Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO – XXV
Do ser estudante ao ser solidário
A designação de Associação da fundação estudantil para a cidade nada nos diz, a não ser de que deve tratar-se de algo relacionado com estudantes. Pois bem, esta Associação, criada em França em 1991 por três estudantes, nasceu do desejo de lutar contra as desigualdades nos bairros populares e de estabelecer uma ligação entre dois tipos de juventudes que não se encontravam. Por um lado, existiam crianças e jovens com dificuldades escolares ou sociais e, muitas vezes, excluídos das possibilidades que a sociedade de hoje oferece; por outro, havia estudantes com acesso à informação, à cultura e à mobilidade e que desejavam colocar os seus conhecimentos ao serviço dos mais desfavorecidos.
Assim nasceu a Afev, uma associação constituída por 7.500 estudantes que intervêm sobre 10.000 crianças e jovens (números de 2009). A acção desta organização estudantil francesa de voluntariado social concentra-se no acompanhamento individualizado, um projecto que reúne um estudante e uma criança ou adolescente, numa abordagem educacional não formal. Os voluntários da Afev podem também investir em projectos colectivos, promovendo essencialmente as noções de cidadania e de solidariedade.
Estes estudantes voluntários, em colaboração com a escola pública, trabalham em ligação com os professores e directores dos estabelecimentos os quais sinalizam as crianças e os jovens com necessidades de acompanhamento. Mais de 280 cidades estão associadas ao projecto da Afev e cerca de trinta universidades reconhecem o valor do trabalho dos seus alunos neste projecto.
O princípio deste apoio individualizado consiste em um estudante ajudar um aluno com dificuldades, durante duas horas, no domicílio deste. Estes acompanhamentos são feitos na presença de, pelo menos, um dos pais. O contacto com a família, em contextos sociais por vezes muito difíceis, pode contribuir para fazer compreender melhor o funcionamento da escola. O apoio prestado centra-se nas dificuldades da criança ou adolescente e nas suas necessidades; por isso, ele ultrapassa o quadro meramente escolar, abordando questões como a motivação, a confiança em si, a abertura cultural…
Eis, pois, um projecto que é, simultaneamente, cultural e de solidariedade que poderia servir de inspiração para as associações de estudantes das nossas escolas superiores. Ensinando os outros, talvez se ganhasse em sabedoria e se aprendesse a ser um cidadão mais consciente das suas capacidades e limitações.
Mário Freire
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