\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

terça-feira, maio 18, 2010

Luís Filipe Meira

4º Aniversário do CAEP

A Festa Continua…

Celebra-se neste mês de Maio o 4º aniversário do CAEP. Já lá vão quatro anos sobre o concerto de Yann Tiersen que abriu ao público esta sala que, não sem alguma polémica por vezes estéril, tem vindo a oferecer na generalidade bons espectáculos aos portalegrenses. Dos méritos e deméritos da instituição ou do distanciamento da cidade em relação à sala, temos ao longo dos anos dado conta nestas páginas, priveligiando naturalmente os espectáculos em detrimento de questiúnculas menores.
No entanto, há que dizê-lo e apesar da crise, o CAEP tem celebrado condignamente estes quatro anos de actividade. As propostas têm sido de bom nível e mais ou menos variadas. Hoje irei abordar os concertos de B.Fachada e dos A Silent Film deixando o espectáculo d’A Naifa para a próxima semana.

B.Fachada
Espaço Café Concerto – 07.05.2010
B.Fachada é um valor seguro, quiçá o mais talentoso, de uma nova geração que está a emergir de uma forma consistente na moderna música portuguesa. Esta geração não renega um passado ainda recente onde a canção de intervenção reinou, vai ainda beber à tradição popular, mas como não podia deixar de ser não se esquece dos tempos em que vive. Ora B.Fachada complementa tudo isto com um raro sentido de humor satírico que o fazem escrever textos muito bons. As letras de B.Fachada fazem-me mesmo recordar o Rui Reininho de outros tempos.
No espaço café-concerto do CAE, B.Fachada apresentou-se com as suas violas e na companhia de um contrabaixista que deu um importante suporte à música e aos textos do artista. O concerto com pouco mais de cinquenta pessoas presentes correu informalmente e esclareceu-me algumas dúvidas sobre a qualidade e harmonia da voz do cantor, pois algumas observações no You Tube de concertos acusticos tinham-me deixado expectante. Mas não, este concerto mostrou que B.Fachada é um artista completo e que vai inegávelmente dar cartas no futuro.

A Silent Film
Grande Auditório – 14.05.2010
Os A Silent Film são um quarteto britânico que se move nas margens do rock mainstream e cujos biógrafos dizem que praticam um rock alternativo comparando-os aos Interpol e até aos Radiohead, outros bem mais atentos acham que eles se movem nas águas dos Keane, Snow Patrol e principalmente Coldplay. Há ainda quem, delirantemente encontre semelhanças entre Nick Cave enquanto jovem e o frontman da banda Robert Stevenson, o que é um disparate pois Cave foi sempre muito mais negro e profundo que estes jovens ainda imberbes, que não vão ficar na história do rock pois estão, pelo menos para já, a disputar o campeonato numa divisão secundária e não me parece que bastem meia duzia de canções orelhudas para os elevar ao nível de uns Coldplay, que são indiscutivelmente a sua referência maior.
Ainda assim o concerto correu bem. A sala não estava cheia, mas participou na festa que acabou em apoteose com o público de pé. E verdade seja dita que este é o tipo de banda que pode perfeitamente proporcionar um bom concerto num espaço aberto – lembrei-me das Festas do Crato – pois têm um som apelativo com uma secção ritmica poderosa como respaldo de uma guitarra agressiva e circulante e de um cantor de voz agradável que, de quando em vez, ataca um piano que ajuda a melodia da canção. As canções apesar da roupagem épica e grandiloquente, não passam de historinhas de amor adolescente. Mas, verdade seja dita, fazem as delícias de qualquer responsável pelas playlists de uma qualquer Rádio Comercial.
Assim e apesar de ter a certeza que o futuro do rock não vai passar por aqui, não tenho pruridos em afirmar que foi uma noite bem passada.
Luís Filipe Meira