Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO - XXX
O comparativismo
Mais um neologismo trazido pela globalização e que alude ao facto de os resultados de um país estarem constantemente a serem confrontados com os dos outros. Assim aconteceu com os testes PISA, tema já aflorado nestas crónicas, em matéria de educação; o mesmo ocorre em múltiplos outros domínios, como saúde, ambiente, desemprego, economia... Já não estamos sozinhos no mundo e essa presença obriga-nos a compararmo-nos com outros naquilo que temos e naquilo que somos.
Ora, este comparativismo, se é feito em temas de relevância na sociedade, como o da educação, deve produzir consequências políticas. Assim, quem se preocupava com a Finlândia há uma dúzia de anos? E, no entanto, ela encontra-se, hoje, no cerne dos debates sobre a educação! O que torna este país um caso de estudo que pode inspirar-nos a melhorar o nosso sistema de ensino? Uma questão que, certamente, deveria merecer a melhor das atenções e de cuja resposta poderiam sair algumas linhas de actuação que inspirassem os nossos decisores políticos!
É certo que cada sistema educativo reflecte uma certa identidade nacional e mostra um conjunto de particularismos ancorados nas mentalidades de cada país. A corroborar esta afirmação está o estudo efectuado pela OCDE em que os resultados escolares imputáveis ao PIB são, apenas, em 6%, enquanto que 94% desses resultados têm a ver com as políticas educativas que se conduzem. Ora, podem fazer-se evoluir os sistemas educativos, preservando a identidade. Tentar copiar o sistema educativo japonês ou sul-coreano, cujos países têm culturas bastante diferentes da nossa, só pelo facto de terem obtido bons resultados nos testes PISA, seria pouco sensato. Mas, dentro da matriz europeia, com uma base cultural comum de índole cristã, como é a finlandesa, talvez tenha pertinência fazer-se uma análise ao que ali se passa.
Por outro lado, nenhum sistema educativo europeu pode ser olhado como uma realidade única. O observador que tenha em consideração esse comparativismo tem que aceitar, por vezes, factos que nos deixam perplexos. Assim, como explicar que os professores finlandeses não sejam nem inspeccionados nem avaliados?! Seria possível, na nossa cultura de desconfiança recíproca entre o Estado e o cidadão, tal acontecer? O que seria necessário mudar para que essa confiança mútua (não, apenas, no domínio da educação) pudesse ser uma realidade entre nós? E que resultados poderiam decorrer para a sociedade dessa consciência de ser cidadão, com a inerência dos direitos e deveres que isso acarreta? Trata-se, sem dúvida, de uma questão cultural mas, também… de uma questão de ética!
Mário Freire
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