Ciclo de Conferências de Senadores - VI
O Futuro Estratégico de Portugal
Precisamente no dia em que se comemorava o Dia do IPP, terminou o Ciclo de Conferências de Senadores que o Instituto Politécnico de Portalegre levou a cabo, uma manifestação Cívica mas também de Cultura que enobrece aquela Instituição.
Coube ao vice-presidente do IPP, Albano Silva, abrir a Conferência de Loureiro dos Santos. Após historiar este acontecimento, que decorreu entre a Primavera e o Outono de 2010, disse que em breve iria ter lugar uma nova Conferência que definiu como uma Conferência Síntese das realizadas.
Carlos Juzarte Rôlo apresentou o Conferencista. Na primeira parte da apresentação quis realçar duas efemérides que naquele dia 25 de Novembro de 2010 se celebravam, e que eram os 500 anos da chegada dos Portugueses a Goa e os 35 anos do golpe radical de esquerda do 25 de Novembro de 1975 que pretendia implantar em Portugal uma ditadura de tipo comunista. Na segunda parte fez uma breve, mas completa, biografia de Loureiro dos Santos.
O Conferencista começou por dizer que ia dividir em duas partes a sua intervenção. Na primeira falaria das relações externas de Portugal no período entre 1910 e 1926, com maior incidência no período da Primeira Grande Guerra Mundial, na qual Portugal participou nos teatros de guerra africano e europeu. Na segunda falaria das relações externas da actual República, pensando no futuro de Portugal.
Para Loureiro dos Santos é fundamental que no imediato se coloque Portugal no centro do Mundo. As crises pelas quais ao longo do tempo Portugal tem passado têm muito a ver com o facto de o país ser refém de outros, sejam no passado da Inglaterra, da Espanha, dos Estados Unidos da América e agora da União Europeia.
Na Primeira República, Portugal teve sempre a ameaça do reino de Espanha, face às investidas iberistas de Afonso XIII. Portugal participa na Primeira Grande Guerra nos campos europeus, a contragosto da sua aliada, a Inglaterra. Mal preparado a todos os níveis, o Corpo Expedicionário Português, o CEP, sai muito maltratado da contenda. E além dessa má preparação para o conflito, na ‘retaguarda’, os políticos nunca se entenderam face à participação, ou não, na contenta. Diferente é o que se passa em Angola e Moçambique, porque nestes teatros de guerra a ameaça germânica era real e a defesa do Ultramar era política defendida por todos os Republicanos, e também pelos Monárquicos, no fundo uma Causa que unia todos os Portugueses de então.
No tempo da Primeira República o Mundo era Eurocêntrico, se bem que a Inglaterra após o fim da grande Guerra deixasse de ser ‘a senhora dos mares’, passando os EUA a potência marítima, sem que haja de facto uma potência continental, dada a derrota da Alemanha, a fraqueza política e económica da Rússia, primeiro dos Czares e depois Comunista.
Desta forma, a Inglaterra e a Alemanha, que lutou para ter fronteiras naturais apoiadas no mar, são as grandes perdedoras do primeiro conflito mundial, arrastando a Europa para uma inexorável decadência. E a denominada Segunda Grande Guerra Mundial não deixou de ser em simultâneo o continuar da Guerra Civil Europeia, que mediou entre 1914 e 1945.
Para justificar que Portugal nunca se procurou colocar no centro do Mundo, Loureiro dos Santos enuncia os ciclos que a História mostra em que os Portugueses viveram e dos quais saiu sempre com mudanças de paradigma.
O primeiro ciclo foi o Ciclo da Índia, que vai terminar em Alcácer-Quibir e consequente perda da independência. Seguiu-se o Ciclo do Brasil, que termina com a independência da antiga colónia, a qual gerou uma longa crise que só termina com a Regeneração. Segue-se o Ciclo Africano, que termina com a revolução pretoriana e corporativista de 25 de Abril de 1974.
E não querendo deixar passar a data de 25 de Novembro de 1975, lembrou que com o chamado ‘25 de Novembro’ foi impedida a instauração de nova ditadura em Portugal.
Portugal, após o fim do Império, adere à Comunidade Económica Europeia, mas nela sempre tem tido uma postura de país periférico. E Loureiro dos Santos defende que Portugal tem que se colocar no centro do Mundo e deixar de ser refém da Alemanha. É esta Europa que nos obrigou a alienar a nossa agricultura e as nossas pescas, tornando-nos mais, demasiados dependentes de outros no campo estratégico alimentar, o que significa perda de Soberania.
Não deixa de questionar o porquê da Alemanha mandar na União Europeia, e defende que os alemães têm a ‘estratégia de abraço do urso’ para Portugal.
Face a sucessivas perdas de Soberania, Portugal tem que reorientar a sua política externa. É vantajoso pertencer ao bloco europeu, mas há que dar relevo aos países lusófonos, em especial ao Brasil. E raciocínio idêntico para com os outros países, a partir da matriz cultural para potenciar as especialidades de cada um.
Portugal tem hoje recursos estratégicos em que tem que apostar, e uma área é a aposta na exportação através da inovação. Também deve privilegiar a ligação ao norte de África, a sua fronteira terrestre a sul, após o mar.
Portugal, que foi a Fenícia do Renascimento, tem que regressar aos negócios e reconquistar o Oriente.
Disse Loureiro dos Santos que as ameaças à nossa segurança nacional têm que ser antecipadas através de acções de prevenção, e enunciou um conjunto de factores que são ameaças eles próprios:
_ 1.º Constrangimentos políticos. Recusar tornar-se refém.
_ 2.º Constrangimentos económicos. Dependência de créditos externos.
_ 3.º Constrangimentos financeiros. Pagamentos a credores externos.
_ 4.º Constrangimentos de informação mediática. Dependência da informação externa.
_ 5.º Constrangimentos militares. Dependência de meios militares externos.
_ 6.º Violação de espaço de energia. A dependência de países terceiros.
_ 7.º Fornecimento de recursos primários. Dependência de matérias-primas do exterior.
Defende que as alianças e os acordos militares potenciam a economia, e que a aliança que melhor defende Portugal é a NATO. Também disse que a CPLP tem implicações na segurança nacional, porque alarga as nossas fronteiras.
Em síntese, Loureiro dos Santos insistiu que Portugal deve ter uma política de abertura ao Mundo e não se considerar e actuar como país periférico, Portugal tem que centralizar-se face ao Mundo. E Portugal tem que apostar no Mar, e para além dele, isto é, voltar-se para o Mundo, para não ficar refém da União Europeia.
Terminou assim a sua Conferência, na qual nunca falou na Rússia no contexto actual quer da NATO quer da UE, facto político-estratégico que merece ser realçado nas circunstâncias da reunião da NATO recentemente realizada em Lisboa. Também não referiu a importância da Língua Portuguesa, factor de coesão interna e mais-valia dentro da CPLP, potenciando a sua importância nos areópagos em que se movimenta.
Dir-se-á, em jeito de conclusão, que se esteve presente a uma Aula de Geopolítica de alto valor académico.
Seguiu-se um período de perguntas e respostas.
A primeira pergunta teve como tema a UE, através da hipótese Confederação versus Federação, tendo dito Loureiro dos Santos que aos ‘países grandes’ não lhes interessa a Federação, a qual implicaria duas Câmaras, uma das quais colocaria todos os países em igualdade, independentemente da sua dimensão e população.
A segunda pretendia comparar a actual presença de Portugal no Afeganistão com a presença na Flandres na Primeira Grande Guerra, factos de natureza não comparável segundo o Conferencista.
A terceira questionava a compra recente de dois submarinos. Presentemente esta questão é mais de ordem política do que militar, o que é profundamente errado.
Loureiro dos Santos disse que face à ameaça da pirataria nos mares, o submarino é a melhor arma para a combater. Porém, no futuro próximo tal ameaça não é previsível a Portugal. Para ele os submarinos são necessários, mas no presente não eram prioritários face às carências de outro tipo de material com que se confrontam as Forças Armadas Portuguesas.
A quarta questão tinha como tema o apoio à candidatura conjunta ibérica à realização de um Mundial de Futebol por parte de países da América Central e do Sul, mas também de outras latitudes. Loureiro dos Santos disse que o futebol é um trunfo para Portugal ser conhecido no Mundo e disse que nesta era global os jogadores Luís Figo, primeiro, e agora Cristiano Ronaldo, são como que embaixadores de Portugal.
Este projecto comum torna a Ibéria como uma base de afirmação. Todavia realçou que há um desequilíbrio de massa crítica entre Portugal e Espanha, e que há uma contínua tentativa de ‘abraço de urso’ de Espanha a Portugal.
Em paralelo, Loureiro dos Santos falou da importância social dos gladiadores face aos futebolistas de hoje, e falou da recente eleição de Portugal para o Conselho de Segurança da ONU, com o apoio dos países Lusófonos, muitos africanos, da América central e sul e do Oriente, uma eleição face ao Canadá, um país forte no concerto das Nações.
A última pergunta tinha a ver com a pretensão hegemónica das grandes potências, facto que, segundo Loureiro dos Santos, não devia acontecer, mas que acontece. A História mostra que pela força os ‘grandes’ submetem os ‘pequenos’.
Mário Casa Nova Martins
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