\ A VOZ PORTALEGRENSE: Marcelo Rebelo de Sousa e o Chile

segunda-feira, setembro 11, 2006

Marcelo Rebelo de Sousa e o Chile

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O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Marcelo Rebelo de Sousa.


O Sr. Marcelo Rebelo de Sousa (PPD): - Srs. Deputados: Foi há dois anos! Foi há dois anos, no Palácio de La Moneda, que com a morte de Salvador Allende terminou, às mãos do fascismo e do imperialismo, a curta experiência do Governo de Unidade Popular Chileno. As últimas palavras do Presidente Allende calam fundo na lembrança de todos os democratas: «Tenho fé no Chile e no seu destino. Outros homens ultrapassarão este momento cinzento e amargo, onde a traição pretende impor-se. Fiquem sabendo que, muito mais cedo que tarde, se abrirão as grandes avenidas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor.» Dois anos depois, nós, os Deputados do PPD, queremos aqui manifestar o nosso testemunho de profundo respeito pelos ideais da construção do socialismo, da vivência da democracia pluralista e da defesa da independência nacional, que estiveram na base do governo de Allende. De um governo constitucional livremente eleito e legitimamente fundado na vontade do povo chileno.


Vozes: - Muito bem!


O Orador: - Cada um de nós poderá formular um juízo de valor próprio - mais ou menos positivo, mais ou menos negativo - acerca da prática política do Governo de Unidade Popular da fidelidade que revelou aos ideais que presidiram à sua criação. Mas todos estaremos de acordo no reconhecimento da inequívoca estatura moral de Salvador Allende, bem como da pureza dos ideais de transformação económica, social, política e cultural que animaram tantas das forças políticas e dos militantes democratas e progressistas componentes da Unidade Popular. Nós, Deputados do PPD, recordamos em particular os militantes dos Partidos Social-Democrático e Radical, que lutaram e continuam a lutar por um Chile socialista, democrático e livre do jugo dos imperialismos.


Vozes: - Muito bem!


O Orador: - No momento que vivemos em Portugal uma gravíssima crise político-militar, de que são sinais preocupantes tantos dos recentes acontecimentos ocorridos em Portugal, em Timor e em Angola, o exemplo do Chile de Allende, salvaguardadas as condições específicas de cada uma das experiências, dá-nos uma dupla lição. A lição da resistência tenaz e permanente contra o fascismo e os imperialismos, pelo socialismo, pela democracia pluralista, pela efectiva independência nacional. A lição da denúncia de quantos, afirmando-se embora democratas e progressistas, pelos 'seus actos e omissões, pelo seu golpismo doentio, pela sua estratégia de «quanto pior melhor», abrem voluntária ou involuntariamente caminho às forças da contra-revolução. Dois anos depois seria trágico que a democracia em Portugal viesse a perecer às mãos de um qualquer regime autocrático e antidemocrático, criador de novas ou velhas formas de exploração e opressão. O PPD está e estará sempre do lado dos que lutam pacífica e democraticamente contra as opressões económicas e sociais, contra as ditaduras políticas e os imperialismos sedentos de subjugação nacional. Sr. Presidente, Srs. Deputados: Termino como comecei com as últimas palavras de Salvador Allende: «Estas são as minhas últimas palavras, estando certo de que o sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma sanção moral que castigará a felonia, a cobardia e a traição.»


Vozes: - Muito bem!


O Orador: - O Chile socialista, democrático e livre vencerá!
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in, Diários da Assembleia Constituinte
Número 045
Data da Sessão 1975-09-11
Data do Diário 1975-09-12
Páginas do Diário 1271 a 1304
Página 1277
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Trabalho de pesquisa realizado por Francisco Múrias, e publicado no seu blog O Povo (http://wwwideia.blogspot.com/), na quinta-feira dia 24 de Agosto de 2006. Francisco Múrias intitulou-o ‘O Chile socialista, democrático e livre vencerá’.