\ A VOZ PORTALEGRENSE: O 'Zé' Lagarto deixou-nos

terça-feira, novembro 02, 2010

O 'Zé' Lagarto deixou-nos

Liceu Nacional de Portalegre

O ‘Zé’ Lagarto deixou-nos

Foi com consternação que ontem Dia de Todos-os-Santos, pela manhã, ouvi o meu Amigo Luís Costa dizer-me que o Zé estava muito mal no hospital. E quando à noite telefonou a dar a notícia do seu falecimento, fiquei triste. Muitas memórias me ocorreram.
Mais velho do que eu três anos, ao tempo em que frequentávamos o Liceu Nacional de Portalegre, eram os anos suficientes para que eu fosse um simples ‘desconhecido’, enquanto ele já era ‘figura’ no Liceu.
O Zé fora nado e criado na Praça de República. E desde sempre acompanhara os alunos do LNP, o que fez com que quando entrou como aluno, fosse logo como que uma espécie de ‘veterano’. Este ‘estatuto’ académico, na época, dava-lhe importância, que ele como ninguém sabia gerir e usufruir.
Foi mais tarde, e assim, que nos cruzámos no 5.º ano, que hoje corresponde ao 9.º ano. Era um ano de final de ciclo, e a nossa sala de aula ficava no rés-do-chão, tinha ao fundo os estrados para os ensaios do orfeão, que eram aos sábados com o professor Raimundo, tinha a porta frente ao gabinete médico, junto à secretária da contínua, a ‘menina’ Angélica, e tinha janelas para o pátio da palmeira.
A turma era a ‘B’, mista, e não havia lugares marcados. Escolhi a carteira da frente, que além do mais ficava junto a uma das janelas, lugar ‘estratégico’ que permitia ver quem passava pelo pátio, saber que turma ou turmas tinham tido ‘feriado’, e ainda permitia ver parte do campo de andebol, o que muito ajudava o tempo a passar.
Por altura dos primeiros testes, o Zé começou a sentar-se ao meu lado, se bem que houvesse troca de posições, ficando ele junto à janela e eu no lado direito. O seu ‘estatuto’ concedia-lhe o privilégio da escolha do melhor lugar.
Não consigo lembrar-me do nome de todos, mas da turma ‘B’, lembro-me do Américo Esperancinha, António Landeiro, Armindo Afonso, Carlos Alves, Isabelinho Miguéns, João Manuel Barrento da Costa, João Manuel Bizarro Pequito, João Paulo Garção, João Pires Gonçalves, João Vintém, Joaquim Conde, Joaquim Eduardo Rato, Joaquim, Jorge Borrego, José Augusto Ribeirinho Cebola, José Augusto de Moura Temudo, José Maria Caldeira, Luís Afonso, Luís Filipe Oliveira Ribeiro, Mário Alegre, Vítor Vintém. Das raparigas, recordo Cidália Arranhado, Etelvina de Jesus Martins, Lídia das Neves Raimundo, Luisa Maria Canário Nogueiro, Maria Antónia Martins Carreiras, Maria Idalmira Ribeiro Garcia.
Os líderes da turma eram o Zé Lagarto e o António Landeiro.
Entre muitas peripécias que aconteceram durante o ano lectivo, não referindo as faltas de castigo, uma nunca deixou de ser motivo de conversa entre os três intervenientes. O Zé, o Landeiro e eu, fomos castigados pelo professor Moura, com a proibição de voltarmos a jogar andebol em torneios até ao final do ano lectivo, devido ao ‘excesso de voluntarismo’ que colocávamos em jogo, em cada jogada… Eu era guarda-redes.
O ser colega de carteira do Zé Lagarto, ‘abriu-me’ as portas do Café Alentejano, onde após o almoço e antes das aulas da tarde, do lado esquerdo quando se entra pela porta principal, os estudantes mais velhos do LNP se sentavam. Até me podia sentar na mesa dele. Então comecei também a andar com as ‘figuras’ do Liceu, todas mais velhas do que eu.
A partir desta época, principalmente nas férias de verão, e porque alguns já tinham saído do Liceu e estavam empregados e tinham carro próprio ou dos pais, passei a ir com eles aos petiscos, aos bailes e às festas populares na região. É com grande saudade que recordo aqueles tempos, onde o Zé Lagarto era sempre figura presente e um dos protagonistas.
Quando regressei a Portalegre, conversávamos quando nos cruzávamos. E a par de conversas sobre aqueles tempos, falávamos do presente e principalmente do futuro por causa dos nossos Filhos. Mais tarde, o facto de frequentarmos, por razões de vizinhança, o mesmo café e ele ter a empresa imobiliária junto à minha casa, fez com que nos voltássemos a aproximar.
Mas o Zé Lagarto era uma figura querida às gerações mais velhas do que ele, à dele e a mais novas, onde me incluia. E assim continuou na vida. Era um Amigo do seu Amigo. A sua paixão pelo Sporting Clube de Portugal e pelo Grupo Desportivo Portalegrense era conhecida. O gosto e o prazer pelo andebol sempre o acompanhavam, tal como o cigarro que ‘produzia’ à maneira antiga.
António João Lagarto Gorgulho, de seu nome completo. O Zé , no dia 1 de Novembro de 2010, deixou-nos. Sinto-me mais pobre, porque perdi um Amigo.
Mário Casa Nova Martins