\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, novembro 11, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXII

Os gastos na educação

Com base em dados das Estatísticas da Educação, 127.000 alunos reprovam ou abandonam anualmente, em Portugal, os seus estudos. Contabilizando os custos que tais reprovações implicam em professores, empregados, instalações, equipamentos e material, verifica-se uma perda anual de mais de 420 milhões de euros só para o ensino básico. Note-se que Portugal é um dos países da OCDE (que agrupa 31 países, sobretudo europeus, além dos EUA, Austrália, Japão e economias emergentes, como o México e a Turquia) com mais altas taxas de reprovação.
Poderia inferir-se destes dados que haveria, então, todo o interesse em facilitar a transição de ano. De facto, as reprovações podem traduzir-se em “mais do mesmo”, ou seja, os alunos que reprovam acabam por repetir, do mesmo modo (ou quase) aquilo que não aprenderam. Mas, facilitar a transição de ano, seria baixar ainda mais o nível de conhecimentos e reduzir o esforço para aprender. Em crónicas anteriores tentei dar pistas para a ultrapassagem desta dificuldade.
Por outro lado, estudos recentes referidos por Nuno Crato (Expresso de 25 de Setembro passado), indicam a “não existência de uma relação sistemática nem de relações fortes entre os gastos da escola e o desempenho dos estudantes”. Ora, se recordarmos as zonas de investimento no sector educativo, verifica-se que os dinheiros gastos não têm uma correspondência na aprendizagem dos alunos.
Assim, a somar à perda, em dinheiro, decorrente das reprovações (sem contar com os aspectos pessoais e sociais a elas inerentes) junta-se, agora, o mau investimento que é feito em campos com pouca relevância para a aprendizagem dos alunos. É bom que se invista na educação. Mas, para isso, e com a escassez de recursos com que vivemos, há que seleccionar com rigor onde é que vai gastar-se o dinheiro. Como exemplo, a utilização das novas tecnologias de informação na escola é importante; mas, a partir de que altura irão elas constituir-se numa autêntica ferramenta de aprendizagem e não como um estorvo para a mesma?
Penso que a formação de professores deveria ser o fulcro dos investimentos na educação. Ora, já existem instituições vocacionadas para essa formação: as Escolas Superiores de Educação. Porque razão, então, não concentrar aí a formação docente, evitando multiplicidade de gastos, ao mesmo tempo que se lhes restituiria a sua vocação originária? Claro que essa formação, inicial e ao longo da vida, teria que ser muito exigente e muito pragmática, visando as diferentes disciplinas do currículo e tentando, ao mesmo tempo, dar resposta aos múltiplos problemas que actualmente se colocam, como sejam o insucesso e abandono escolares, a indisciplina e violência e as relações com a família.
Em tempos de crise, como os que hoje vivemos, talvez valesse a pena repensar a educação, muito especialmente no que toca à diminuição dos seus desperdícios e ao aumento da sua eficácia!
Mário Freire