Luís Pargana
DESABAFOS XV
A Crítica
A capacidade crítica é uma das maiores qualidades do ser humano mas, ao mesmo tempo, é um dos exercícios mais complexos e delicados da nossa vida em sociedade.
A capacidade de criticar e ser criticado é condição primeira para o desenvolvimento pessoal e para o progresso social, pois garante a capacidade de reflexão sobre as coisas e fundamenta as decisões que é preciso tomar.
Mas se a crítica já é difícil, a autocrítica é um exercício ainda mais complexo pela abertura de espírito que implica.
Vem esta introdução a propósito das recentes declarações do Bispo de Portalegre e Castelo Branco em resposta a um desafio que lhe foi feito, para partilhar as suas primeiras impressões sobre a Cidade onde está sediada a Diocese a que preside.
D. Antonino Dias, assim se chama o Bispo, podia ter declinado o convite. Ter-se remetido ao silêncio e guardar para si as suas opiniões. Mas não. Optou por falar com a obrigação inerente ao seu cargo: falou com verdade, pelo menos com a verdade do seu pensamento.
E falou também com a intenção própria do máximo representante da Igreja Apostólica Romana, em Portalegre: a de despertar consciências e provocar mudanças – a interpretação é minha, evidentemente.
É essa a missão da crítica e Antonino Dias exerceu-a, pelos vistos com sucesso, a avaliar pelas inúmeras reacções que provocou. Ninguém lhe ficou indiferente, com adesão ou rejeição às suas palavras, as pessoas pensaram sobre o que ele disse e sobre o que outros disseram sobre ele.
Criticou e foi criticado. As suas palavras sobre Portalegre fizeram pensar. Fizeram descobrir coisas que todos víamos mas que poucos reparavam. Ajudaram aqueles que olham de dentro a perceber como nos vêem de fora. E aproxima-nos da realidade.
Sendo um homem da Igreja, D. Antonino Dias não se limitou ao latim das homilias mas falou para as consciências dos homens sobre as coisas da terra, da nossa terra. As suas palavras cumpriram uma missão. Agora, espera-se que os actos dos homens cumpra a sua e aproveitem a crítica para ajudar a melhorar esta Terra que é a nossa e de quem todos gostamos muito.
Mas, se muito se falou sobre as palavras do Bispo, nada se fala sobre outros, que não falando, contribuem com os seus actos, para que tudo fique na mesma, sem esperança de progresso nem de desenvolvimento.
Mas, se muito se falou sobre as palavras do Bispo, nada se fala sobre outros, que não falando, contribuem com os seus actos, para que tudo fique na mesma, sem esperança de progresso nem de desenvolvimento.
É o caso do administrador de uma das empresas multinacionais que ainda permanecem em Portalegre, a Selenis, e que optou por instalar o seu gabinete de direcção num moderno edifício de escritórios do Parque das Nações, em Lisboa.
Para nosso mal, nunca expressou a sua primeira impressão sobre a Cidade onde labora a fábrica que dirige. Nem criticou, nem foi criticado. Deslocalizou o seu gabinete para Lisboa e agora fala-se na deslocalização de toda a fábrica, talvez para Sines, ou outro qualquer lugar do Mundo mais próximo do litoral e com mais oferta de trabalho.
Há silêncios que nos ficam caros. Muito caros!
E por falar em silêncios, termino com uma palavra, já de saudade, pelo desaparecimento de um jornal de referência na nossa Cidade: “O Distrito de Portalegre”. Parabéns a todos os que foram responsáveis pela sua publicação ao longo dos 126 da sua existência, e até um dia!
04/05/2010
Luís Pargana
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