\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Pargana

quarta-feira, fevereiro 03, 2010

Luís Pargana

Desabafos III
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PEQUENAS POLÍTICAS
GRANDES PRECONCEITOS
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Em meados do século XX, um senador dos Estados Unidos da América ficou tristemente célebre na história por ter mobilizado o Estado americano em torno de uma extraordinária teoria da conspiração que atrofiou inúmeras instituições e destruiu vidas e carreiras de milhares de cidadãos americanos.
Chamava-se Joseph McCarthy e o período em que desenvolveu as suas actividades ficou conhecido pelo McCartismo.
Figuras maiores da cultura, das artes e da ciência, como Charlie Chaplin, Leonard Bernstein, Orson Wells, Elia Kazan, Gary Cooper, Eduard G. Robinson, Arthur Miller, Howard Fast, Barbara Bel Gueddes, Aaron Copland, Edward Murrow, Robert Oppenheimer e o duplamente premiado com o Nobel da Química e da Paz, Linus Pauling, são apenas alguns nomes entre os muitos milhares de norte americanos perseguidos e humilhados em autos acusatórios públicos, transmitidos em directo pelas televisões ao longo deste período negro da história americana. Até Walt Disney chegou a ser suspeito e interrogado por este senador que veio a morrer em 1957, completamente desacreditado e com acentuados sintomas de esquizofrenia.
E de que eram acusadas, afinal, todas estas personalidades? De serem Comunistas!
De simpatizarem com a ideia de uma sociedade mais justa, sem a exploração do homem pelo homem. Com base na suspeição ou na denúncia eram despedidos, impedidos de prosseguirem as suas carreiras profissionais, impossibilitados de levarem uma vida normal.
Tudo isto se passou há pouco mais de 50 anos naquela que é, por muitos, considerada a “pátria da democracia”. Mas acontecia também em Portugal, antes do 25 de Abril e em muitos outros países, onde os direitos humanos e de cidadania são condicionados por lógicas fundadas no preconceito e no desrespeito político.
Chegados ao século XXI, com a democracia assumida como consenso universal, tudo levaria a crer que o preconceito e a discriminação não seriam mais tolerados no quotidiano das instituições. Nada mais falso.
Teimosamente a intolerância volta a surgir, sempre que se trata de defender interesses particulares e de atingir objectivos de poder. Ainda que à custa do normal funcionamento das instituições ou da destruição de vidas pessoais e profissionais.
A mesma intolerância de McCarthy, ou dos agentes do Estado Novo português surgiu recentemente em Nisa, na sua Câmara Municipal, e com os trabalhadores do Município como alvo.
Com um Executivo Municipal sem maioria absoluta, a oposição na Câmara Municipal de Nisa tem vindo a rejeitar, sucessivamente, os instrumentos de governação fundamentais para a normal gestão municipal – o seu Mapa de Pessoal, o Orçamento e as Grandes Opções do Plano – com base em argumentos casuísticos que outra coisa não fazem senão dificultar a normal gestão do Município.
Não é esta a prática e a essência do Poder Local, onde a luta política se trava em torno das grandes questões do desenvolvimento local e não na obstrução das medidas de gestão corrente do Município. Aliás, basta vermos o exemplo de Portalegre onde o Executivo Municipal também é gerido sem maioria absoluta, mas onde as questões de gestão corrente são viabilizadas por toda a oposição, nomeadamente as relacionadas com o mapa de pessoal e com as competências técnicas que o Executivo considera necessárias para a execução das decisões municipais.
É, portanto, com surpresa mas, sobretudo, com preocupação que assistimos à luta que tem vindo a acontecer na Câmara Municipal de Nisa, onde o debate político se tem limitado a contrariar as opções gestionárias da maioria que ganhou as eleições, impedindo progressões nas carreiras, reclassificações profissionais ou situações de mobilidade intermunicipais, com argumentos que desconsideram a competência e o profissionalismo de quem trabalha no Município e relembram a “caça às bruxas” do McCartismo e de antes do 25 de Abril.
Estarei a exagerar na comparação? Consulte-se a acta da reunião da Câmara de Nisa de 16 de Dezembro onde a oposição contesta a situação de mobilidade de uma técnica superior, porque esta trabalhadora tem no seu gabinete “quadros representando espingardas com cravos vermelhos enfiados nos canos”!
E assim vai andando a nossa pequena política, com absurdas teorias da conspiração que geram instabilidades artificiais e lógicas clientelares que em nada dignificam as instituições, quem nelas trabalha e muito menos os políticos que as pretendem gerir.
2 de Fevereiro de 2010
Luís Pargana