Catarina Brites Soares
Hugo Capote é o jovem candidato da CDU. A predominância da vertente social e a recuperação de pontos-chave como o turismo, a cultura e a juventude são bandeiras que quer hastear se for o novo Presidente da Câmara Municipal de Portalegre.
Porquê a candidatura a Portalegre?
Sinto que tenho uma divida para com Portalegre no sentido em que nasci e cresci cá e toda a minha família é de Portalegre. Aos 18 anos saí e estive 10 anos fora. O que encontrei foi uma cidade atractiva para quem quer uma boa qualidade de vida e uma boa qualidade profissional, mas onde é muito raro conseguir. Nesse sentido achei que podia haver uma congregação de esforços desta geração que gosta muito de Portalegre, que ganhou competências e que conseguiria pô-las ao serviço da cidade. Portalegre está enferma à custa da bipolarização partidária e de não valorizar as competências e as pessoas, valorizam-se muito mais os partidos. Estou a tentar inverter este rumo, fazer uma candidatura o mais abrangente possível, as pessoas convidadas são todas pessoas jovens que não dependem de partidos políticos e de ficar ou não na Câmara, aquilo que as une é quererem dedicar as competências e o amor que têm a Portalegre tornando-a mais atractiva.
Portalegre encontra-se numa fase desacreditada até pelos seus cidadãos. Nesse sentido esta candidatura é um desafio?
É evidente que este desafio me foi proposto, eu não acordei com a ideia de ser um dia Presidente da Câmara. Dentro da força política em que milito fui convidado para fazer uma lista, mas também me deram carta-branca. Disseram-me que queriam fazer uma lista unitária abrangente onde o que valha sejam as competências das pessoas. Falei com amigos com quem há muito tempo partilho estas inquietações sobre a cidade e constatei, até para surpresa minha, que não lhes faria impressão nenhuma integrar uma lista da CDU encabeçada por mim, porque o que interessa é fazer uma ruptura, demonstrar às pessoas que apesar de tudo há esperança. A cidade conseguiu fixar alguns jovens e que esses estão dispostos a fazer alguma coisa por ela.
Integrar os cidadãos é uma das valências do seu programa para estimular Portalegre. Até que ponto isso é realmente exequível?
Sejamos honestos, Portalegre não tem hábitos de participação política. Tem que ser feita essa educação, tem que ser feito esse esforço. Ou nós habituamos os cidadãos a participar ou então nunca serão ouvidos. Vivemos 30 anos de poder centrado na instituição Câmara e o poder tem de descer à rua. Mas tem de ouvir com regras, não é o Presidente que desce à rua e pergunta ao munícipe se deve fazer aquilo ou o outro, tem de haver uma estrutura. Isto funciona para o bem e para o mal, eu tenho algumas promessas mas se chego à Câmara e percebo que não tenho orçamento para as concretizar acho que deveria deslocar-me à população e explicar porque é não vou cumprir. Passa por fazer publicidade ao que queremos fazer mas explicar e justificar quando não conseguimos fazer. A base é a integração de Portalegre no seu conjunto e pô-la a trabalhar no mesmo sentido.
Essa descentralização não existe já, por exemplo, através das Juntas de Freguesias?
Existe uma descentralização administrativa, mas tirando a parte de auscultação institucional que é na Assembleia Nacional ou duma reunião por um problema mais concreto, os cidadãos não são metidos nem achados. Hoje em dia não há qualquer intervenção do presidente da freguesia porque o “chefe da banda”, o Presidente da Câmara, é quem diz tudo. Não há uma filosofia de auscultação, nem sequer da freguesia em relação aos seus habitantes. Na óptica dos últimos presidentes, a freguesia funciona quase como uma repartição administrativa da Câmara. A aproximação entre o poder e as pessoas é o caminho para conseguir fixar mais gente e levar Portalegre a algum sítio.
Como é que se desenvolve uma cidade como Portalegre sem estragar o que tem de mais próprio, a qualidade de vida?
Eu e a minha equipa temos a sensação que Portalegre está mal mas falta muito pouco para ficar bem. Ou seja, nós não temos que fazer grandes obras, vamos consolidar aquilo que existe. Há que olhar para história de Portalegre e perceber que houve um erro que se cometeu nestes últimos anos: nunca se conseguiu harmonizar e requalificar os dois pólos urbanísticos construídos durante os anos 70, o Bairro do Atalaião e o Bairro dos Assentos. Os espaços tem de ser pensados de forma a serem policêntricos, que obrigue as pessoas a deslocarem-se dentro da cidade, a entrar no centro mas também a sair. Requalificar o centro é obrigatório pelo turismo e para que se evite o efeito donuts. Se há alguém que pensa que a cidade vive com o centro morto desengane-se. Essa falência do centro vai expandir-se para o resto da cidade.
Requalificar o centro como?
Recuperando os prédios degradados, fazendo com que os jovens casais se fixem, ir buscar jovens técnicos, por exemplo, para integrarem os quadros do hospital ou da Câmara, oferecendo-lhe condições no centro da cidade, por exemplo através de casas recuperadas com rendas baratas. Tem de se fazer uma intervenção profunda na principal artéria da cidade, a Rua Direita, sem que seja preciso grandes obras. O que nós queremos é tornar a Rua Direita num Centro Comercial a céu aberto. Fazer um centro comercial que são ruas com lojas de um lado e do outro, alargando áreas, rebaixando algumas zonas do piso, cobrindo algumas partes para que não chova no Inverno e faça sombra no Verão, pondo noutras zonas expressores, criando zonas onde seja possível ter minipalcos cortando o trânsito completamente para que hajam esplanadas fixas. O Presidente fala da criação de muitos postos de trabalho com o Centro Comercial, mas eu gostava de saber à custa de quantos. Não sei o que fica realmente a ganhar, sei o que fica a perder: o centro histórico. Há uma outra intervenção que alterava esta zona da cidade. Integrar o turismo com o núcleo museológico de Portalegre tem. Portalegre tem uma colecção de Arte Sacra fechada na nossa Sé Catedral e a Diocese está disposta a abri-la. Era desejável ter mais um Museu e integrá-lo com os restantes, com um Centro de Artes e Ofícios que ficaria na Vila Nova, o último bairro industrial da cidade. O objectivo é dar vida aos museus, ao Castelo, ao Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre e criar um eixo entre a Praça da República, o Rossio e a Praça do Município, que está morta.
Mas houve uma recuperação do Castelo.
Mas é preciso que essa recuperação tenha consequências e não teve. Aquele Castelo tem de ser vivido, tem espaço para eventos culturais e não houve um único evento cultural naquele Castelo durante os três anos de valência do Programa Pólis.
As pessoas queixam-se, mas não aderem. O que é que se pode fazer quando já nem a oferta resulta?
Isso não é verdade. É quase científico hoje em dia, uma coisa é programar outra coisa é criar públicos e uma coisa não pode estar dissociada da outra. Esse problema é relativamente fácil de resolver porque se insere num conceito que queremos desenvolver em Portalegre, conceito de cidade criativa, que trabalha três áreas: públicos, criadores e espaços. Temos espaços suficientes temos é que pensar no que é que cada um deles pode dar. Dou o exemplo do Museu José Régio. Este poeta é conhecido em todo o Mundo e nós temos uma Casa José Régio que está completamente desenquadrada do resto da política cultural. Não se pode pegar num livro, não tem um espaço de leitura. Mas é claro que tem de ser criada uma estrutura na Câmara. Como é que se pode fazer um trabalho sério na Cultura quando é aberto um concurso na Câmara para chefe de divisão da Cultura que não é um cargo qualquer é apenas o responsável de toda a cultura na cidade, e quando põe como critério essencial ser licenciado em Direito. Não há estrutura e esta Câmara não tem qualquer tipo de sensibilidade para isso, isto demonstra que é um cargo feito à medida para alguém que já lá está, provavelmente.
No seu programa diz que a sua “candidatura pretende uma ruptura com as clientelas que se alimentam da autarquia”. O que é que isto quer dizer?
É uma questão muito simples, não quero levantar polémicas porque não posso provar nada, não tenho recibos, não tenho nada. Mas a Festa da Vida, por exemplo, organizada durante o tempo de campanha pela Câmara, é uma iniciativa clara ao voto, vi ser distribuídos aos velhotes t-shirts laranja, devem ser emblemáticas de qualquer coisa. Sei que há alguém que avalia as contas dos partidos, mas gostava de saber onde é que as estruturas partidárias de Portalegre têm capacidade para ter os outdoors que têm. Compare-se duas candidaturas com as outras três, a nossa é verdadeiramente independente. Devemos compromisso à nossa estrutura partidária, mas não devemos a mais ninguém. Mantemos uma independência que começa por ser financeira. Isto tem importância ao nível dos compromissos, quando digo que queremos limitar a expansão imobiliária, haverá alguma construtora civil que me esteja a apoiar neste momento? Será que eu não sou das poucas candidaturas que pode dizer isto?
Acha que existe um certo sistema de favores?
Eu acho que acontece aqui e em qualquer lado, por isso é que foi feita uma Lei de Financiamento dos Partidos e se tenta controlar muito mais quem é que doa. Eu gostava de saber quem é que doou ao PSD. Eu estou disposto a mostrar o orçamento da minha candidatura e posso-lhe garantir que não há ali nenhuma empresa privada ou que tenha algum interesse nas funções que vou exercer. Gostava de saber se as duas candidaturas mais fortes podem fazer o mesmo.
No seu programa faz muitas propostas. É possível concretizar tudo o que promete em quatro anos de mandato?
A minha dúvida só está na capacidade financeira. Vou ser honesto, acompanho a vida da cidade e das Assembleias Municipais e nós sabemos bem as dificuldades económicas que a Câmara atravessa e que não se pode endividar mais. Mas não me parece que o nosso programa tenha alguma iniciativa que seja gastadora.
Recordo-me da gratuidade dos transportes públicos para os estudantes, a gratuidade dos transportes públicos nos sábados, a construção de um Centro de Estágio para uma ou duas modalidades...
Para a gratuidade é fácil, passa por abdicar de algumas receitas que são mínimas. Não me parece que as receitas dos serviços municipalizados diminuíssem particularmente por causa desta medida. Aliás, a gratuitidade dos transportes das freguesias para a cidade, se por um lado poderia implicar mais gastos com os serviços municipalizados, traria um dinamismo diferente ao mercado, acho eu e espero eu. O projecto mais dispendioso seria a recuperação da Rua Direita, mas essa poderia ser comparticipada. O que me parece é que esta Câmara funciona muito por impulsos, levanta-se e lembra-se de construir um Sambódromo, ou um aeródromo ou qualquer coisa acabada em “ódromo”. Nada se governa por impulsos. Todas as minhas propostas implicariam estudos de viabilidade económica e investimentos a médio longo prazo.
A cultura é uma prioridade?
É uma prioridade. A cidade precisa de se afirmar, sempre foi uma cidade encravada entre o Alentejo e a Beira Baixa, sempre teve como rivais Évora a sul e Castelo Branco a Norte, mas foi uma cidade que sempre teve uma grande apetência cultural quer para fazer quer para ter públicos. Isso parece-me que foi descurado nestes últimos quatro anos, sobretudo quando foi feito um excelente trabalho nos quatro anos anteriores pelo Vereador da CDU, Luís Pragana. Tem que se fazer com que não se viva de costas uns para os outros. Porque depois é um ciclo, ou seja, as receitas turísticas subiram, então já há razão para os restaurantes estarem abertos aos domingo, para ter um hotel dentro da cidade, para se ter outro cuidado com o turismo, por exemplo ter dois autocarros que transportem as pessoas na Estação até à cidade e que os deixem logo em sítios estratégicos.
A fixação de pessoas é outro dos problemas da cidade. Assistimos ao encerramento de algumas indústrias e serviços. O que é que pode fazer para atrair e fixar as pessoas?
A questão aqui é que a Câmara tem de funcionar como peso político, órgão de pressão. Nós estamos numa fase de sobrevivência, nós estamos numa fase de expansão. Quer dizer que não podemos tolerar que qualquer serviço saia da cidade e isto tem que ser explicado às pessoas. Se aquela estratégia de auscultar as pessoas funcionasse, não tenho dúvidas que conseguiríamos mobilizar as pessoas. Eu vejo as pessoas noutras cidades a mobilizarem-se contra o encerramento dos Centros de Saúde, aqui encerram-nos tudo e nós não fazemos nada.
Então acha que é um problema da população?
Também é, mas senão se mobiliza a população ela não sai sozinha.
Mas a verdade é que nós temos deputados na Assembleia da República que tem como função representar Portalegre. Não é por acaso, que os serviços encerram em Portalegre e não encerram em Évora ou em Beja.
Mas se o pólo de oposição política partisse da Câmara não tenho dúvidas que os deputados vinham a correr e tinham que se colar ao movimento a seguir e que fariam tudo para impedir o encerramento dos serviços. Mas senão houver mobilização, abaixos-assinados, se a Câmara não actua junto da sua população então… Como é que é possível que a Região de Turismo que era a melhor da Região de Portalegre, era considerada um exemplo para o Alentejo tenha transferido a sua sede para Beja? Isto demonstra um total desprezo e a insignificância política de Portalegre. Mas Portalegre fez alguma coisa? Mobilizou alguém? Fez alguma sessão de esclarecimento? É também uma questão de credibilidade e eu acho que o Eng. Mata Cáceres já não tem grande credibilidade junto dos Ministérios, é uma pessoa que se percebe que governa à vista, não tem qualquer tipo de planeamento. Não é um homem que tenha uma concepção da cidade. O que eu vi durante estes quatro anos foi um bajolamento do presidente aos Secretários de Estado que cá vinham. Oferecer uma medalha ao António Costa só porque decidiu construir uma Escola da GNR em Portalegre. Ele já lá tem a medalha mas a Escola ainda não está cá. É um homem que não tem credibilidade e isso também se ganha lá fora. Não se pode querer ter peso político nas decisões, ser respeitado e chamado quando não se criou esse tipo de respeito e credibilidade.
O que é que o diferencia dos restantes candidatos?
Sem dúvida a juventude e a experiência. Parece que para ser Presidente da Câmara tem de se ser empresário porque tem de se ser um gestor. Mas eu contesto esta ideia. Não é que eu tenha alguma coisa contra os gestores serem bons Presidentes de Câmara, mas esta ideia que para ser um bom gestor da Câmara tem que se ser um bom empresário não é verdade porque a Câmara não é uma empresa nem tem de ser gerida como uma empresa. Um Presidente da Câmara é acima de tudo um decisor. A Câmara não está ali para fazer bons negócios, à custa de bons negócios a Robison foi à vida, a Câmara fez um bom negócio, comprou todos os territórios a um preço muito abaixo do que valia porque a Robison faliu. Foi um excelente negócio para o Gestor Mata Cáceres mas foi um bom negócio para a cidade de Portalegre? A outra coisa é, apesar de ter 34 anos, tenho uma experiência de participação pública na cidade, escrevo em jornais, faço programas de rádio, digo o que o penso, apresento projectos, contesto decisões nesta cidade. Tenho um passado que responde por mim, as pessoas podem não concordar comigo mas sabem o que eu penso.
A juventude tanto a nível de campanha foi estratégia?
Isso surgiu do facto de partilharmos dos mesmos ideais. Há aqui um corte geracional que Portalegre tem de ter com políticos e com políticas do passado.
A política portuguesa é feita de muitas rivalidades e teimosias partidárias. Tem alguém na sua lista que não seja do partido?
Eu não perguntei o partido às pessoas, mas posso-lhe dizer que dos 7 para a Câmara só dois é que são do partido.
Porquê a candidatura a Portalegre?
Sinto que tenho uma divida para com Portalegre no sentido em que nasci e cresci cá e toda a minha família é de Portalegre. Aos 18 anos saí e estive 10 anos fora. O que encontrei foi uma cidade atractiva para quem quer uma boa qualidade de vida e uma boa qualidade profissional, mas onde é muito raro conseguir. Nesse sentido achei que podia haver uma congregação de esforços desta geração que gosta muito de Portalegre, que ganhou competências e que conseguiria pô-las ao serviço da cidade. Portalegre está enferma à custa da bipolarização partidária e de não valorizar as competências e as pessoas, valorizam-se muito mais os partidos. Estou a tentar inverter este rumo, fazer uma candidatura o mais abrangente possível, as pessoas convidadas são todas pessoas jovens que não dependem de partidos políticos e de ficar ou não na Câmara, aquilo que as une é quererem dedicar as competências e o amor que têm a Portalegre tornando-a mais atractiva.
Portalegre encontra-se numa fase desacreditada até pelos seus cidadãos. Nesse sentido esta candidatura é um desafio?
É evidente que este desafio me foi proposto, eu não acordei com a ideia de ser um dia Presidente da Câmara. Dentro da força política em que milito fui convidado para fazer uma lista, mas também me deram carta-branca. Disseram-me que queriam fazer uma lista unitária abrangente onde o que valha sejam as competências das pessoas. Falei com amigos com quem há muito tempo partilho estas inquietações sobre a cidade e constatei, até para surpresa minha, que não lhes faria impressão nenhuma integrar uma lista da CDU encabeçada por mim, porque o que interessa é fazer uma ruptura, demonstrar às pessoas que apesar de tudo há esperança. A cidade conseguiu fixar alguns jovens e que esses estão dispostos a fazer alguma coisa por ela.
Integrar os cidadãos é uma das valências do seu programa para estimular Portalegre. Até que ponto isso é realmente exequível?
Sejamos honestos, Portalegre não tem hábitos de participação política. Tem que ser feita essa educação, tem que ser feito esse esforço. Ou nós habituamos os cidadãos a participar ou então nunca serão ouvidos. Vivemos 30 anos de poder centrado na instituição Câmara e o poder tem de descer à rua. Mas tem de ouvir com regras, não é o Presidente que desce à rua e pergunta ao munícipe se deve fazer aquilo ou o outro, tem de haver uma estrutura. Isto funciona para o bem e para o mal, eu tenho algumas promessas mas se chego à Câmara e percebo que não tenho orçamento para as concretizar acho que deveria deslocar-me à população e explicar porque é não vou cumprir. Passa por fazer publicidade ao que queremos fazer mas explicar e justificar quando não conseguimos fazer. A base é a integração de Portalegre no seu conjunto e pô-la a trabalhar no mesmo sentido.
Essa descentralização não existe já, por exemplo, através das Juntas de Freguesias?
Existe uma descentralização administrativa, mas tirando a parte de auscultação institucional que é na Assembleia Nacional ou duma reunião por um problema mais concreto, os cidadãos não são metidos nem achados. Hoje em dia não há qualquer intervenção do presidente da freguesia porque o “chefe da banda”, o Presidente da Câmara, é quem diz tudo. Não há uma filosofia de auscultação, nem sequer da freguesia em relação aos seus habitantes. Na óptica dos últimos presidentes, a freguesia funciona quase como uma repartição administrativa da Câmara. A aproximação entre o poder e as pessoas é o caminho para conseguir fixar mais gente e levar Portalegre a algum sítio.
Como é que se desenvolve uma cidade como Portalegre sem estragar o que tem de mais próprio, a qualidade de vida?
Eu e a minha equipa temos a sensação que Portalegre está mal mas falta muito pouco para ficar bem. Ou seja, nós não temos que fazer grandes obras, vamos consolidar aquilo que existe. Há que olhar para história de Portalegre e perceber que houve um erro que se cometeu nestes últimos anos: nunca se conseguiu harmonizar e requalificar os dois pólos urbanísticos construídos durante os anos 70, o Bairro do Atalaião e o Bairro dos Assentos. Os espaços tem de ser pensados de forma a serem policêntricos, que obrigue as pessoas a deslocarem-se dentro da cidade, a entrar no centro mas também a sair. Requalificar o centro é obrigatório pelo turismo e para que se evite o efeito donuts. Se há alguém que pensa que a cidade vive com o centro morto desengane-se. Essa falência do centro vai expandir-se para o resto da cidade.
Requalificar o centro como?
Recuperando os prédios degradados, fazendo com que os jovens casais se fixem, ir buscar jovens técnicos, por exemplo, para integrarem os quadros do hospital ou da Câmara, oferecendo-lhe condições no centro da cidade, por exemplo através de casas recuperadas com rendas baratas. Tem de se fazer uma intervenção profunda na principal artéria da cidade, a Rua Direita, sem que seja preciso grandes obras. O que nós queremos é tornar a Rua Direita num Centro Comercial a céu aberto. Fazer um centro comercial que são ruas com lojas de um lado e do outro, alargando áreas, rebaixando algumas zonas do piso, cobrindo algumas partes para que não chova no Inverno e faça sombra no Verão, pondo noutras zonas expressores, criando zonas onde seja possível ter minipalcos cortando o trânsito completamente para que hajam esplanadas fixas. O Presidente fala da criação de muitos postos de trabalho com o Centro Comercial, mas eu gostava de saber à custa de quantos. Não sei o que fica realmente a ganhar, sei o que fica a perder: o centro histórico. Há uma outra intervenção que alterava esta zona da cidade. Integrar o turismo com o núcleo museológico de Portalegre tem. Portalegre tem uma colecção de Arte Sacra fechada na nossa Sé Catedral e a Diocese está disposta a abri-la. Era desejável ter mais um Museu e integrá-lo com os restantes, com um Centro de Artes e Ofícios que ficaria na Vila Nova, o último bairro industrial da cidade. O objectivo é dar vida aos museus, ao Castelo, ao Centro de Artes e Espectáculos de Portalegre e criar um eixo entre a Praça da República, o Rossio e a Praça do Município, que está morta.
Mas houve uma recuperação do Castelo.
Mas é preciso que essa recuperação tenha consequências e não teve. Aquele Castelo tem de ser vivido, tem espaço para eventos culturais e não houve um único evento cultural naquele Castelo durante os três anos de valência do Programa Pólis.
As pessoas queixam-se, mas não aderem. O que é que se pode fazer quando já nem a oferta resulta?
Isso não é verdade. É quase científico hoje em dia, uma coisa é programar outra coisa é criar públicos e uma coisa não pode estar dissociada da outra. Esse problema é relativamente fácil de resolver porque se insere num conceito que queremos desenvolver em Portalegre, conceito de cidade criativa, que trabalha três áreas: públicos, criadores e espaços. Temos espaços suficientes temos é que pensar no que é que cada um deles pode dar. Dou o exemplo do Museu José Régio. Este poeta é conhecido em todo o Mundo e nós temos uma Casa José Régio que está completamente desenquadrada do resto da política cultural. Não se pode pegar num livro, não tem um espaço de leitura. Mas é claro que tem de ser criada uma estrutura na Câmara. Como é que se pode fazer um trabalho sério na Cultura quando é aberto um concurso na Câmara para chefe de divisão da Cultura que não é um cargo qualquer é apenas o responsável de toda a cultura na cidade, e quando põe como critério essencial ser licenciado em Direito. Não há estrutura e esta Câmara não tem qualquer tipo de sensibilidade para isso, isto demonstra que é um cargo feito à medida para alguém que já lá está, provavelmente.
No seu programa diz que a sua “candidatura pretende uma ruptura com as clientelas que se alimentam da autarquia”. O que é que isto quer dizer?
É uma questão muito simples, não quero levantar polémicas porque não posso provar nada, não tenho recibos, não tenho nada. Mas a Festa da Vida, por exemplo, organizada durante o tempo de campanha pela Câmara, é uma iniciativa clara ao voto, vi ser distribuídos aos velhotes t-shirts laranja, devem ser emblemáticas de qualquer coisa. Sei que há alguém que avalia as contas dos partidos, mas gostava de saber onde é que as estruturas partidárias de Portalegre têm capacidade para ter os outdoors que têm. Compare-se duas candidaturas com as outras três, a nossa é verdadeiramente independente. Devemos compromisso à nossa estrutura partidária, mas não devemos a mais ninguém. Mantemos uma independência que começa por ser financeira. Isto tem importância ao nível dos compromissos, quando digo que queremos limitar a expansão imobiliária, haverá alguma construtora civil que me esteja a apoiar neste momento? Será que eu não sou das poucas candidaturas que pode dizer isto?
Acha que existe um certo sistema de favores?
Eu acho que acontece aqui e em qualquer lado, por isso é que foi feita uma Lei de Financiamento dos Partidos e se tenta controlar muito mais quem é que doa. Eu gostava de saber quem é que doou ao PSD. Eu estou disposto a mostrar o orçamento da minha candidatura e posso-lhe garantir que não há ali nenhuma empresa privada ou que tenha algum interesse nas funções que vou exercer. Gostava de saber se as duas candidaturas mais fortes podem fazer o mesmo.
No seu programa faz muitas propostas. É possível concretizar tudo o que promete em quatro anos de mandato?
A minha dúvida só está na capacidade financeira. Vou ser honesto, acompanho a vida da cidade e das Assembleias Municipais e nós sabemos bem as dificuldades económicas que a Câmara atravessa e que não se pode endividar mais. Mas não me parece que o nosso programa tenha alguma iniciativa que seja gastadora.
Recordo-me da gratuidade dos transportes públicos para os estudantes, a gratuidade dos transportes públicos nos sábados, a construção de um Centro de Estágio para uma ou duas modalidades...
Para a gratuidade é fácil, passa por abdicar de algumas receitas que são mínimas. Não me parece que as receitas dos serviços municipalizados diminuíssem particularmente por causa desta medida. Aliás, a gratuitidade dos transportes das freguesias para a cidade, se por um lado poderia implicar mais gastos com os serviços municipalizados, traria um dinamismo diferente ao mercado, acho eu e espero eu. O projecto mais dispendioso seria a recuperação da Rua Direita, mas essa poderia ser comparticipada. O que me parece é que esta Câmara funciona muito por impulsos, levanta-se e lembra-se de construir um Sambódromo, ou um aeródromo ou qualquer coisa acabada em “ódromo”. Nada se governa por impulsos. Todas as minhas propostas implicariam estudos de viabilidade económica e investimentos a médio longo prazo.
A cultura é uma prioridade?
É uma prioridade. A cidade precisa de se afirmar, sempre foi uma cidade encravada entre o Alentejo e a Beira Baixa, sempre teve como rivais Évora a sul e Castelo Branco a Norte, mas foi uma cidade que sempre teve uma grande apetência cultural quer para fazer quer para ter públicos. Isso parece-me que foi descurado nestes últimos quatro anos, sobretudo quando foi feito um excelente trabalho nos quatro anos anteriores pelo Vereador da CDU, Luís Pragana. Tem que se fazer com que não se viva de costas uns para os outros. Porque depois é um ciclo, ou seja, as receitas turísticas subiram, então já há razão para os restaurantes estarem abertos aos domingo, para ter um hotel dentro da cidade, para se ter outro cuidado com o turismo, por exemplo ter dois autocarros que transportem as pessoas na Estação até à cidade e que os deixem logo em sítios estratégicos.
A fixação de pessoas é outro dos problemas da cidade. Assistimos ao encerramento de algumas indústrias e serviços. O que é que pode fazer para atrair e fixar as pessoas?
A questão aqui é que a Câmara tem de funcionar como peso político, órgão de pressão. Nós estamos numa fase de sobrevivência, nós estamos numa fase de expansão. Quer dizer que não podemos tolerar que qualquer serviço saia da cidade e isto tem que ser explicado às pessoas. Se aquela estratégia de auscultar as pessoas funcionasse, não tenho dúvidas que conseguiríamos mobilizar as pessoas. Eu vejo as pessoas noutras cidades a mobilizarem-se contra o encerramento dos Centros de Saúde, aqui encerram-nos tudo e nós não fazemos nada.
Então acha que é um problema da população?
Também é, mas senão se mobiliza a população ela não sai sozinha.
Mas a verdade é que nós temos deputados na Assembleia da República que tem como função representar Portalegre. Não é por acaso, que os serviços encerram em Portalegre e não encerram em Évora ou em Beja.
Mas se o pólo de oposição política partisse da Câmara não tenho dúvidas que os deputados vinham a correr e tinham que se colar ao movimento a seguir e que fariam tudo para impedir o encerramento dos serviços. Mas senão houver mobilização, abaixos-assinados, se a Câmara não actua junto da sua população então… Como é que é possível que a Região de Turismo que era a melhor da Região de Portalegre, era considerada um exemplo para o Alentejo tenha transferido a sua sede para Beja? Isto demonstra um total desprezo e a insignificância política de Portalegre. Mas Portalegre fez alguma coisa? Mobilizou alguém? Fez alguma sessão de esclarecimento? É também uma questão de credibilidade e eu acho que o Eng. Mata Cáceres já não tem grande credibilidade junto dos Ministérios, é uma pessoa que se percebe que governa à vista, não tem qualquer tipo de planeamento. Não é um homem que tenha uma concepção da cidade. O que eu vi durante estes quatro anos foi um bajolamento do presidente aos Secretários de Estado que cá vinham. Oferecer uma medalha ao António Costa só porque decidiu construir uma Escola da GNR em Portalegre. Ele já lá tem a medalha mas a Escola ainda não está cá. É um homem que não tem credibilidade e isso também se ganha lá fora. Não se pode querer ter peso político nas decisões, ser respeitado e chamado quando não se criou esse tipo de respeito e credibilidade.
O que é que o diferencia dos restantes candidatos?
Sem dúvida a juventude e a experiência. Parece que para ser Presidente da Câmara tem de se ser empresário porque tem de se ser um gestor. Mas eu contesto esta ideia. Não é que eu tenha alguma coisa contra os gestores serem bons Presidentes de Câmara, mas esta ideia que para ser um bom gestor da Câmara tem que se ser um bom empresário não é verdade porque a Câmara não é uma empresa nem tem de ser gerida como uma empresa. Um Presidente da Câmara é acima de tudo um decisor. A Câmara não está ali para fazer bons negócios, à custa de bons negócios a Robison foi à vida, a Câmara fez um bom negócio, comprou todos os territórios a um preço muito abaixo do que valia porque a Robison faliu. Foi um excelente negócio para o Gestor Mata Cáceres mas foi um bom negócio para a cidade de Portalegre? A outra coisa é, apesar de ter 34 anos, tenho uma experiência de participação pública na cidade, escrevo em jornais, faço programas de rádio, digo o que o penso, apresento projectos, contesto decisões nesta cidade. Tenho um passado que responde por mim, as pessoas podem não concordar comigo mas sabem o que eu penso.
A juventude tanto a nível de campanha foi estratégia?
Isso surgiu do facto de partilharmos dos mesmos ideais. Há aqui um corte geracional que Portalegre tem de ter com políticos e com políticas do passado.
A política portuguesa é feita de muitas rivalidades e teimosias partidárias. Tem alguém na sua lista que não seja do partido?
Eu não perguntei o partido às pessoas, mas posso-lhe dizer que dos 7 para a Câmara só dois é que são do partido.
Catarina Brites Soares
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