Jorge Luís Lourinho Mangerona
A cidade que já foi branca…
Nos últimos anos tenho dedicado alguns dias das minhas férias estivais a visitar alguns países que, até há pouco tempo, estavam interditos à maior parte dos ocidentais. Confesso que a escolha não tem sido inocente porque, para além da perspectiva de encontrar vestígios de um passado que, julgava eu, todos desejariam esquecer, me movia a secreta esperança de encontrar sociedades atrasadas que alimentassem o ego de um português todos os dias “bombardeado” com estatísticas desastrosas. Profundo engano que o regresso ao “cantinho” normalmente agudiza. Aliás este ano saí numa altura em que “vivíamos um dos melhores anos em termos de incêndios florestais” e regressei numa altura em que se registavam “os piores dos últimos cinco”. Esta evolução da realidade, que todos os dias nos surpreende e, o que é mais grave, que parece surpreender os nossos responsáveis políticos, é uma originalidade portuguesa entre muitas outras.
A verdade é que os países que tenho visitado, os tais que saíram da “cortina de ferro”, ou têm níveis de desenvolvimento muito semelhantes ao de Portugal ou, na maior parte dos casos, já nos ultrapassaram. Um factor determinante que justifica tal facto, tem a ver com a educação e o civismo. Não registei, por exemplo, os maus modos que por vezes roçam a falta de educação, como já registei quer em estabelecimentos comerciais, quer em instituições públicas, mesmo em Portalegre. Pelo contrário: para além de utilizarem o inglês, mostram-se solícitos e interessados em ajudar. Pelos vistos aprenderam depressa a máxima que ainda não chegou a todos os estabelecimentos de Portalegre: o cliente em primeiro lugar. Saliente-se ainda a recuperação e o respeito pelo património, facetas de um civismo que ainda não aprendemos (ou que “desaprendemos”?). Passe-se, por exemplo, pelos jardins da Corredoura ou do Tarro e veja-se o que aconteceu ao mobiliário urbano. A propósito conto-vos o que me aconteceu algum tempo após a conclusão das obras do Pólis. Independentemente das críticas que se podem fazer a algumas obras, há outras muito bem conseguidas. Considero que o arranjo que liga a Rua da Figueira à Rua Primeiro de Maio é uma obra emblemática e de muito bom gosto. É…ou era! Tendo recebido um amigo que não conhecia a cidade, propus-me mostrar-lhe alguns recantos e, nesse périplo, achei digna de visita tal obra. Foi a surpresa e uma vergonha. A sujidade, o desleixo e a destruição deixaram-me perplexo e envergonhado. Se é verdade que há aqui algum desleixo por parte dos responsáveis, há um vandalismo e uma falta de civismo totalmente incompreensíveis numa cidade de pequena dimensão. Costumo dizer a alguns amigos, muitos dos quais ficam escandalizados, que não conheço nenhuma cidade da dimensão de Portalegre, incluindo em Portugal, onde se verifique este vandalismo e falta de civismo…Não sei se há alguma explicação freudiana para este desamor, mas há certamente uma grande falta de educação. É claro que a esta razão básica mas fundamental, acrescem a falta de policiamento (dizem-me que há três polícias para toda a cidade durante a noite), a falta de manutenção, o esvaziamento do centro histórico e, já agora, uma grande falta de bairrismo mesmo por parte de alguns responsáveis (claro que “a carapuça só serve a quem a enfiar”).
E “assim vai o mundo” e Portalegre que, da cidade branca que já foi, passou a cinzenta…Veremos que tom ou cor o futuro nos reserva.
Jorge Luís Lourinho Mangerona
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home