\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Luís Filipe Meira

TRÊS CANTOS AO VIVO

Música de Certa Maneira
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É editado hoje o registo recolhido nos históricos concertos que Zé Mário Branco, Sérgio Godinho e Fausto efectuaram no Campo Pequeno (Lisboa) a 23 e 24 do passado mês de Outubro. Estão disponíveis a edição simples em CD duplo e a edição especial, que além dos CD’s (22 canções), oferece um DVD duplo com o concerto (24 canções) e um outro com o documentário Tudo Faz Parte, de André Godinho, edição que trás ainda um livro de 40 páginas com fotografias da preparação e do espectáculo e o texto Um Sonho Acordado, onde Nuno Pacheco nos conta como este encontro que andava para acontecer há anos chegou finalmente a bom porto.
Sobre esta edição há pouco para dizer, e muito para escutar e ver. Direi apenas que aqui estão três dos quatro – o outro é Zeca Afonso – mais importantes representantes de um género – a canção de autor – que emergiu com a Revoluçã
o do 25 de Abril e que hoje está praticamente desaparecido.
A produção do concerto, os arranjos, a escolha do reportório apresentado é irrepreensível. Os músicos escolhidos são naturalmente de primeira água. Mas o que mais impressiona neste registo, é a facilidade que estes três homens têm em entrar nas canções uns dos outros, e interpretarem-nas como se sempre o tivessem feito. Só músicos absolutamente excepcionais o poderiam fazer.
Longe vão os tempos em que eu comecei a ouvir a música deste pessoal, e foi por esta porta que entrei na música portuguesa. Ainda tenho as primeiras edições em vinil dos Sobreviventes e do Pré Histórias do Sérgio, As Cantigas do Maio e o Venham Mais Cinco do Zeca, a Margem de Certa Maneira e Mudam-se os Tempos Mudam-se as Vontades do Zé Mário, ou o Pró Que Der e Vier do Fausto.
Tenho saudades desse tempo e dessas vivências, e naturalmente que este registo trás me recordações. Mas como nunca fui saudosista, transcrevo, a terminar e com a devida vénia, parte de um texto que Rui Tavares assinou no jornal Público de 26 de Outubro, e que também vem no livro que acompanha a primeira edição de Três Cantos ao Vivo:
(…) Poderíamos olhar para este espectáculo com o interesse algo folclórico de quem acha em casa um velho álbum de fotografias das últimas quatro décadas. Mas creio que temos aqui um privilégio maior. Aquilo de que se trata, penso eu, é da permanente história humana de como cada um de nós faz o que pode com as circunstâncias que encontra. E essa história decantada pela seriedade com que os autores ambiciosos encaram a arte (…)
Luís Filipe Meira
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