\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

terça-feira, dezembro 22, 2009

Crónica de Nenhures

Amigos, conhecidos, e, os outros!…
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Este ano celebra-se os oitenta anos que o professor José Maria dos Reis Pereira chegou a Portalegre para leccionar no Liceu Nacional de Portalegre, onde ficou até à reforma em 1962.
Esta efeméride foi, de diversas formas, celebrada em Portalegre, por diferentes graus de ‘parentesco’.
Sabemos que se deve a António Martinó de Azevedo Coutinho a ideia de tal celebração, tal como sabemos que no ‘rescaldo’ dos actos públicos, ‘os do costume’, apresentando-se com um grau de parentesco muito ‘próximo’, ‘brilharam’ como só eles sabem.
O professor José Maria dos Reis Pereira não deixou, segundo o testemunho de Aurélio Bentes Bravo ao semanário Expresso, fortes recordações no seu múnus professoral. Por tal afirmação, Bentes Bravo foi na época alvo de acintosas contra-argumentações, com a particular curiosidade de as mais violentas virem de quem nunca fora Aluno de Reis Pereira, ao contrário de Bentes Bravo, e chegando-se mesmo ao ponto de gente que nem era nascida quando Reis Pereira faleceu opinarem com fluente quanto agressiva verve.
Que se diga que a generalidade dos ex-Alunos de Reis Pereira corroboram tudo o que foi dito ao jornal Expresso por Aurélio Bentes Bravo. E pode dar-se o seguinte exemplo acerca da dificuldade de Reis Pereira em comunicar, recorrendo a um CD com Poesia de José Régio declamada pelo próprio. A escrita do Poema é forte quando lida e interpretada, mas perde toda a beleza e força dita pelo Poeta.
Contudo, esta ‘dificuldade’ em nada diminui a grandeza da Poesia de José Régio, tal como a competência do professor Reis Pereira nunca foi posta em causa por nenhum dos seus ex-Alunos.
Politicamente, José Maria dos Reis Pereira não era da ‘situação’. Mas também não era da ‘oposição’.
Os da ‘situação’ sabiam que Reis Pereira não era ‘dos deles’, mas sempre o trataram bem, sendo José Régio presença contínua nos manuais oficias da disciplina de Português.
Os da ‘oposição’sabiam que Reis Pereira não era ‘dos deles’. Procuravam aliciá-lo, mas a ‘politica’ de Reis Pereira era a Poesia, a Prosa e o Ensaio ‘através’ de José Régio.
A grande ‘paixão’ de Reis Pereira foi sempre as ‘antiguidades’, e ‘estas’ os seus grandes e verdadeiros Amigos.
Cultivou Amizades em Portalegre. Mas poucas, recusando sempre a bajulação e a “corte”. Quando chegou a Portalegre, foi mais ‘tolerado’ que ‘aceite’. E essa situação deu origem á única novela que José Régio escreve passada em Portalegre, «Davam grandes passeios aos domingos».
Nela, é feroz a crítica que faz à sociedade de então, que não difere muito da actual. A hipocrisia é elevada a um expoente, que faz com que em Portalegre «Davam grandes passeios aos domingos» seja ‘esquecida’.
Quando já escritor consagrado, consagração alcançada por mérito e junto dos meios eruditos da época, ‘algo’ que não existia em Portalegre, passou nesta terra a ter um ‘estatuto’ que em tudo era contrário ao anterior. Mas José Maria dos Reis Pereira soube ser ‘melhor’ e maior que aqueles que agora o procuravam e que queriam mostrar que faziam parte do seu inner circle.
Mas se Reis Pereira detesta a sociedade portalegrense, também mostra um viver em Portalegre triste, amargo e duro. A «Toada de Portalegre» de José Régio ‘mostra’ uma cidade agreste, tão fria no Inverno e tão quente no Verão que ‘sufoca’. Tal como acontece hoje. Portalegre é uma terra em que a sua beleza está no florir de uma acácia; árvore que floresce no tempo dos dias pequenos, chuvosos e frios; árvore cujo amarelo da flor muito rapidamente se queima e perde a luz que emana.
Já reformado, José Maria dos Reis Pereira continua a não se entender com Portalegre, agora por outras razões, a da futura Casa Museu. A cidade nunca deixou de lhe ser madrasta. Portalegre nunca foi para Reis Pereira um ‘porto de abrigo’, um ‘refúgio’, mas sim uma ‘fatalidade’ que a sua profissão de professor provocou.
José Maria dos Reis Pereira quis no final da vida regressar à sua terra natal, e é em Vila do Conde que partiu para a Eternidade, e lá que estão os seus restos mortais. Quanto ao mais, teve por Portalegre Amigos, conhecidos e outros.
Mário Casa Nova Martins

CD - 1994

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