António Martinó de Azevedo Coutinho
Rolando Boldrin declama Cleide Canton
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ELES SENTEM VERGONHA. E NÓS ?
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Há dias, nas minhas divagações pela Net ainda por finais de 2009, encontrei uma curiosa polémica (http://www.youtube.com/watch?v=ERTmvOll87s). Um conhecido e apreciado declamador brasileiro, Rolando Boldrin, recitara publicamente um poema atribuído a Ruy Barbosa, jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador baiano de prestígio internacional.
Depressa se gerou uma discussão em torno da atribuição da autoria ao referido poema, vindo a verificar-se que, excepto a última estrofe -espécie de mote- tinha sido Cleide Canton, outra intelectual brasileira, a criadora da obra. Portanto, Ruy Barbosa concedera à poetisa apenas inspiração e nome para Sinto Vergonha de Mim.
E logo Rolando Boldrin, divulgado pela mesma tribuna pública -o You Tube-, repôs a objectiva verdade e o poema correu outra vez o Mundo, já devidamente asssinado. Transcrevo-o aqui com a devida vénia e, sobretudo, assumindo total concordância pessoal com o seu conteúdo. Atrevo-me mesmo a propôr a substituição do adjectivo “brasileiro” pelo adjectivo “português”, no terceto final, antes da inserção do mote original de Ruy Barbosa (aqui entre aspas), que Cleide Canton desenvolveu e aprofundou.
Desgraçadamente, a actualidade do tema revela-se rigorosa e pertinente, quando aplicada à generalidade da situação concreta deste pobre e maltratado Portugal, pelas incompetentes mãos dos que sucessivamente o têm (des)governado, antes e também depois da Revolução. Evoca-se ainda, pelas suas óbvias semelhanças -formal e de conteúdo-, o poema de Jorge de Sena intitulado A Portugal, publicado na obra póstuma 40 Anos de Servidão (1979). O mesmo saudoso desencanto, a mesma dor íntima, a mesma dura e impiedosa crítica e a mesma dolorida impotência pessoal percorrem ambas as criações.
Mais, quero a propósito penitenciar-me pelas oportunidades, que tenho perdido ou deixado passar em silêncio, de publicamente denunciar os descaminhos a que têm vindo a ser conduzidas tanto a minha Pátria como a minha Terra natal.
Depressa se gerou uma discussão em torno da atribuição da autoria ao referido poema, vindo a verificar-se que, excepto a última estrofe -espécie de mote- tinha sido Cleide Canton, outra intelectual brasileira, a criadora da obra. Portanto, Ruy Barbosa concedera à poetisa apenas inspiração e nome para Sinto Vergonha de Mim.
E logo Rolando Boldrin, divulgado pela mesma tribuna pública -o You Tube-, repôs a objectiva verdade e o poema correu outra vez o Mundo, já devidamente asssinado. Transcrevo-o aqui com a devida vénia e, sobretudo, assumindo total concordância pessoal com o seu conteúdo. Atrevo-me mesmo a propôr a substituição do adjectivo “brasileiro” pelo adjectivo “português”, no terceto final, antes da inserção do mote original de Ruy Barbosa (aqui entre aspas), que Cleide Canton desenvolveu e aprofundou.
Desgraçadamente, a actualidade do tema revela-se rigorosa e pertinente, quando aplicada à generalidade da situação concreta deste pobre e maltratado Portugal, pelas incompetentes mãos dos que sucessivamente o têm (des)governado, antes e também depois da Revolução. Evoca-se ainda, pelas suas óbvias semelhanças -formal e de conteúdo-, o poema de Jorge de Sena intitulado A Portugal, publicado na obra póstuma 40 Anos de Servidão (1979). O mesmo saudoso desencanto, a mesma dor íntima, a mesma dura e impiedosa crítica e a mesma dolorida impotência pessoal percorrem ambas as criações.
Mais, quero a propósito penitenciar-me pelas oportunidades, que tenho perdido ou deixado passar em silêncio, de publicamente denunciar os descaminhos a que têm vindo a ser conduzidas tanto a minha Pátria como a minha Terra natal.
António Martinó de Azevedo Coutinho
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SINTO VERGONHA DE MIM
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Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
enveredar pelo caminho da desonra.
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Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-mater da sociedade,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o “eu” feliz a qualquer custo,
com o “eu” feliz a qualquer custo,
buscando a tal “felicidade”
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
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Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
para reconhecer um erro cometido,
a tantos “floreios”
para justificar actos criminosos,
para justificar actos criminosos,
a tanta relutância em esquecer
a antiga posição de sempre “contestar”,
voltar atrás e mudar o futuro.
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Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
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Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo
que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
que não quero percorrer...
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Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.
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Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
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Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
tenho tanta pena de ti,
povo brasileiro!
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“De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto.”
Cleide Canton e Ruy Barbosa
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