Convento de Santa Clara de Portalegre - V
DOS
MONUMENTOS ÀS PESSOAS - V
O Distrito de Portalegre, N.º 5786, 18 de Junho de 1982
O
Convento de S.ta Clara
Um
pouco da sua história
Iniciamos este apontamento com uma rectificação que
se impõe.
Ao indicarmos os nomes da Comissão Executiva que
iniciou as obras de demolição, no Convento de Santa Clara, encabeçamo-la com o
Dr. Damião do Rio. Simplesmente que este elemento da Comissão, que, nela,
aliás, desempenhava as funções de Presidente, por razões que talvez se possam
adivinhar, apenas, durante um mês, compareceu às reuniões. As actas dão-nos
conta das suas sucessivas escusas e, após esse mês, não mais aparece. Para isto
fomos alertados por uma das actas da «Associação de Protecção e Amparo de Nossa
Senhora das Dores», em que o seu nome figura como entre os benfeitores da
«Obra»: Aqui fica a rectificação que se impunha.
Depois de nos referirmos, de um modo geral, ao
Convento de Santa Clara e de indicarmos as datas da sua fundação e da extinção
das Ordens Religiosas em Portugal, e antes de nos determos um pouco sobre as
duas figuras, para nós, as maiores, ligadas à história deste Convento - a
Abadessa Soror Isabel do Menino Jesus, no séc. XVII, e a Senhora D. Olinda
Heitor Esperança Sardinha, no séc. XX - vamos tentar fazer um bosquejo, a
partir das actas de que dispomos, da história da «Obra» que no Convento se
implantou, no seguimento da morte da última religiosa e ainda em vida das
últimas Senhoras que, ali, se iam acolhendo, transformando o Convento como que
num lar da terceira idade.
Depois de vencida a batalha, em que a Câmara teve
que ceder, as zonas menos degradadas do Convento foram ocupadas pela Associação
a que acima nos referimos. A razão triunfou, com a aplicação do imóvel a um fim
urgente e bem louvável.
Aqui registamos uma das cartas de apoio de destacada
figura da cidade à Senhora D. Olinda Sardinha, na hora decisiva da luta que se
impôs pela cedência do Convento. É do Senhor Capitão Fernando Zangarrilho
Garção. É do seguinte Teor:
«Ex.mª Sr.ª D. Olinda Sardinha
Acabo de vir da casa do Ex.mº Governador Civil onde
fui para o prevenir do que se passava e lhe pedir as enérgicas providências que
o caso requeria.
Alvitrei que - se fora eu – oficiaria ao dg.
comissário da polícia mandando que à força afastasse do convento os
trabalhadores e evitasse o prosseguimento da demolição. Sua Ex.ª prometeu dar
as providências necessárias e eu retirei-me convencido de que realmente assim sucederia, mas se por acaso a
demolição for por diante levarei o meu protesto por forma a pensar ainda, mas
do que fará parte a demissão de membro da Junta Geral do Distrito
É tudo quanto se me oferece dizer a V. Ex.ª.
Disponha V. Ex.ª do meu mais que humilde préstimo, rogando se digne aceitar os
meus respeitos.
De V. Ex.ª - segue-se a assinatura».
Conseguido o Convento para sede, e a colaboração da
Senhora D. Luiza Andaluz - que vivia em Santarém - outra alma grande que
agrupara um escol de Senhoras abertas a este apostolado, lança mãos à obra,
que, através de algumas actas podemos acompanhar desde o berço.
Aqui deixamos a primeira:
«Acta da Sessão de dezoito de Março de 1927»
«Aos dezoito dias do mês de Março de mil novecentos
e vinte e sete, nesta cidade de Portalegre e Casa da Ex.ma Sr.ª D. Olinda
Heitor Esperança Sardinha, compareceram as Ex.mas Sr.ªs D. Olinda Heitor
Esperança Sardinha, D. Palmira Leite de Figueiredo Sampaio. D. Victória da
Conceição Gomes Trindade, D. Maria do Céu Cordeiro Lourinho e eu Antónia Maria
Panasco Pires de Lima eleitas respectivamente, presidente, vice-presidente,
directoras e secretária da Associação de Protecção e Amparo de Nossa Senhora
das Dores, para cujos cargos foram eleitos na Assembleia Geral a treze deste
mês, faltando por motivos justificados, a tesoureira D. Rita Trindade Henriques
e a directora D. Glória Parreira Pereira.
Pela presidente foi declarada instalada a direcção,
tomando cada uma conta dos seus cargos.
Seguidamente pela presidente, foi dada conta de
alguns passos que estão sendo dados para conseguir casa onde se instale o
Colégio destinado à execução da obra desta Associação e pedido à directora D.
Victória da Conceição G. Trindade para obter o auxílio de seu marido Ex.mº
Governador Civil para apoiar a ideia que começava a pôr-se em marcha.
Por proposta da presidente foi designado para as
sessões ordinárias o dia treze de cada mês pelas catorze horas podendo
realizar-se também sessões extraordinárias. Pela mesma presidente foi entregue
a quantia de cem escudos, oferta para os cofres da Associação dada pelo Ex.mº
Sr. Dr. Jerónimo Sampaio e outros cem escudos por seu marido o Ex.mº Sr. Dr.
Laureano Sardinha, dez escudos oferta da Ex.mª Dr.ª D. Conceição G. Trindade e
vinte escudos da Ex.mª. Sr.ª D. Ana Sardinha.
Não havendo mais a tratar, a presidente encerrou a
sessão da qual, para constar, se lavrou a presente Acta que vai devidamente
assinada depois de aprovada. E eu Antónia Maria Panasco Pires de Lima que a
escrevi e assino.
Olinda Heitor Esperança Sardinha, Palmyra Leite de
Figueiredo Sampaio, Victória da Conceição Jónas Trindade, Maria do Céu Cordeiro
Lourinho, Antónia Maria P. Pires de Lima».
No próximo apontamento transcreveremos a acta n.º 2,
aonde consta a oficialização da entrega do Convento de Santa Clara à
«Associação de Protecção e Amparo de Nossa Senhora das Dores» e a designação
das pessoas que contribuíram para que tal se conseguisse, expressando-se-lhes,
ainda profunda gratidão. Mas esta acta, só por si justifica um especial
apontamento.
Padre Anacleto Martins
_______.
Convento de Santa Clara de Portalegre - I I
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Convento de Santa Clara de Portalegre - III
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Convento de Santa Clara de Portalegre - IV
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Convento de Santa Clara de Portalegre - V
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