\ A VOZ PORTALEGRENSE: Diamante de Sangue

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Diamante de Sangue

Blood Diamond
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ESTREIA ‘Diamante de Sangue' de Edward Zwick

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Os diamantes são o inferno
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Leonardo DiCaprio, Jeniffer Connelly e Djimoun Hounsou são os intérpretes desta fita rodada em Moçambique, com fotografia de Eduardo Serra. Entre a aventura e a “mensagem"
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Eurico de Barros
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Os filmes ocidentais ambientados em África vêm inevitavelmente aparelhados com uma mochila de má consciência pós-colonial, um sermão edificante em kit pronto-a-usar e um manual de condenação de uma actividade nociva às populações autóctones, por parte de governos, companhias ou entidades europeias ou americanas, que para o efeito manipulam ou corrompem governos, movimentos ou entidades locais.
Diamante de Sangue, de Edward Zwick, passa-se na Serra Leoa dos anos 90 (foi rodado em Moçambique, com Eduardo Serra na áspera direcção de fotografia), dilacerada pela guerra civil e pelo tráfico de diamantes, e cumpre escrupulosamente com todos aqueles requisitos. Mas quando não está ocupado a denunciar a pilhagem do país pelos negociantes de pedras preciosas com o auxilio de milícias canibais, a desumanidade do recrutamento e (de)formação de crianças-soldado, e a insensibilidade dos mercenários contratados por aquelas para "limpar a casa", Diamante de Sangue revela-se um filme de acção bastante potável e convincentemente realista. Sem a carga "empenhada" e a ultraviolência contemporânea, até podia ser uma daquelas aventuras exóticas dos anos 50 e 60.
Leonardo DiCaprio está muito aplicado no papel do anti-herói cínico (aqui, um mercenário sul-afrieano com um passado familiar trágico e a escola da sobrevivência toda), Jennifer Connelly interpreta a consciência com carinha laroca (uma jornalista com "causa") e Djimoun Hounsou personifica o nativo "nobre" (um pescador a quem tiram o filho e separam da restante família).
Zwick é muito bom a filmar o caos, as carnificinas e a brutalidade cerrada da guerra civil na Serra Leoa, dos revoltosos que debitam arengas "revolucionárias" enquanto mutilam civis a torto a direito, até à resignação das populações para as quais os diamantes, em vez de eternos, são o inferno, passando pela figuração esbaforida dos media internacionais. É pena que o mensageiro se meta tantas vezes na frente do realizador, e o substitua no final.
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Eurico de Barros
'Diamante de Sangue' ..
. péssimo . mau .. razoável ... bom .... muito bom ..... Excelente
in, 6ª DN - 26 JANEIRO 2006