\ A VOZ PORTALEGRENSE: Mário Silva Freire

quinta-feira, maio 27, 2010

Mário Silva Freire

CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO

A Matemática: discriminador social?

Muitos cursos há em que as perspectivas de emprego estão quase fechadas. Direito, Psicologia, Antropologia, Sociologia, Jornalismo, são alguns dos muitos exemplos desses cursos que têm como destino muito provável dos seus possuidores o desemprego. Seria interessante fazer-se um inquérito entre os alunos do 9º ano, aqueles a quem se coloca um primeiro patamar da escolha profissional, e indagar dos critérios que eles utilizam para escolher a área de estudos a prosseguir. Julgo que não erraria muito se afirmasse que a Matemática seria um desses critérios. E não pelas melhores razões! Quero dizer com isto que determinadas actividades profissionais são, desde logo, excluídas pelos alunos por elas exigirem como requisito o saber-se Matemática ou, o que significa quase o mesmo, por esta disciplina constituir-se como um instrumento de trabalho num curso a frequentar ou numa profissão a exercer.
Ora esta disciplina é determinante para a escolha vocacional pelo facto de muitos alunos, na altura devida, não terem aprendido os automatismos que lhes permitiriam a resolução de operações mais complexas; por ignorarem os fundamentos da aritmética que, depois, os inibe de encontrar a solução daquele pequeno problema que uma vendedeira de mercado, com mais de 50 anos, faz de cabeça.
Esta situação actua, então, como um poderoso discriminador profissional e social. Eles auto-excluem-se de múltiplas profissões que hoje tão necessárias são para o desenvolvimento tecnológico de um país. A não existência dessa lacuna do conhecimento conduziria, certamente, a um acesso mais fácil ao emprego e, consequentemente, ao exercício de uma actividade profissional que melhor os satisfizesse.
Não se põe em causa, é evidente, a ida de alunos para as áreas das Ciências Humanas e Sociais. Mas essa ida deveria decorrer de um desejo efectivo de as estudar e não de um último recurso a que se tem que recorrer pelo simples facto de elas não exigirem a disciplina de Matemática no seu acesso.
Habilitar o aluno do Ensino Básico com conhecimentos e capacidades básicas nessa disciplina, para além de o ajudar a estruturar o pensamento, é contribuir para o alargar dos seus horizontes profissionais e dar mais hipóteses ao desenvolvimento do País.
Há, pois, que combater o flagelo do insucesso em Matemática. Nem sempre as acções mais espectaculares são as mais eficazes. Por mim, proporia uma medida muito simples para ajudar neste combate e que, simultaneamente, implicaria uma poupança: a proibição do uso da máquina de calcular no Ensino Básico. Esta medida não iria resolver a ignorância a que se assiste em Matemática. Ela, no entanto, poderia contribuir para que o aluno tivesse uma maior intimidade com os números e, assim, conhecendo-os melhor, quisesse vir, no seu futuro, a lidar mais com eles.
Mário Freire