\ A VOZ PORTALEGRENSE: Inquirições II

terça-feira, junho 03, 2008

Inquirições II

Upupa epops
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Estive lá dentro, mas não me quero lembrar. A beleza do conjunto do portal da entrada contrasta com o feio do corredor por onde se entra e que dá para um pátio interior. Este é mal iluminado, porque ao escuro da pedra de que é feita a parede, alia-se a altura desta, parecendo que o céu está muito alto e que a luz penetra nele com dificuldade.
À minha direita via-se uma escadaria que conduzia aos pisos superiores, enquanto à esquerda encontrava-se uma porta baixa e estreita que presumi levar aos subterrâneos. O resto é parede que se eleva sem uma única janela em toda a volta, parecendo que se está dentro de um cilindro, porque ela gera a figura geométrica do círculo.
Entrei sem ter necessidade de me fazer avisar. É que o portão de entrada estava semi-aberto. Também não se ouvia qualquer som, o que sugeria que não havia ninguém por perto. Mas não era fácil caminhar. Aquele silêncio oprimia. O vento, que também não se ouvia, sentia-se áspero. Como a luminosidade era fraca, havia sombras por todo o lado, tudo parecia mover-se sem que existisse alguma coisa móvel.
Dirigi-me à escadaria. E para passar a angústia que se ia apoderando de mim, fui contado os degraus à medida que os subia. Ao chegar ao topo, contara entre cada patamar 6 6 6. Tal como o portão da entrada, a porta estava semi-cerrada. Pelo que pude ver, vislumbra-se por detrás dela um corredor. Empurrei a porta e ouvi um brusco bater de asas. Uma ave de plumagem avermelhada, marcada de perto e branco, com um tufo de penas na cabeça, sai do interior, soltando um grito que com o eco se fez frio e penetrante.
Fiquei como que petrificado face ao inesperado da situação. O indigno e sujo duchifat deixara um rasto de temor. A poupa, considerada alimento impuro e proibido pelo Antigo Testamento, fizera jus à condição de símbolo satânico.

Que os seus adoradores se confundam com o Anjo Caído!
Mário Casa Nova Martins