-se sem grande receio de desmentido que, em termos de BD, a grande revolução nacional possibilitada pelo 25 de Abril se chamou Visão. Surgida em 1975, esta revista durou apenas 12 números, que no entanto ficaram registados para sempre na história portuguesa dos quadradinhos.
No entanto, como o tema específico que aqui nos propusemos tratar respeita às relações entre a BD e a publicidade, poderemos destacar a influência que o novo regime de liberdade de imprensa teve neste particular. Não é difícil calcular que abriu novos horizontes, proporcionando uma abertura temática e, sobretudo, o seu alargamento a outros campos anteriormente condicionados, como o sócio-político.
O Ensino e a Educação foram duas áreas complementares onde a Banda Desenhada ganhou direitos de cidadania, tornando-se forma e conteúdo de temas curriculares, como não sucedera até então. Tornou-se natural que tanto os manuais como outros instrumentos pedagógicos -até os pontos oficiais de exame!- usassem os quadradinhos. A difusão didáctica de normas cívicas serviu-se então da técnica da BD para atingir com êxito alguns públicos específicos, sobretudo os mais jovens.
Campanhas das mais diversas, das vacinações à recolhas de detritos, das virtudes do novo Poder Local às vantagens do uso quotidiano do comboio, da divulgação dos objectivos da UNESCO à promoção dos nossos clássicos literários, até mesmo à interpretação de lendas ou tradições da cada recanto nacional, tudo a linguagem dos quadradinhos, com maior ou menor eficácia, tem servido como suporte divulgador.
A vida de todos os dias saltou dos seus palcos naturais para as páginas de jornais e revistas, criticando costumes, relatando cenas insólitas ou parodiando situações. E a BD foi, quase sempre, o veículo escolhido para tais relatos.
A saúde pública, como tema da máxima importância social, também não esqueceu os quadradinhos como sistema de linguagem popular e acessível na difusão dos seus princípios e conselhos preventivos.
A culinária, como prática mais saudável, o combate ao alcoolismo ou a “explicação” de certas doenças vulgares - eis alguns dos inúmeros exemplos de como este tipo de serviço cívico pode ser vantajosamente desempenhado pela BD.
O turismo, tal como vimos no “histórico” caso do Princípe Valente na Terra Santa, continua a ser assunto susceptível de ser abordado, com inteligência e oportunidade, através dos quadradinhos.
Michel Vaillant -também já atrás referido- permitiu, nas páginas das diversas edições internacionais da revista Tintin, uma digulgação turística da nossa capital, assim como a publicidade da TAP. A Câmara Municipal de Portimão editou recentemente um folheto original onde proclama os seus múltiplos atractivos turísticos de forma muito sagaz, salvo a sugestão de aproveitar a sombra das falésias... Pelos Trilhos de São Mamede, um álbum de Quim Ferreira, promove com rara oportunidade as excelências do parque natural com o mesmo nome.
Obviamente, o comércio continuou a utilizar a BD, com já vinha fazendo nos tempos anteriores ao 25 de Abril. Vamos ver como...
António Martinó de Azevedo Coutinho
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