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POLÉMICA
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A PROPÓSITO DE «PROTO-HISTÓRIADA GUERRA DE ESPANHA»
(DE RODRIGO EMÍLIO)
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por JOSÉ MIGUEL JÚDICE
Meu caro Rodrigo Emílio:
Mal o conhecendo pessoalmente, tenho porém por si uma consideração elevada. Pelas suas posições nacionais e pelo seu valor intelectual indiscutível. Por isso esta carta, que noutras condições não escreveria, substituindo-a por um artigo impessoal.
E escrevo ‘porque não tenho dúvidas sobre as vantagens de nos debruçarmos criticamente sobre os textos de ‘pessoas com as quais ideologicamente temos muitos pontos de contacto. A intelectualidade marxista nisso - como em muitas outras coisas - está aí a revelar bem a importância do diálogo - que exige uma plataforma comum.
Vem isto a propósito de um artigo seu publicado na «Política» n.° 20-21 e intitulado «Proto-História da Guerra de Espanha». No que ele tem de descrição factual pouco há a dizer (a ‘não ser que os conservadores quando foram derrotados pela Frente Popular em 1936 estavam no Poder por vias legais e por isso a «consternação total» a que chegaram não se deve a perderem as esperanças sobre a via eleitoralista de acesso ao poder - a Guerra Civil tem outras explicações).
No que se refere a comentários, encontro no seu artigo algumas imprecisões de maior ou menos ‘significado a que me irei referir. Trata-se de opiniões sobre os sectores que apelida «nacionalistas», relações entre eles e de um juízo sobre as consequências da Guerra Civil com que termina o artigo.
1.° «Provendo à consolidação das suas estruturas de combate, as direitas em peso tratam, então, de fundir em denominador comum, todo um leque de formações partidárias [carlistas, monárquicos de Calvo Sotelo, agrários, CEDA, Falange] matizados nas ideias mas convergentes nos propósitos e solidário nas intenções» (pág. 16).
Juntar a Falange das J. O. N. S. aos carlistas apesar das diferenças ideológicas e da nula actuação unitária entre ambos, mas pelo respeito que aquela tinha por estes pelo seu «desinteresse exemplar» (1), ainda vá lá. Agora, com Sotelo - que ao ver recusada a sua intenção de ingressar na Falange, funda o seu grupo partidário - ,com os «agrários» - o Rodrigo Emílio já terá lido os textos de José António sobre reforma agrária? -, com a CEDA - dos senhores Calzada e Gil Robles -, com todos esses nem as ideias, nem os propósitos, nem as intenções eram comuns.
As posições da Falange sobre as «jogadas de xadrez nacionalista» são bem conhecidas. A palavra a José António: «E as direitas? As direitas invocam grandes, coisas: a pátria, a tradição, a autoridade...; mas também não são autenticamente nacionais. Se o fossem, não esconderiam sob as grandes palavras um interesse de classe» (2).
2.° «... de um lado, a. Frente Popular, abrangendo todos os partidos de esquerda; do outro, a Frente Nacional, poderosa coligação das direitas» ‘(pág. 17).
Para além do que já foi dito atrás, importa frisar directamente a inadequação do termo Frente Nacional para apelidar a coligação das forças reaccionárias espanholas para o processo eleitoral de 1936. Volto a citar José António, num passo relativamente extenso, mas que me parece fundamental para se ver bem as condições de uma Frente Nacional: «Contra o perigo bolchevista há que formar, não a frente anti-revolucionária - dado que Espanha precisa de uma Revolução -, mas a Frente Nacional, delimitada pelas seguintes exclusões e exigências:
1 - Exclusões: a nossa geração, a quem compete a responsabilidade de solucionar a presente crise do mundo, não pode sentir-se solidário:
a) Por razões históricas, com os que queiram ocultar sob a bandeira nacional nostalgias reaccionárias por fórmulas ultrapassadas ou sistemas económico-sociais injustos.
b) Por razões éticas, com os que estejam habituados a viver politicamente num clima corrupto.
2 - Exigências. A Frente Nacional terá de se propor:
a) A devolução ao povo espanhol de uma nova fé na sua unidade de destino e uma firme vontade de ressurgimento.
b) A elevação para nível humano da vida material do povo espanhol.
A primeira exige uma revitalização dos valores espirituais, sistematicamente relegados ou deformados durante muito tempo e, sobretudo, a insistência nesta concepção de Espanha como expressão de uma comunidade popular com um destino próprio, diferente do de ‘cada indivíduo, classe ou grupo, e superior a eles. A segunda - isto é, a reconstrução económica da vida popular, indispensável nesta época de liquidação da ordem capitalista -exige urgentemente:
a) uma reforma creditícia que chegue até à nacionalização do serviço de crédito, em benefício do conjunto da economia;
b) uma reforma agrária que determine, em primeiro lugar, as áreas cultiváveis de Espanha (as actuais e as
e as possíveis com melhoria de técnica), entregue à floresta e à pastorícia tudo o que esteja fora delas e instale nelas revolucionariamente (isto é, com ou sem indemnizações) a população campesina espanhola, ou em unidades familiares ou em grandes culturas em regime sindical, conforme a natureza das terras.
Tudo o que não seja aceitação sincera e austera de um programa assim, com tudo o que implica de sacrifício, não terá nada a ver com uma verdadeira posição contrária ao bolchevismo - mas será apenas uma tentativa igualmente materialista, e além do mais inútil, para conservar uma ordem social, económica e histórica, já [ferida de corte» (3). E de tal modo a coligação não obedecia a estas condições que a Falange se apresentou às eleições solitária, não aderindo à Frente anti-revolucionária.
3.° «Ao cabo de três anos de trágica grandeza, a pátria espanhola recobrará, enfim, o seu glorioso destino de nação «una, grande y libre». E de entre escombros, ressurgirá então, exangue mas desperta, a imagem restituía da Espanha eterna.» (pág. 17).
A beleza literária deste final coincide com a mais contestável das suas afirmações. De facto, nela se denota um dos maiores riscos com que depara o pensamento nacional-revolucionário - considerar que uma revolução (ou pseudo-revolução) política significa por si só a alteração do «statu-quo». Nessa convicção se criam as condições para a traição aos princípios. Pedindo desculpa de me citar, diria que a «descontinuidade política apenas serviu para camuflar a continuação de um sistema - sócio-económico que se julgava alterado» (4). Ainda, no caso concreto, de a utilização das fórmulas nacional-sindicalistas sem as alterações estruturais que as justificam ter contribuído para o fortalecimento de um poder de classe, na lógica da situação anterior a 1936. O franquismo foi - e é - indubitavelmente, uma traição aos princípios. Esquecê-lo é abrir a porta a todos os compromissos. Nisso, ao menos, sejamos claros.
4.° Numa síntese final a todas as críticas que faço ao seu artigo, queria frisar que este enferma de um defeito de estratégia que os nacionalistas revolucionários muitas vezes cometem: a atracção pelas coligações, pelas alianças. É com a plena consciência do erro de queimar etapas, e de que não estão criadas as condições para a total oposição às coligações, que lembro que a percepção perfeita das divergências em relação aos sectores nacionalistas conservadores - sobretudo, mas não só, a nível social - é condição sine qua non para que a coligação conjuntural não seja uma cedência, mas um passo em frente. A total maleabilidade táctica implica uma estratégia global que se baseia também no estudo da história. Daí um dos motivos da importância de experiência falangista e, também, a razão desta carta, escrita a pensar nos dias de hoje.
E é tudo. Aceite um abraço de unidade onde vai a admiração do
José Miguel Alarcão Júdice
Coimbra, 29/9/73
Coimbra, 29/9/73
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(1) «José António Primo de Rivera» - Colecção Antologias – Cooperativa Cidadela - pág. 211.
(2) Idem - pág. 233.
(3) Idem - págs. 127-129.
(4) Idem - pág. 48.
(2) Idem - pág. 233.
(3) Idem - págs. 127-129.
(4) Idem - pág. 48.
in, POLÍTICA
II SÉRIE: N.ºs 22-23 – 15 de Outubro a 15 de Novembro de 1973
página 27 e página 39
II SÉRIE: N.ºs 22-23 – 15 de Outubro a 15 de Novembro de 1973
página 27 e página 39
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