\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

segunda-feira, maio 10, 2010

Luís Filipe Meira



Grande Auditório do CAEP

If You Wanna Know if you’ve written a hit,play it for kids
Monica Lynch

O Langley Scools Music Project nasceu no meio da década de 70, numa escola secundária de uma pequena comunidade rural do Oeste do Canadá. Este projecto animado pelo jovem professor de Educação Musical Hans Fenger surgiu com intuito de ocupar os tempos livres dos jovens estudantes cujas perspectivas culturais eram claramente limitadas. O projecto que recreava canções de Paul Mcartney, Beach Boys, Phil Spector ou David Bowie evoluiu, estendendo-se a outras escolas e chegando mesmo a gravar um LP pago pelos próprios estudantes, tendo a escola assegurado o pagamento dos royalties devidos pela utilização das canções de outrem. Em 2001 o vinil transformou-se em CD tendo recebido excelentes críticas e chegado à Europa.
Ora o tributo aos Beatles que alunos e professores da Escola de Artes do Norte Alentejano levaram ao palco do CAEP há pouco mais de uma semana, remeteu-me naturalmente para o projecto da Langley School com o qual tem óbvios pontos de contacto não só nas linhas mestras mas também na imensa alegria e vitalidade que os jovens cantores puseram nos dois projectos.
Naturalmente que entrei no grande auditório do CAEP com as expectativas em alta, afinal a EANA é a legitima herdeira do Conservatório Regional, escola de grandes tradições quer a nível docente quer discente. Assim um projecto destes estaria sempre condenado ao êxito e apenas poderia claudicar a nível logístico – o que ia acontecendo, pois houve apoios desbloqueados mesmo em cima da linha de partida – porque de resto a coisa rolaria, como veio a acontecer.
O espectáculo foi introduzido pelo Prof. António Marques que historiou o impacto dos Beatles nas transformações musicais e sociais ocorridas nos anos 60, seguindo-se o coro da Escola dirigido pela Profª Conceição Fryxell, acompanhado ao piano pela Profª Natalia Portillo e por um grupo constituido pelo Prof. Álvaro Dias no baixo, Prof. Filipe Máximo na guitarra, Miguel Gromicho também em guitarra e o músico convidado Sertório Calado na bateria. Este grupo atacou um meddley muito bem construído de 15 temas, sucessos inesquecíveis que incendiaram o publico que quase enchia o Gr. Auditório do CAE.
Na segunda parte entrou em cena a turma de orquestra que se juntou ao coro e ao grupo para mais sete canções, desta vez completas. Começaram com Hello Goodbye e terminaram em apoteose com Twist and Shout. Ficando para mim, When I´m Sixty Four e Blackbird como momentos brilhantes de um espectáculo muito bem preparado que decorreu sempre em nível elevado, mesmo na vertente audiovisual cuja responsabilidade foi do Prof. Jorge Gargaté. A exibição simultânea do filme Yellow Submarine foi uma feliz ideia.
Conclui-se pois que o formato funciona, haverá naturalmente – há sempre – arestas a limar, mas a coisa funciona. Sei que já se pensa em avançar para projectos com outras ambições e ainda bem. Agora há que tentar mobilizar a cidade e dar-lhe a conhecer que há valores próprios que urge descobrir. Portalegre é uma cidade madrasta – não só para os seus – que tem um claro problema grave de divulgação cultural. A mensagem não passa porque as rádios não funcionam e os próprios jornais têm demasiadas lacunas nesse campo. E depois... bem depois há também os que do alto das suas cátedras defendem que a actividade cultural tem que ser exercida com ar circunspecto e formal e é só para alguns predestinados. Os outros que se reduzam à sua insignificância... mas para esses só me resta manifestar-lhes o meu desprezo.
Este tributo aos Beatles demonstrou que a actividade cultural tem que ser viva, dinamica, divertida e participada. Quem assistiu ao apoteótico final do espectáculo em que artistas e público em comunhão perfeita, cantaram e dançaram ao som de Twist and Shout percebe bem onde eu quero chegar, os outros os que criticam o CAE sem nunca là terem entrado, não pertencem a este filme. Vivem ainda na época do cinema mudo e só merecem a nossa indiferença. Dali nunca virá nada de bom...
Na segunda parte entrou em cena a turma de orquestra dirigida pela Profª Dulcineia Guerra que se juntou ao coro e ao grupo.
Luís Filipe Meira