\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

sexta-feira, novembro 27, 2009

Luís Filipe Meira

Prazeres
Tom Waits – Glitter and Doom Live
CD Duplo 2009 – Amazon.co.uk £8.98
VINYL Duplo LP – Amazon.co.uk £23.49

Orch. National de Jazz – Around Robert Wyatt
CD Duplo 2009 – Amazon.co.uk £9.98

.
Longe vão os tempos em que tive o primeiro contacto com dois dos autores mais extraordinários da história da música popular, e que ainda hoje têm lugar cativo no quadro de honra da minha razoável colecção de discos. Refiro-me a Tom Waits e a Robert Wyatt, dois músicos da mesma geração – Waits nasceu em 49 e Wyatt em 45 – mas com percursos e concepções musicais totalmente diferentes.
Wyatt formou os Soft Machine com Kevin Ayers, Daevid Allen e Mike Ratledge em 67, banda psicadélica que gravaria três álbuns de rock psicadélico, abandonando o grupo em ruptura com os outros músicos em 70. Partiu então para uma carreira que, quer a solo, quer com os Matching Mole ou em inúmeras colaborações que vão de Brian Eno a Bjork passando por David Guilmour ou Anja Garbarek entre muitos outros, se tem vindo a desenvolver até hoje assente em critérios experimentais e marginais.
Oferecendo-nos no entanto algumas verdadeiras pérolas discográficas das quais vale sempre a pena destacar Rock Bottom (1974), Ruth is Stranger than Richard (1975), Old Rottenhat (1985), Comicopera (2007) ou a 5 cd box set ( 1999) que reúne alguns Ep's absolutamente espantosos, e atrás da qual desesperei quatro ou cinco anos, conseguindo-a finalmente já este ano numa reedição americana.
Ora tudo isto vem a propósito de Around Robert Wyatt, um magnífico disco, em que o contrabaixista francês Daniel Yvinec à frente da Orchestre National de Jazz se abalança a fazer uma leitura pessoal da obra de Wyatt, mantendo sempre presente o espírito e a própria presença física do autor, que participa em quatro temas. Entre os convidados, destaque ainda para a notável cantora Rokia Traoré, Camille e Yael Naim.
Around Robert Wyatt não é um disco surpreendente, principalmente para quem já conhece a obra de Wyatt, mas a entrega é tal, que cativa até os mais desavisados. Basta gostar de música.
O primeiro disco de Tom Waits data de 73 e chama-se Closing Time. No entanto, o meu primeiro contacto com esta fascinante personagem foi por volta de 80 / 81, tinha acabado de sair Heartattack & Vine, o 6.º disco de Waits.
Recordo-me que entrei numa loja de electrodomésticos em Almada à procura do disco. O empregado procurou-o, e disse-me que tinha pena mas o exemplar que restava estava riscado e só depois do Natal haveria reposição de stock. Claro que mesmo com defeito trouxe o disco para casa, e ainda o guardo.
Pois este verdadeiro homem dos sete instrumentos está de volta com um cd duplo, que reúne num primeiro disco alguns momentos absolutamente inesquecíveis, recolhidos no tour Glitter & Doom Live, e que levou Waits a 10 cidades europeias e americanas.
O segundo cd oferece-nos Tom Waits em registo Stand up Comedy, mas aqui reconheço que o meu inglês é curto demais para aferir a qualidade da performance. Ainda assim, pelo entusiasmo do público, a coisa deve ser fascinante. Mas para os interessados, basta ir ao site de Tom Waits (http://www.TomWaits.Com/ ), onde poderá encontrar a transcrição completa de Tom Tales, o cd bónus, que acompanha esta nova loucura de um homem que um dia disse:
(…) Vivo para a aventura e para ouvir as lamentações das mulheres. Subscrevo a minha mitologia pessoal. Prefiro criar o meu próprio país e viver nele. (…)
Glitter & Doom Live é mais um memorável contributo para a história da música popular universal.
Luís Filipe Meira