\ A VOZ PORTALEGRENSE: Sílvio Vieira Mendes Lima

sábado, janeiro 06, 2007

Sílvio Vieira Mendes Lima

No Aniversário da Sua Morte
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Sílvio Lima e Adriano Moreira
em Carregal do Sal (Beira Alta)
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Sílvio Vieira Mendes Lima nasce em Coimbra, a 5 de Fevereiro de 1904. Após os estudos primários, matricula-se no Colégio de S. Pedro, conhecido pela "Universidade de S. Pedro" devido à excelência do curso que ministrava, onde concluiu o curso secundário. Depois de uma curta passagem pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, que considera um erro de orientação profissional, matricula-se na Secção de Ciências Históricas e Filosóficas da Faculdade de Letras.
Escreve o seu primeiro trabalho de investigação, em 1927, tema de dissertação para licenciatura, "Ensaio sobre a ética de Guyau nas suas relações com a crise moral contemporânea". É uma tese sobre a problemática filosófica e ética, elaborada em França, onde anteriormente estivera a frequentar cursos de férias da Universidade de Toulouse e de Paris.
O exame de licenciatura realizou-se em 9 de Julho de 1927, com aprovação final do júri de "muito bom com dezanove valores". É convidado pelos Professores Joaquim de Carvalho e Gonçalves Cerejeira, em nome do Conselho Escolar, a seguir a carreira docente universitária.
Começa a elaborar a dissertação de doutoramento. Primeiro em Paris (Sorbone), onde frequenta na Faculdade de Letras vários cursos e no Instituto Católico aulas sobre temas de Psicologia Profunda, a complexa problemática da vida do inconsciente, com o Professor Georges Dwelshauvers. Em seguida, em Genebra, no Instituto Jean Jacques Rousseau frequenta um seminário psicopedagógico, sobre a orientação dos Professores Eduardo Claparède e M.me Antipoff.
Defende a sua tese de dissertação doutoral "O problema da recognição - estudo teórico-experimental", em provas de exame nos dias 29 e 30 de Janeiro de 1929. Aprovado com dezanove valores, recebe as insígnias doutorais em cerimónia de investidura oficial, na Sala dos Capelos, a 29 de Junho de 1929.
Começa uma brilhante carreira. Primeiro como professor auxiliar de Ciências Filosóficas, em 1931 rege a cadeira de Psicologia Escolar e Medidas Mentais na Secção de Ciências Pedagógicas, e, em 1957, a regência teórica da disciplina anual de Teoria da História, criada pela reforma da Faculdade de Letras.
Em 1930 publica as "Notas críticas ao livro do Sr. Cardeal Cerejeira «A Igreja e o pensamento contemporâneo»", estudo de carácter cientifico-filosófico. O "Amor místico - Noção e valor da experiência Religiosa", primeiro volume de uma série de que estavam previstos mais dois, aparece em 1935 como dissertação para o concurso de professor extraordinário efectivo.
Entre 1935 e 1942, Sílvio Lima está afastado da carreira docente e neste período colabora em jornais e revistas, e escreve: Em 1936 "Quatro cartas sobre o Idealismo", dedicadas a Raul Proença. Uma trilogia sobre o desporto, "Ensaios sobre o desporto" (1937), "Desporto jogo e arte" (1938), "Desportismo profissional" (1939). "Serão luxos a ciência e a arte?", ensaio de reflexão analítica, em 1940, onde cultura é «luxo» de espírito puro «que exalta e dignifica a arte e a ciência, a filosofia e a justiça», distinguindo judiciosamente cultura de civilização. Publica em 1943, o ensaio crítico "O determinismo, o acaso e a previsão na história".
A convite do Prémio Nobel André Gide, estuda a problemática do ensaio e do espírito ensaístico em "Ensaio sobre a essência do ensaio" (1944), estudo que no juízo de António Sérgio, é «a obra mais lúcida e de maior acerto acerca da natureza da literatura ensaística em Portugal». Edita "Normal, anormal e patológico" (1947), a que chamou «exame analítico de microscopia conceitual». "A Psicologia em Portugal" (1950), panorama-síntese, histórico e cultural das principais correntes científicas e psicológicas surgidas em Portugal desde os primórdios do séc. XIX até à actualidade. Em 1952 "Cérebros electrónicos e cérebros humanos: psíquico, psicológico e cibernético", como resultado da sua intervenção no "Curso livre de Psicologia Médica", em Lisboa. "Reflexões sobre a consciência saudosa", em 1955. No 1º centenário da morte de Augusto Comte, ano de 1957, "Comte, o positivismo e a Psicologia".
Professor de raras qualidades pedagógicas marca o ensino na Faculdade de Letras pela sua viva inteligência e espírito crítico sempre desperto. Sem excesso de erudição, era exímio em criar um clima mental e transmitir um espírito, o espírito crítico e científico, a exigência de rigor, o respeito pelos factos. É um Homem que percorre o século XX com uma atitude de acção e pensamento para o futuro, com o privilégio de ter a Razão antes do Tempo.
Faleceu em Coimbra, o Professor Doutor Sílvio Lima, a 6 de Janeiro de 1993, passam hoje catorze anos.
Mário Casa Nova Martins