Luís Pargana
DESABAFOS V
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À mulher de César não basta ser séria…
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Terça-feira da semana passada foi 3ª de Carnaval. Não sendo feriado é dia de tolerância de ponto e, por esse motivo, não fiz o meu habitual desabafo das terças-feiras.
Devo dizer que a Rádio Portalegre teve a amabilidade de deixar ao meu critério fazer, ou não, essa crónica semanal mas, o facto de me ir ausentar durante o fim-de-semana, obrigava-me a gravar na 5ª feira anterior o que poderia comprometer a actualidade do tema que pretendia abordar e que tem feito a actualidade das últimas semanas.
Refiro-me ao caso “face oculta” e à teia de interferências do poder político sobre o poder económico e sobre a comunicação social, que se tem vindo a conhecer nas últimas semanas.
É certo que o que tem vindo a lume parte da divulgação de conversas telefónicas entre os vários envolvidos que, em princípio, deveriam ser do foro privado. Mas também é certo que os crimes só se conhecem com investigação sobre actos que quem os pratica quer que permaneçam escondidos. E também conhecemos a habitual morosidade, para não dizer inoperância da justiça portuguesa, quando se trata de agir com eficácia sobre actos ilícitos praticados pelos mais poderosos.
Costuma dizer-se que “à mulher de César não basta ser séria…” e isso aplica-se aos envolvidos nestas denúncias, mormente ao Primeiro-Ministro de Portugal que tem não só a obrigação de governar, como também de ser um exemplo no desempenho do alto cargo público que exerce, sendo certo que não se é apenas Primeiro-ministro nos dias úteis e em horário de expediente.
Ora, perante, a sucessão de factos que têm vindo a lume, as tentativas de controlo da comunicação social, com interferência sobre o trabalho de jornalistas e sobre as linhas editoriais de jornais e televisões, bem como as perigosas interferências com o mundo da alta finança, desde os grandes grupos bancários, às empresas públicas ou participadas pelo Estado, e que, por isso, deveriam gerir os dinheiros que vêm dos contribuintes, esperava-se um desenvolvimento que resolvesse definitivamente a suspeição e deixasse de distrair tudo e todos dos verdadeiros problemas do País.
Não podemos esquecer que vivemos num País com mais de meio milhão de desempregados, 10% da sua população activa e com um salário mínimo nacional abaixo dos 500 euros.
Não temos, assim, tempo para perder com intrigas palacianas e muito menos com apegos desmesurados ao poder.
Portanto, pensava eu, que cinco dias seriam demais para a opinar sobre um assunto que, mesmo com um fim-de-semana pelo meio, teria que ficar resolvido o mais breve possível.
Puro engano!
Escrevo hoje, com a situação exactamente na mesma. Soube-se mais algumas coisas: Que os dinheiros das empresas públicas, no caso a PT, serviram para financiar apoios para a campanha política que permitiu a José Sócrates voltar a ganhar eleições; perceberam-se os contornos do envolvimento de grandes empresas na estratégia política e pessoal do actual Primeiro-Ministro; conheceram-se, enfim, mais algumas conversas de destacadas figuras do Governo e dos grupos económicos envolvidos, num total despudor e desprezo pelo sentido público que deveriam servir.
Ninguém duvida que esta situação é insustentável. Que é necessário o seu esclarecimento. E definitivo!
Foi o que se pensou que aconteceria com a comunicação ao País que José Sócrates fez na quinta-feira passada. Mas afinal nada ficou esclarecido. O ainda Primeiro-Ministro de Portugal comprovou o apego ao Poder que o caracteriza e, com a mesma expressão que vimos a Bill Clinton, quando negou conhecer a estagiária Monica Lewinsky, ou a Pinto da Costa ao refutar ter alguma vez dado algum presente a qualquer árbitro, aquele que deveria ser o garante do rigor, da seriedade, da defesa do interesse público e do desenvolvimento do País, enredou-se em meias palavras, escolheu como defesa, o ataque e permitiu que tudo continuasse na mesma.
No fundo, devo dizer que não esperava outra coisa do homem que mais “rabos de palha” tem na sua vida pública. Desde o mistério da sua formação académica (certificada quando já desempenhava cargos públicos), ao pouco esclarecido caso Freeport que ainda recentemente viu serem confirmadas pelo Conselho Superior do Ministério Público, as pressões que Lopes da Mota exercera sobre os magistrados encarregues desta investigação. Lopes da Mota, precisamente o magistrado que Sócrates nomeara para o Eurojust que acompanhava, a nível internacional, a investigação deste processo.
Agora, o que realmente me faz espécie é que, perante o comprovado apego ao poder de José Sócrates, o Partido que o elegeu Primeiro-ministro, assobie para o lado e faça como se tudo estivesse bem e sem outra preocupação que não a da “cabala”, “calhandrice”, ou “patranha” como ouvimos dizer aos seus representantes.
É que, para além de tudo o mais, está em causa o próprio quadro de valores que devem servir de referência à nossa vida em sociedade e ao nosso regime democrático. E um Partido que nasceu com base em valores, não pode fazer deles tábua-rasa a troco de um punhado de cargos nos lugares cimeiros do Estado.
Se Sócrates não o faz, deve ser o PS a vir a público esclarecer o que de facto se passa, tomar as medidas que se impõem e, se for caso disso, assumir as responsabilidades outorgadas pelos portugueses no passado acto eleitoral. Porque a Constituição da República não nos deixa eleger Primeiros-Ministros, faz-nos votar em partidos e em forças políticas, e são estes que devem garantir a saúde e a qualidade da nossa democracia.
De outra maneira não passaremos de uma “república das bananas”, refém dos interesses particulares e das estratégias de poder individuais que nos têm remetido para a cauda do desenvolvimento.
Devo dizer que a Rádio Portalegre teve a amabilidade de deixar ao meu critério fazer, ou não, essa crónica semanal mas, o facto de me ir ausentar durante o fim-de-semana, obrigava-me a gravar na 5ª feira anterior o que poderia comprometer a actualidade do tema que pretendia abordar e que tem feito a actualidade das últimas semanas.
Refiro-me ao caso “face oculta” e à teia de interferências do poder político sobre o poder económico e sobre a comunicação social, que se tem vindo a conhecer nas últimas semanas.
É certo que o que tem vindo a lume parte da divulgação de conversas telefónicas entre os vários envolvidos que, em princípio, deveriam ser do foro privado. Mas também é certo que os crimes só se conhecem com investigação sobre actos que quem os pratica quer que permaneçam escondidos. E também conhecemos a habitual morosidade, para não dizer inoperância da justiça portuguesa, quando se trata de agir com eficácia sobre actos ilícitos praticados pelos mais poderosos.
Costuma dizer-se que “à mulher de César não basta ser séria…” e isso aplica-se aos envolvidos nestas denúncias, mormente ao Primeiro-Ministro de Portugal que tem não só a obrigação de governar, como também de ser um exemplo no desempenho do alto cargo público que exerce, sendo certo que não se é apenas Primeiro-ministro nos dias úteis e em horário de expediente.
Ora, perante, a sucessão de factos que têm vindo a lume, as tentativas de controlo da comunicação social, com interferência sobre o trabalho de jornalistas e sobre as linhas editoriais de jornais e televisões, bem como as perigosas interferências com o mundo da alta finança, desde os grandes grupos bancários, às empresas públicas ou participadas pelo Estado, e que, por isso, deveriam gerir os dinheiros que vêm dos contribuintes, esperava-se um desenvolvimento que resolvesse definitivamente a suspeição e deixasse de distrair tudo e todos dos verdadeiros problemas do País.
Não podemos esquecer que vivemos num País com mais de meio milhão de desempregados, 10% da sua população activa e com um salário mínimo nacional abaixo dos 500 euros.
Não temos, assim, tempo para perder com intrigas palacianas e muito menos com apegos desmesurados ao poder.
Portanto, pensava eu, que cinco dias seriam demais para a opinar sobre um assunto que, mesmo com um fim-de-semana pelo meio, teria que ficar resolvido o mais breve possível.
Puro engano!
Escrevo hoje, com a situação exactamente na mesma. Soube-se mais algumas coisas: Que os dinheiros das empresas públicas, no caso a PT, serviram para financiar apoios para a campanha política que permitiu a José Sócrates voltar a ganhar eleições; perceberam-se os contornos do envolvimento de grandes empresas na estratégia política e pessoal do actual Primeiro-Ministro; conheceram-se, enfim, mais algumas conversas de destacadas figuras do Governo e dos grupos económicos envolvidos, num total despudor e desprezo pelo sentido público que deveriam servir.
Ninguém duvida que esta situação é insustentável. Que é necessário o seu esclarecimento. E definitivo!
Foi o que se pensou que aconteceria com a comunicação ao País que José Sócrates fez na quinta-feira passada. Mas afinal nada ficou esclarecido. O ainda Primeiro-Ministro de Portugal comprovou o apego ao Poder que o caracteriza e, com a mesma expressão que vimos a Bill Clinton, quando negou conhecer a estagiária Monica Lewinsky, ou a Pinto da Costa ao refutar ter alguma vez dado algum presente a qualquer árbitro, aquele que deveria ser o garante do rigor, da seriedade, da defesa do interesse público e do desenvolvimento do País, enredou-se em meias palavras, escolheu como defesa, o ataque e permitiu que tudo continuasse na mesma.
No fundo, devo dizer que não esperava outra coisa do homem que mais “rabos de palha” tem na sua vida pública. Desde o mistério da sua formação académica (certificada quando já desempenhava cargos públicos), ao pouco esclarecido caso Freeport que ainda recentemente viu serem confirmadas pelo Conselho Superior do Ministério Público, as pressões que Lopes da Mota exercera sobre os magistrados encarregues desta investigação. Lopes da Mota, precisamente o magistrado que Sócrates nomeara para o Eurojust que acompanhava, a nível internacional, a investigação deste processo.
Agora, o que realmente me faz espécie é que, perante o comprovado apego ao poder de José Sócrates, o Partido que o elegeu Primeiro-ministro, assobie para o lado e faça como se tudo estivesse bem e sem outra preocupação que não a da “cabala”, “calhandrice”, ou “patranha” como ouvimos dizer aos seus representantes.
É que, para além de tudo o mais, está em causa o próprio quadro de valores que devem servir de referência à nossa vida em sociedade e ao nosso regime democrático. E um Partido que nasceu com base em valores, não pode fazer deles tábua-rasa a troco de um punhado de cargos nos lugares cimeiros do Estado.
Se Sócrates não o faz, deve ser o PS a vir a público esclarecer o que de facto se passa, tomar as medidas que se impõem e, se for caso disso, assumir as responsabilidades outorgadas pelos portugueses no passado acto eleitoral. Porque a Constituição da República não nos deixa eleger Primeiros-Ministros, faz-nos votar em partidos e em forças políticas, e são estes que devem garantir a saúde e a qualidade da nossa democracia.
De outra maneira não passaremos de uma “república das bananas”, refém dos interesses particulares e das estratégias de poder individuais que nos têm remetido para a cauda do desenvolvimento.
23 de Fevereiro de 2010
Luís Pargana
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