Mário Silva Freire
CRÓNICAS DE EDUCAÇÃO
O computador e o aluno do 1º ciclo do ensino básico
Leio num artigo de Fevereiro passado da Visão que a escola EB1 de Várzea de Abrunhais, nos arredores de Lamego, é uma das melhores do Mundo a aplicar as novas tecnologias na aprendizagem. O artigo desperta-me a curiosidade o que me leva a consultar o blog da escola. Verifico, então, desde Março de 2009, que as crianças, utilizando o computador Magalhães, têm feito alguns trabalhos. E que espécie de trabalhos? Essencialmente vídeos (em que vários desenhos infantis ilustram as histórias contadas pelas próprias crianças), relatos de passeios ou visitas de estudo, comemoração do Dia da Mãe com desenhos feitos por crianças e texto dito, também, por elas, etc.).
Mas como no artigo citado se fala “numa das melhores do Mundo a aplicar as novas tecnologias na aprendizagem”, fiquei interessado em saber como, através do computador, se ensinaria, por exemplo, o cálculo ou a escrita, tarefas fundamentais no 1º ciclo e que, como é sabido, irão condicionar as aprendizagens futuras. Ora, só identifiquei, no mês de Janeiro do corrente ano, a ocorrência de uma história com um cheiro a Matemática, de 1 minuto, contada por uma criança do 3º ano em que um rectângulo, “depois de várias dobragens, transformou-se num quadrado e num triângulo e que deu esta linda estrela” de Natal. Não se mostram as diferentes dobragens que conduziram à estrela.
Sem pretender ser um velho do Restelo, julgo que o computador no 1º ciclo do ensino básico deveria ser utilizado na sala de aula com muita precaução e só em casos muito restritos.
Penso que não existe o propósito, entre os dirigentes educativos e os professores que utilizam o computador, de substituir, nos primeiros anos, a escrita manual pela que é feita através daquele instrumento. O treino da caligrafia traduz-se numa aprendizagem da coordenação motora fina que é fundamental para o desenvolvimento integral da criança. A escrita manual não está sujeita tão facilmente ao delete como a que é produzida no computador. E isto implica uma preocupação maior naquilo que se escreve, quando a escrita é manual do que quando é feita através do computador. Por outro lado, contendo corrector ortográfico, a escrita no computador é automaticamente corrigida sem que o aluno tome consciência dos erros que comete.
Por outro lado, tentar substituir a máquina de calcular pelo Magalhães, é incorrer nos mesmos erros e consequências que a introdução daquela trouxe ao ensino da Matemática: os alunos ficam incapacitados de adquirirem os automatismos de cálculo mental que os impede de realizar as mais elementares operações de aritmética, com consequências gravosas nas aprendizagens posteriores da Matemática e na escolha profissional.
O que pude verificar na escola acima referida, nada aponta para tal utilização do computador. Esperemos que por aí se fique! Não se perca, então, demasiado tempo com essas actividades; elas poderão contribuir para fomentar o espírito de grupo e suscitar o interesse e a alegria nas crianças. Mas se a escola tem que preparar para a vida, esta não é só feita das coisas que nos dão prazer, que aparecem perante muitos e que nos diminuem o esforço.
Mário Freire
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