Livro(s)
O que é realmente novo é que as críticas contra Churchill reapareçam simultaneamente da esquerda e da direita (no passado, costumavam alternar entre a esquerda e a direita).
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Dois livros recentíssimos, já amplamente comentados na imprensa internacional, acabam de reabrir a polémica sobre Winston Churchill e a necessidade da II Guerra Mundial. O facto em si mesmo não é novo. Numa sociedade livre, nenhum líder está isento de crítica e reapreciação — e Churchill esteve sempre no centro de controvérsia, incluindo durante o período em que liderou a resistência britânica.
O que é realmente novo é que as críticas contra Churchill reapareçam simultaneamente da esquerda e da direita (no passado, costumavam alternar entre a esquerda e a direita).
À direita, temos o notório Patrick Buchanan com um título bombástico: “Churchill, Hitler and “The Unnecessary War”: How Britain Lost the Empire and the West lost the World”. Da esquerda vem Nicholson Baker com “Human Smoke: The Beginning of World War II, the End of Civilization”.
Sendo ambos americanos, ambos sustentam que a América não devia ter entrado na guerra ao lado de Inglaterra. E ambos responsabilizam Churchill por esse facto.
O argumento de Buchanan é o mais antigo, e era bastante difundido em parte da elite inglesa antes da guerra. Hitler não era uma ameaça para a Inglaterra, era sobretudo anticomunista. Teria destruído a Rússia bolchevista e ocupado uma boa parte do continente. Mas o que Churchill conseguiu foi entregar metade da Europa aos russos e perder o Império britânico — em defesa do qual disse ter entrado na guerra contra a Alemanha.
O argumento de Baker pode na melhor das hipóteses ser considerado pacifista. Na pior, será designado por relativista (não sendo no entanto claro que os dois termos se excluam). É certo que a Alemanha nazi era péssima, mas Churchill e os seus homens eram sobretudo imperialistas e anti-comunistas. Para manter o império britânico – que acabaram por perder – alastraram a guerra ao mundo inteiro e usaram métodos bárbaros semelhantes aos de Hitler.
Este espaço não permite uma discussão detalhada sobre estes argumentos — que, numa sociedade livre, certamente requerem discussão serena e não apenas indignação. Mas duas coisas podem ser ditas. A primeira é que aquelas críticas a Churchill têm como explícita motivação a crítica à actual intervenção anglo-americana no Iraque. Isso é obviamente um disparate: não sabemos o que Churchill teria dito sobre o Iraque actual; e não vale a pena reescrever o passado por causa de uma divergência legítima sobre o presente.
A segunda foi dita por John Lukacs ao “Herald Tribune”: “Churchill sabia que ou Hitler dominava toda a Europa ou os russos dominavam metade dela. E metade da Europa livre, sobretudo a parte ocidental, era melhor do que nada”.
Dois livros recentíssimos, já amplamente comentados na imprensa internacional, acabam de reabrir a polémica sobre Winston Churchill e a necessidade da II Guerra Mundial. O facto em si mesmo não é novo. Numa sociedade livre, nenhum líder está isento de crítica e reapreciação — e Churchill esteve sempre no centro de controvérsia, incluindo durante o período em que liderou a resistência britânica.
O que é realmente novo é que as críticas contra Churchill reapareçam simultaneamente da esquerda e da direita (no passado, costumavam alternar entre a esquerda e a direita).
À direita, temos o notório Patrick Buchanan com um título bombástico: “Churchill, Hitler and “The Unnecessary War”: How Britain Lost the Empire and the West lost the World”. Da esquerda vem Nicholson Baker com “Human Smoke: The Beginning of World War II, the End of Civilization”.
Sendo ambos americanos, ambos sustentam que a América não devia ter entrado na guerra ao lado de Inglaterra. E ambos responsabilizam Churchill por esse facto.
O argumento de Buchanan é o mais antigo, e era bastante difundido em parte da elite inglesa antes da guerra. Hitler não era uma ameaça para a Inglaterra, era sobretudo anticomunista. Teria destruído a Rússia bolchevista e ocupado uma boa parte do continente. Mas o que Churchill conseguiu foi entregar metade da Europa aos russos e perder o Império britânico — em defesa do qual disse ter entrado na guerra contra a Alemanha.
O argumento de Baker pode na melhor das hipóteses ser considerado pacifista. Na pior, será designado por relativista (não sendo no entanto claro que os dois termos se excluam). É certo que a Alemanha nazi era péssima, mas Churchill e os seus homens eram sobretudo imperialistas e anti-comunistas. Para manter o império britânico – que acabaram por perder – alastraram a guerra ao mundo inteiro e usaram métodos bárbaros semelhantes aos de Hitler.
Este espaço não permite uma discussão detalhada sobre estes argumentos — que, numa sociedade livre, certamente requerem discussão serena e não apenas indignação. Mas duas coisas podem ser ditas. A primeira é que aquelas críticas a Churchill têm como explícita motivação a crítica à actual intervenção anglo-americana no Iraque. Isso é obviamente um disparate: não sabemos o que Churchill teria dito sobre o Iraque actual; e não vale a pena reescrever o passado por causa de uma divergência legítima sobre o presente.
A segunda foi dita por John Lukacs ao “Herald Tribune”: “Churchill sabia que ou Hitler dominava toda a Europa ou os russos dominavam metade dela. E metade da Europa livre, sobretudo a parte ocidental, era melhor do que nada”.
João Carlos Espada
jcespada@netcabo.pt
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Expresso, 07 de Junho de 2008
PRIMEIRO CADERNO 53
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