Jorge Luís Lourinho Mangerona
Fernando Savater
Bom vento… de Espanha
De há anos a esta parte, vários intelectuais de renome têm chamado a atenção para os desmandos a que o sistema educativo tem sido sujeito. Não interessa, para o caso, que tais atropelos sejam fruto de opções políticas ou de orientações baseadas em estudos ditos “científicos” de investigadores da área das chamadas ciências da educação. Também não interessam, de momento, as questões epistemológicas que se colocam às referidas ciências e que são, no fundo, as mesmas que se colocaram a outras ciências sociais face às dificuldades de definição e delimitação do seu objecto. O que interessa, por hoje, é que têm sido apontados como factores de degradação do sistema o facilitismo e a degradação da autoridade dos professores. É óbvio que não se podem reduzir as causas da degradação da escola pública apenas aos factores apresentados e esquecer todas as questões estruturais da sociedade portuguesa que se reflectem na escola. Como toda a gente reconhece, a escola é um espelho da sociedade e nem é de admirar a desautorização dos professores face à subversão de valores e à crise de autoridade do Estado. Há, no entanto, quem considere esta desautorização perfeitamente normal e entenda que professor e aluno estão em plano de igualdade na sala de aula.
A todos os que perfilham o igualitarismo atrás referido recomendo a leitura da entrevista de Fernando Savater ao semanário Expresso, no suplemento Actual, de trinta de Outubro passado. Convém referir que Fernando Savater é um homem de esquerda, nascido em San Sebastian, escritor, filósofo, professor de Ética e colaborador habitual do “El País”, diário cujas tendências me dispenso de referir. Não podendo transcrever integralmente a entrevista não posso deixar de referir algumas das suas respostas. À pergunta “Se a escola estivesse organizada em ambiente democrático os estudantes não poderiam aprender a cidadania pelo exemplo e prática?” responde: “A escola não é democrática. Nem deve sê-lo. A escola é a preparação para a democracia. Uma aula é hierárquica. O professor está sempre acima dos alunos. A escola deve estar a preparar os jovens para ser cidadãos. A escola não tem os mecanismos da democracia nem deve ter”. Mais adiante sobre a perda de autoridade dos professores:”(…) Há uma teoria, uma tendência, que iguala os professores aos alunos e que faz com que os professores percam o respeito dos alunos(…) Ora se o professor tem tanta autoridade como o aluno a aula não funciona”. Acrescenta ainda: “As aulas não são uma reunião de amigos nem um recreio. São um lugar onde se transmite conhecimento. Toda a gente aceita e entende que um treinador de futebol dê ordens aos seus jogadores. Já o mesmo modelo numa escola parece que começou a ser (erradamente) entendido como escandaloso”. Pois é, já vi pais a exigirem que o treinador do seu clube “ponha” os jogadores a trabalhar, mas quase bateram no professor que lhes disse que o filho não trabalhava. Fernando Savater põe o dedo na ferida pelo que, desta vez, é caso para dizer que de Espanha veio bem vento.
Jorge Luís Lourinho Mangerona
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