Ensino da História em Portugal
Fidel ainda resiste
“A princípio tratava-se de uma revolução democrática e nacional. A opção socialista só foi tomada após o bloqueio económico imposto pelos EUA a Cuba. Fidel Castro aproximou-se então, estrategicamente, da URSS e do modelo socialista soviético. O socialismo cubano apostou, sobretudo, no desenvolvimento agrícola e nos domínios da saúde e do ensino, sectores onde atingiu bons resultados. Actualmente, Fidel Castro continua a ser o dirigente de Cuba. O país atravessa sérias dificuldades devido à continuação do bloqueio e tenta ultrapassá-lo através de uma aproximação à Europa.” Novo Clube de História 9, parte II, Porto Editora
COMENTÁRIO “As dificuldades do regime não se devem ao bloqueio americano, mas ao regime comunista que vigora no pais e ao fim do apoio soviético” nos anos 90, aponta Miguel Monjardino. E é “incrível” que se chame a Fidel “dirigente de Cuba, Fidel é um ditador”. Ou melhor, nem isso está certo: já não é, passou o poder, pelo menos formalmente, ao irmão, Raul.
.
Um PREC sem PCP e com pouco Otelo
“Durante este período [PREC] nenhum partido ou organização conseguiu definir uma linha política ou liderar os movimentos de massas que se afirmavam nas ruas com a cobertura política do MFA. Os partidos, da direita à esquerda, acabavam por seguir as iniciativas populares, tentando exercer a sua influência durante os acontecimentos e procurando aliciar os participantes para as suas fileiras.” Caminhos da História, 12.º ano, ASA, volume 2
“Em Maio de 1975, a Rádio Renascença deixou de estar sob controlo da Igreja, depois de um grupo de trabalhadores de esquerda ter ocupado a emissora, em Lisboa Poucos dias depois, a comissão de trabalhadores do República apossou-se das instalações do jornal e demitiu a direcção, acusando-a de ter transformado aquele vespertino no porta-voz dos interesses do Partido Socialista.” Idem, ibidem
“O clima insurreccional que se seguiu [à substituição de Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço na Região Militar de Lisboa] no seio das Forças Armadas levou o Presidente da República a decretar o estado de sítio, a 25 de Novembro. As forças de esquerda dentro do MFA foram neutralizadas, tendo triunfado os militares partidários do grupo dos 9.” Idem, ibidem
COMENTÁRIO “Em todos os extractos, está subjacente uma versão lírico-romântica-infantil do papel dos movimentos de base nas revoluções, o que, como é óbvio, minimiza a responsabilidade dos partidos, nomeadamente do PCP, nas acções que tiveram lugar durante o PREC”, afirma Filomena Mónica, que acha questionável a própria inclusão deste tema na matéria a dar aos alunos: “Com tantos períodos históricos por estudar, qual a vantagem de se incluir nos curricula a fase mais recente, e mais susceptível de infiltração ideológica, da História de Portugal? Não seria mais vantajoso esperar até que investigações feitas nas universidades pudessem oferecer versões mais aproximadas do que se passou no 25 de Abril?” E acrescenta: "É de tal forma escandalosa a ideologia explicitada nestes manuais que imagino serem pouco utilizados. Mas há coisas que podem sugerir o contrário: vide a pergunta sobre a URSS de Estaline no exame de História A do 12.º ano realizado no último mês de Junho.”
O historiador António Costa Pinto é igualmente crítico: “O PCP e algumas forças de extrema-esquerda, e também o PS e o PSD, mobilizavam as massas. E no caso Renascença e República quem manobrou as “comissões de trabalhadores” foi o PCP, embora depois ambos os órgãos "tenham veiculado posições de extrema-esquerda". Quanto ao 25 de Novembro, omite-se a tentativa de golpe da extrema-esquerda afecta a Otelo. E também não foram as “forcas de esquerda” no MFA a ser neutralizadas, mas “o PCP e a extrema-esquerda”, diz Costa Pinto.
.
Viva Zapata!
“O Exército Zapatista de Libertação Nacional é um movimento social que luta pelos direitos dos povos indígenas da América Latina. No México, tem combatido pela libertação do povo de Chiapas. Os objectivos dos zapatistas são: o fim da pobreza e da violência, o direito à terra, os direitos das mulheres, a preservação ambiental, a aplicação da democracia e da Justiça.” Caminhos da História, 12.º ano, Asa, Volume III
COMENTÁRIO Note-se que o excerto é tudo o que e dito sobre o movimento, o que significa que não é referido que se trata de um movimento de guerrilha num país democrático. Filomena Mónica deixa duas questões: “Por que diabo alunos que não sabem o que é a Magna Carta ou quem escreveu o 18 de Brumário de Luís Bonaparte se hão-de familiarizar com um movimento revolucionário nascido no México em 1994? E qual o motivo para lhes dizer mentiras tão primárias quanto a afirmação de que tal movimento lutaria pela “aplicação da democracia e da Justiça”?
.
Allende, mártir à força
“A democracia foi derrubada por um golpe militar (...). Allende, o presidente eleito, foi morto quando a força aérea bombardeou o palácio presidencial." Caminhos História, 12.º ano, Asa, Volume III
COMENTÁRIO Allende suicidou-se, ao contrário do que se admitiu nos primeiros anos depois do golpe de Pinochet. O suicídio é hoje uma tese que até a sua família aceita. Está até na Wikipédia. “Allende preferiu suicidar-se a ficar como prisioneiro” do regime, precisa o historiador António Costa Pinto.
“A princípio tratava-se de uma revolução democrática e nacional. A opção socialista só foi tomada após o bloqueio económico imposto pelos EUA a Cuba. Fidel Castro aproximou-se então, estrategicamente, da URSS e do modelo socialista soviético. O socialismo cubano apostou, sobretudo, no desenvolvimento agrícola e nos domínios da saúde e do ensino, sectores onde atingiu bons resultados. Actualmente, Fidel Castro continua a ser o dirigente de Cuba. O país atravessa sérias dificuldades devido à continuação do bloqueio e tenta ultrapassá-lo através de uma aproximação à Europa.” Novo Clube de História 9, parte II, Porto Editora
COMENTÁRIO “As dificuldades do regime não se devem ao bloqueio americano, mas ao regime comunista que vigora no pais e ao fim do apoio soviético” nos anos 90, aponta Miguel Monjardino. E é “incrível” que se chame a Fidel “dirigente de Cuba, Fidel é um ditador”. Ou melhor, nem isso está certo: já não é, passou o poder, pelo menos formalmente, ao irmão, Raul.
.
Um PREC sem PCP e com pouco Otelo
“Durante este período [PREC] nenhum partido ou organização conseguiu definir uma linha política ou liderar os movimentos de massas que se afirmavam nas ruas com a cobertura política do MFA. Os partidos, da direita à esquerda, acabavam por seguir as iniciativas populares, tentando exercer a sua influência durante os acontecimentos e procurando aliciar os participantes para as suas fileiras.” Caminhos da História, 12.º ano, ASA, volume 2
“Em Maio de 1975, a Rádio Renascença deixou de estar sob controlo da Igreja, depois de um grupo de trabalhadores de esquerda ter ocupado a emissora, em Lisboa Poucos dias depois, a comissão de trabalhadores do República apossou-se das instalações do jornal e demitiu a direcção, acusando-a de ter transformado aquele vespertino no porta-voz dos interesses do Partido Socialista.” Idem, ibidem
“O clima insurreccional que se seguiu [à substituição de Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço na Região Militar de Lisboa] no seio das Forças Armadas levou o Presidente da República a decretar o estado de sítio, a 25 de Novembro. As forças de esquerda dentro do MFA foram neutralizadas, tendo triunfado os militares partidários do grupo dos 9.” Idem, ibidem
COMENTÁRIO “Em todos os extractos, está subjacente uma versão lírico-romântica-infantil do papel dos movimentos de base nas revoluções, o que, como é óbvio, minimiza a responsabilidade dos partidos, nomeadamente do PCP, nas acções que tiveram lugar durante o PREC”, afirma Filomena Mónica, que acha questionável a própria inclusão deste tema na matéria a dar aos alunos: “Com tantos períodos históricos por estudar, qual a vantagem de se incluir nos curricula a fase mais recente, e mais susceptível de infiltração ideológica, da História de Portugal? Não seria mais vantajoso esperar até que investigações feitas nas universidades pudessem oferecer versões mais aproximadas do que se passou no 25 de Abril?” E acrescenta: "É de tal forma escandalosa a ideologia explicitada nestes manuais que imagino serem pouco utilizados. Mas há coisas que podem sugerir o contrário: vide a pergunta sobre a URSS de Estaline no exame de História A do 12.º ano realizado no último mês de Junho.”
O historiador António Costa Pinto é igualmente crítico: “O PCP e algumas forças de extrema-esquerda, e também o PS e o PSD, mobilizavam as massas. E no caso Renascença e República quem manobrou as “comissões de trabalhadores” foi o PCP, embora depois ambos os órgãos "tenham veiculado posições de extrema-esquerda". Quanto ao 25 de Novembro, omite-se a tentativa de golpe da extrema-esquerda afecta a Otelo. E também não foram as “forcas de esquerda” no MFA a ser neutralizadas, mas “o PCP e a extrema-esquerda”, diz Costa Pinto.
.
Viva Zapata!
“O Exército Zapatista de Libertação Nacional é um movimento social que luta pelos direitos dos povos indígenas da América Latina. No México, tem combatido pela libertação do povo de Chiapas. Os objectivos dos zapatistas são: o fim da pobreza e da violência, o direito à terra, os direitos das mulheres, a preservação ambiental, a aplicação da democracia e da Justiça.” Caminhos da História, 12.º ano, Asa, Volume III
COMENTÁRIO Note-se que o excerto é tudo o que e dito sobre o movimento, o que significa que não é referido que se trata de um movimento de guerrilha num país democrático. Filomena Mónica deixa duas questões: “Por que diabo alunos que não sabem o que é a Magna Carta ou quem escreveu o 18 de Brumário de Luís Bonaparte se hão-de familiarizar com um movimento revolucionário nascido no México em 1994? E qual o motivo para lhes dizer mentiras tão primárias quanto a afirmação de que tal movimento lutaria pela “aplicação da democracia e da Justiça”?
.
Allende, mártir à força
“A democracia foi derrubada por um golpe militar (...). Allende, o presidente eleito, foi morto quando a força aérea bombardeou o palácio presidencial." Caminhos História, 12.º ano, Asa, Volume III
COMENTÁRIO Allende suicidou-se, ao contrário do que se admitiu nos primeiros anos depois do golpe de Pinochet. O suicídio é hoje uma tese que até a sua família aceita. Está até na Wikipédia. “Allende preferiu suicidar-se a ficar como prisioneiro” do regime, precisa o historiador António Costa Pinto.
.
Nós no mundo
“A cimeira UE-África, realizada em Dezembro de 2007, aprovou uma estratégia conjunta para regular, a longo prazo, as relações entre os dois continentes a nível económico e político e procurou garantir um maior respeito pêlos direitos humanos.” Novo História 9, Texto Editores
“Em 2007, Portugal assegurou, durante o segundo semestre, a Presidência do Conselho de Ministros da UE, durante a qual se realizou a cimeira UE/África e se assinou o tratado reformador da UE, conhecido como tratado de Lisboa. Estes acontecimentos contribuíram não só para fortalecer as relações UE/África mas também para reforçar a coesão entre Estados membros.” Novo História 9, Texto Editores
COMENTÁRIO A actualidade é arriscada em livros de História: depois da cimeira UE-África, o TPI acusou o presidente do Sudão de crimes contra a humanidade e genocídio, e a situação no Zimbabwe só piorou. O problema do tom politicamente correcto e não coincidir com a realidade: “O principal objectivo do tratado não é a coesão, e reformular o processo de decisão interno e fortalecer externamente a EU”, diz Miguel Monjardino. Encalhado desde o não irlandês, não reforçou nem a coesão nem qualquer outra coisa.
Nós no mundo
“A cimeira UE-África, realizada em Dezembro de 2007, aprovou uma estratégia conjunta para regular, a longo prazo, as relações entre os dois continentes a nível económico e político e procurou garantir um maior respeito pêlos direitos humanos.” Novo História 9, Texto Editores
“Em 2007, Portugal assegurou, durante o segundo semestre, a Presidência do Conselho de Ministros da UE, durante a qual se realizou a cimeira UE/África e se assinou o tratado reformador da UE, conhecido como tratado de Lisboa. Estes acontecimentos contribuíram não só para fortalecer as relações UE/África mas também para reforçar a coesão entre Estados membros.” Novo História 9, Texto Editores
COMENTÁRIO A actualidade é arriscada em livros de História: depois da cimeira UE-África, o TPI acusou o presidente do Sudão de crimes contra a humanidade e genocídio, e a situação no Zimbabwe só piorou. O problema do tom politicamente correcto e não coincidir com a realidade: “O principal objectivo do tratado não é a coesão, e reformular o processo de decisão interno e fortalecer externamente a EU”, diz Miguel Monjardino. Encalhado desde o não irlandês, não reforçou nem a coesão nem qualquer outra coisa.
P.62 e 63, 11 SETEMBRO 2008 SÁBADO
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home