António Martinó de Azevedo Coutinho
VII – Almaraz, tanto fez como tanto faz!?
A prática normal da comunicação/informação encontra muitos obstáculos, mesmo em plena vivência democrática. Basta contabilizarmos a quantidade impressionante de provedores do espectador/leitor que por aí abundam...
Já nem sequer falo dos segredos em voga, segredo de Justiça, sigilo bancário, segredo de Estado, sigilo deontológico, segredo de confissão...
Aqui, provavelmente, impera o segredo nuclear. Em vez duma informação transparente, que anule os boatos, que corrija as meias verdades, que denuncie as meias mentiras, que nos avise, nos tranquilize ou nos assuste, enfim, que seja autêntica, em vez disso preferem os responsáveis (!?) manter um prudente silêncio.
O resultado está à vista...
Já dei conta da minha inclinação, já relatei as minhas perplexidades e as minhas dúvidas. Falta dizer que fiz muitas outras consultas, procurando um fio condutor, um esclarecido e inequívoco testemunho que me ajudasse a perceber e a ajudar a perceber.
Encontrei alguns textos e, sobretudo, registos vídeo muito interessantes. Podia facilmente promover a iniciativa de que fossem aqui reproduzidos mas, reflectindo sobre os seus conteúdos, díspares, flagrantemente alarmistas alguns, sonolentamente tranquilizantes outros, preferi a alternativa de uma mais livre e personalizada modalidade: a de deixar a cada interessado o risco e a responsabilidade dessa pesquisa e/ou consulta, partindo de lógico princípio de que os leitores deste blog têm fácil acesso ao vasto manancial do YouTube.
Nos arquivos do SAPO, da RTP ou da SIC, existem também registos de reportagens ou simples blocos de noticiários alusivos ao tema ALMARAZ. Nos arquivos mais antigos, mas sobretudo na actualidade, aguçada pela tragédia do Japão, as centrais nucleares voltaram a ser assunto com interesse imediatista.
Não resisto, no entanto, a deixar aqui uma sugestão concreta: entre todo o vasto material que vi e ouvi com a maior atenção, destaco uma série de seis videogramas contendo uma reportagem levada a cabo pela cadeia de televisão espanhola TeleCinco, intitulada Diario de... una amenaza (centrales nucleares). É este o preciso texto a colocar na caixa de pesquisa do YouTube. Trata-se duma corajosa, sugestiva e imparcial reportagem, concretizada pela jornalista Angela Izcara e pela sua equipa, embrenhadas nas profundidades e riscos de um tema complexo, onde procuraram colher testemunhos de todas as partes, opositores e defensores do projecto, vítimas e beneficiários, autarcas, cientistas, autoridades, operários, universitários e o próprio responsável máximo pela central nuclear de Almaraz...
Ao longo de cerca de uma hora, num relato denso e fascinante, por vezes quase obsessivo, a jornalista percorre e faz-nos percorrer locais como as próprias centrais, um cemitério nuclear, oficinas, residências, hospitais, repartições públicas, ruas e campos, em suma, todo um mundo repartido entre Garoña e, sobretudo, Almaraz.
Enfim, depois, que cada um decida por si.
Tenho para mim, concluindo, uma firme opinião. Prefiro viver na inquietação, avisado até aos limites da verdade, do que permanecer tranquilo e logo sossegadamente morto, antes do tempo.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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