António Martinó de Azevedo Coutinho
Os anos que antecederam a Revolução de 74 foram muito interessantes e férteis em exemplos relacionando BD e publicidade.
É chegado o momento propício a mais uma reflexão teórica que sirva de enquadramento a alguns dos casos aqui apresentados.
A finalidade principal de BD, como sabemos, é a pura recreação. Porém, como privilegiado meio de comunicação de massa, ela possui a vocação de veicular toda e qualquer mensagem. A riqueza formal da sua linguagem, a natural atracção que provoca e toda a “mitologia” tecida em torno de si tornaram-na um canal apetecido para divulgar as informações mais diversas, como aliás temos confirmado.
Nas diversas e complementares dimensões do Homem, assim este utiliza a BD como veículo das suas intenções.
O Homem de Negócios, que procura vender maciçamente produtos ou serviços, faz publicidade, utilizando essencialmente a sugestão; o Homem Público, que sente necessidade de prestar serviços cívicos à comunidade, faz informação, utilizando abundantemente a comunicação; o Homem Político, que deseja afirmar publicamente uma doutrina, faz propaganda, utilizando preferencialmente a persuasão.
Muitas vezes, sobretudo em certas situações que todos conhecemos do quotidiano, a promiscuidade entre estes diversos “actores” atinge níveis de óbvia e deliberada “confusão” nos seus produtos... Onde começam ou terminam aí a velada propaganda, a banal publicidade ou a simples informação?
Aqui, deliberadamente, não nos preocuparemos em colocar barreiras ou rótulos nos diversos exemplos apresentados. E retomemos os anos anteriores a 74.
Alguns dos jornais infanto-juvenis já abordados fizeram da BD uma múltipla utilização publicitária, incluindo tiras promotoras de artigos diversos e, sobretudo, proclamando as suas próprias “excelências”, isto é, as suas próprias histórias. Os exemplos aqui seleccionados apresentam casos patentes n’O Mundo de Aventuras, no Tintin, no Cavaleiro Andante e até, imagine-se, no Diário de Notícias.
As curtas historietas seguintes inserem-se, na perfeição, nos serviços cívicos. À esquerda, dois trabalhos de Tom (Tomás de Melo) para os eléctricos de Lisboa datam dos anos 40 e contêm bons conselhos de utilização. O mesmo se passa, em relação à bicicleta, numa BD didáctica sob a forma de poster, distribuído pelas escolas do Ensino Básico na década de 60. Eis alguns bons exemplos de utilização pragmática dos quadradinhos na sensibilização dos mais novos quanto aos perigos do trânsito.
Mantendo-nos no ambiente escolar, abordemos um dos mais óbvios casos de aproveitamento publicitário dos quadradinhos, sobretudo das suas personalidades mais em evidência. Reencontramo-nos com Astérix e contamos com o incontornável Tintin, que nos vai reservar muitos outros encontros futuros...
Aqui tocamos um caso que bem depressa aprofundaremos um pouco mais: o da propaganda de natureza política. A Mocidade Portuguesa, organização juvenil instituída pelo Estado Novo, soube desenvolver uma campanha inteligente e relativamente bem organizada, que aproveitou a BD e as imagens daí derivadas como um sólido suporte para a difusão dos seus ideais.
Desenvolveremos este tema específico a seguir.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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