Gazetas da Restauração (1641-1648)
O primeiro jornal português em livro
Do poder à informação
Paula Mourato
Quem quiser conhecer o "bisavô" do Diário de Notícias e de outros exemplos da imprensa periódica portuguesa tem disponível desde ontem em livro as Gazetas da Restauração, de Eurico Gomes Dias.
Distribuído pela livraria Almedina, é uma publicação integral daquelas que são vulgarmente conhecidas como "o primeiro jornal português". Na verdade, alguns anos antes foram publicadas pequenas relações avulsas, mas este é o primeiro periódico com continuidade, cadência e formatação ideológica. Com um conteúdo-base bélico, se fosse editado hoje seria um jornal de guerra ou uma revista militar.
Até agora as Gazetas encontravam-se apenas no seu original, nos acervos públicos. Nas 620 páginas do livro, apresentado ontem no Ministério dos Negócios Estrangeiros, encontram-se compiladas, organizadas, indexadas e analisadas. Foi ano e meio de trabalho para recuperar toda a informação com mais de 300 anos. "Lendo as Gazetas percebe-se o que se passou na Restauração de 1640 e o papel de Portugal no contexto europeu da guerra dos 30 anos", explicou ao DN o autor, que considera a publicação uma "ferramenta de trabalho" para futuras investigações. Apesar de se classificar como "aspirante a historiador", com apenas 30 anos Eurico Dias já publicou outras obras de cariz histórico.
Este livro, cujo título completo é Gazetas da Restauração [1641-1648] - Uma Revisão das Estratégias Diplomático-Militares Portuguesas, foi além da transcrição de documentação antiga. À reprodução acrescentou análise - um estudo de introdução, complementado por apresentações de Armando Marques Mendes e João Luís Lisboa.
Quanto à cópia, "está igual ao original, respeitando as formatações, a paginação antiga, inclusivamente houve a preocupação de encontrar um tipo de letra próximo do original". A edição fac-similada é um "desejo" que guarda para mais tarde.
As Gazetas da Restauração foram publicadas mensalmente, desde Novembro de 1641 até Setembro de 1648. Cedo se percebeu o poder da informação e da contra-informação, notado já nas edições periódicas francesas, nomeadamente na Gazeta Francesa.
As Gazetas da Restauração foram publicadas mensalmente, desde Novembro de 1641 até Setembro de 1648. Cedo se percebeu o poder da informação e da contra-informação, notado já nas edições periódicas francesas, nomeadamente na Gazeta Francesa.
Para o autor, a importância deste periódico é "fundamental por ser um órgão informativo do governo de D. João IV e a sua legitimação perante o público, ainda que restrito", uma vez que a maioria da população era iletrada. "Embora seja uma gazeta nacional, todas as indicações bibliográficas dizem que estava muito restrita à circulação na capital", adiantou.
O seu preço, alto para a bolsa comum, variava entre seis, oito e 12 reis.
Este órgão periódico é então a imagem de marca da nova dinastia que se quer afirmar no contexto nacional e internacional. Lá estão as decisões militares da nossa guerra da independência. E, quando a dada altura se deixa de publicar notícias sobre o que se vai passando com Espanha, para dar atenção à europeia guerra dos 30 anos, "esse interesse não foi inocente.
Foram 28 anos difíceis de guerras... não convinha que se soubesse quantas baixas tínhamos nas fronteiras ", indicou Eurico Gomes Dias.
Essa censura começa a estabelecer-se com a desculpa da falta de veracidade das notícias, dirigindo o olhar de quem lia para a situação internacional. Recorde-se que a liberdade de imprensa, no século XVII, não estava só vinculada ao aparelho de Estado, mas também ao aparelho religioso, designadamente à Inquisição.
Não se sabe ao certo quem as escreveu, há indicações de que um dos autores é frei Francisco Brandão, homem próximo de D. João IV e cronista-mor do reino. Mas as Gazetas da Restauração não relatam apenas guerras ou incidentes diplomáticos, "há certas curiosidades históricas... refere aquilo que hoje chamaríamos de ovnis, brigas de rua ou execuções... um pouco da realidade portuguesa", do século XVII, disse.
Não se sabe ao certo quem as escreveu, há indicações de que um dos autores é frei Francisco Brandão, homem próximo de D. João IV e cronista-mor do reino. Mas as Gazetas da Restauração não relatam apenas guerras ou incidentes diplomáticos, "há certas curiosidades históricas... refere aquilo que hoje chamaríamos de ovnis, brigas de rua ou execuções... um pouco da realidade portuguesa", do século XVII, disse.
Nessa altura não circulavam só notícias impressas mas também manuscritas, até com maior circulação do que as primeiras, pois escapavam à censura, tornando-se um retrato mais fiel daquela época.
Desengane-se quem confunde as Gazetas da Restauração com o actual Diário da República. Este tem outro antepassado: a Gazeta de Lisboa, com início quase 70 anos depois.
in, Diário de Notícias, 4/12/2006
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