Luís Filipe Meira
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FESTA É FESTA
FESTA É FESTA
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Kusturica foi o Rei
e
DJ Alvim o Príncipe
Kusturica foi o Rei
e
DJ Alvim o Príncipe
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Com o mote ‘vinte cinco anos, vinte cinco músicos’, o Crato celebrou as bodas de prata da sua Feira de Artesanato e Gastronomia. Abrangente quanto baste, o cartaz apresentava para todas as noites propostas fortes, bastante equilibradas a nível qualitativo e praticamente sem concessões ao mau gosto.
Naturalmente, e apesar de ter diariamente ‘assinado o ponto’, não me foi possível assistir a todos os espectáculos. Fiquei no entanto com a ideia que se esta não foi a melhor edição das 25 já efectuadas, teve no concerto de Emir Kusturica um dos melhores de sempre.
Mas vamos por partes…
Azeitonas
*** / **
Demonstram uma coragem quase olímpica, ao se assumirem como românticos inveterados e fiéis depositários do velho nacional-cançonetismo. Inspiram-se nos velhos discos de Neil Diamond, nas batidas dos ABBA e nas baladas xaroposas de Bonnie Tyler, o que convenhamos não pode dar grande inspiração. De qualquer forma, são músicos competentes e ofereceram-nos um espectáculo profissional e bem-disposto.
Rui Veloso
*/****
Rui Veloso deve ser o artista que mais vezes actuou neste certame, e sinceramente não retenho quase nada que tenha valido a pena. Veloso começa a ser um erro de casting. Este ano anunciou-se um concerto especial que de especial nada teve, pois o que ficou foi o péssimo som, as desafinações e as entradas fora de tempo, além de ter começado atrasado em mais de uma hora. Deplorável.
ABBA Platinium
** / ***Vestem-se, maquilham-se e apresentam-se como os ABBA. Não são os ABBA mas interpretam as suas canções com devoção. São sucedâneos mas competentes.
Martinho da Vila
***/**
Grande enchente para ver este brasileiro de 71 anos, que é uma verdadeira instituição do samba. Gravou o primeiro disco já lá vão quarenta anos. No Crato apresentou-se com dignidade e mostrou que ainda está para as curvas. Os fans agradeceram e aplaudiram.
Jominho
*** / **Por razões que a razão desconhece, Jominho nunca se tornou cantor profissional. Toca porque gosta e para os que dele gostam. O Crato, sua terra por adopção, quis homenageá-lo, convidando-o para actuar nas bodas de prata da sua festa. Foi bonito de se ver e ouvir.
The Animals
** / ***Dizia-me um amigo que este grupo não era os Animals mas os seus despojos. Há alguma razão nas palavras desse meu amigo. Sem Eric Burdon nem Alan Price, com um guitarrista de ombro deslocado, estes Animals nem chegaram a ser sucedâneos competentes.
JP Simões
****/*Eu gosto imenso da música deste extraordinário compositor, cuja verve provocadora conforta a minha costela irreverente, mas seguramente o impede de ascender a outros palcos. Também é verdade que a sua música se dispersa além de perder profundidade e intimidade nestes ambientes de grande festa. JP Simões é cada vez mais um cantor de culto, como ficou amplamente demonstrado no Crato.
Susana Felix
***/**
Susana Felix apresentou-se acompanhada por um grupo de excelentes músicos, e trouxe dois convidados ‘cinco estrelas’. Um deles foi o ‘nosso’ António Eustáquio, que apesar das ambiências desfavoráveis soltou o seu génio improvisador – e competentemente acompanhado pelo contrabaixo de Maximo Cavalli e por um percussionista cujo nome me falhou – demonstrou que não vai havendo segredos entre o músico e o seu guitolão, que se torna cada vez mais o prolongamento de si próprio. Sérgio Godinho cantou em dueto com a anfitriã, e deixou-nos ansiosos pelo seu regresso ao palco. Susana tem boa voz, canções razoáveis e apresentou-se muito bem rodeada, e teve também por isso uma boa actuação, mas ficou longe de deslumbrar.
Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra
*****
Na antevisão que fiz para “A Voz Portalegrense”, dava conta das altas expectativas que tinha em relação a este concerto. Pois deixem-me dizer que essas expectativas optimistas foram completamente pulverizadas. Kusturica e os seus músicos transformaram o Crato numa festa de proporções gigantescas, com as suas constantes descargas de energia e boa disposição, apelando à participação da plateia – que nunca se fez rogada – a entrar na festa, ora a cantar, ora a dançar e a bater palmas, sempre em alta rotação. Concerto memorável de Kusturica, que passa a integrar a short list dos melhores do Crato.
The Gift
**** / *Mais ou menos desaparecidos têm andado os Gift, ocupados com outros projectos paralelos de qualidade discutível. Ainda assim vieram ao Crato mostrar que estão vivos. O público agradeceu a gentileza e aplaudiu consensualmente.
Reamonn
***/**
Não sou definitivamente admirador deste tipo de música, um hard rock paradoxalmente melodioso, vagamente gótico e de grandiloquência instrumental, bem tocado por músicos tecnicamente razoáveis, mas de imaginação pobre. Canções ‘orelhudas’ para entrarem nas play lists das rádios (RFM, Rádio Comercial, Cidade FM), discos em que as canções são quase todas potenciais singles de sucesso garantido, feitas da mesma massa e com os restos umas das outras, daí parecerem quase todas iguais, tipo 'vira o disco e toca o mesmo'. Como diria o meu velho Mestre Dr. Francisco Barrocas, dou-lhes pelo profissionalismo 'um mal chega a suficiente'.
DJ’S
Forte foi a aposta nos dj’s para animar as madrugadas pós concertos. Ideia feliz também ao colocar os dj’s no palco principal para manter a concentração do público. Nomes grandes do DJing estiveram no Crato, e demonstraram que hoje um bom dj set pode ter a dimensão e o sucesso de um concerto. Já agora, num futuro próximo talvez valha a pena ter em conta o VJing, uma nova disciplina que consiste na manipulação em tempo real de vídeos e que pode complementar na perfeição o DJing.
Se Kusturica e a sua corte reinaram no Crato 2009, é justo realçar que o DJ Fernando Alvim foi o príncipe. O seu DJ set concebido à sua imagem é desconcertantemente motivador para a festa, por ali convivem Amália com Black Eyed Peas, Buraka com Paulo Alexandre ou Red Hot Chilli Peppers com as Doce. DJ Alvim foi um verdadeiro príncipe na celebração da noite tórrida que encerrou em grande festa a 25ª Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato.
Naturalmente, e apesar de ter diariamente ‘assinado o ponto’, não me foi possível assistir a todos os espectáculos. Fiquei no entanto com a ideia que se esta não foi a melhor edição das 25 já efectuadas, teve no concerto de Emir Kusturica um dos melhores de sempre.
Mas vamos por partes…
Azeitonas
*** / **
Demonstram uma coragem quase olímpica, ao se assumirem como românticos inveterados e fiéis depositários do velho nacional-cançonetismo. Inspiram-se nos velhos discos de Neil Diamond, nas batidas dos ABBA e nas baladas xaroposas de Bonnie Tyler, o que convenhamos não pode dar grande inspiração. De qualquer forma, são músicos competentes e ofereceram-nos um espectáculo profissional e bem-disposto.
Rui Veloso
*/****
Rui Veloso deve ser o artista que mais vezes actuou neste certame, e sinceramente não retenho quase nada que tenha valido a pena. Veloso começa a ser um erro de casting. Este ano anunciou-se um concerto especial que de especial nada teve, pois o que ficou foi o péssimo som, as desafinações e as entradas fora de tempo, além de ter começado atrasado em mais de uma hora. Deplorável.
ABBA Platinium
** / ***Vestem-se, maquilham-se e apresentam-se como os ABBA. Não são os ABBA mas interpretam as suas canções com devoção. São sucedâneos mas competentes.
Martinho da Vila
***/**
Grande enchente para ver este brasileiro de 71 anos, que é uma verdadeira instituição do samba. Gravou o primeiro disco já lá vão quarenta anos. No Crato apresentou-se com dignidade e mostrou que ainda está para as curvas. Os fans agradeceram e aplaudiram.
Jominho
*** / **Por razões que a razão desconhece, Jominho nunca se tornou cantor profissional. Toca porque gosta e para os que dele gostam. O Crato, sua terra por adopção, quis homenageá-lo, convidando-o para actuar nas bodas de prata da sua festa. Foi bonito de se ver e ouvir.
The Animals
** / ***Dizia-me um amigo que este grupo não era os Animals mas os seus despojos. Há alguma razão nas palavras desse meu amigo. Sem Eric Burdon nem Alan Price, com um guitarrista de ombro deslocado, estes Animals nem chegaram a ser sucedâneos competentes.
JP Simões
****/*Eu gosto imenso da música deste extraordinário compositor, cuja verve provocadora conforta a minha costela irreverente, mas seguramente o impede de ascender a outros palcos. Também é verdade que a sua música se dispersa além de perder profundidade e intimidade nestes ambientes de grande festa. JP Simões é cada vez mais um cantor de culto, como ficou amplamente demonstrado no Crato.
Susana Felix
***/**
Susana Felix apresentou-se acompanhada por um grupo de excelentes músicos, e trouxe dois convidados ‘cinco estrelas’. Um deles foi o ‘nosso’ António Eustáquio, que apesar das ambiências desfavoráveis soltou o seu génio improvisador – e competentemente acompanhado pelo contrabaixo de Maximo Cavalli e por um percussionista cujo nome me falhou – demonstrou que não vai havendo segredos entre o músico e o seu guitolão, que se torna cada vez mais o prolongamento de si próprio. Sérgio Godinho cantou em dueto com a anfitriã, e deixou-nos ansiosos pelo seu regresso ao palco. Susana tem boa voz, canções razoáveis e apresentou-se muito bem rodeada, e teve também por isso uma boa actuação, mas ficou longe de deslumbrar.
Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra
*****
Na antevisão que fiz para “A Voz Portalegrense”, dava conta das altas expectativas que tinha em relação a este concerto. Pois deixem-me dizer que essas expectativas optimistas foram completamente pulverizadas. Kusturica e os seus músicos transformaram o Crato numa festa de proporções gigantescas, com as suas constantes descargas de energia e boa disposição, apelando à participação da plateia – que nunca se fez rogada – a entrar na festa, ora a cantar, ora a dançar e a bater palmas, sempre em alta rotação. Concerto memorável de Kusturica, que passa a integrar a short list dos melhores do Crato.
The Gift
**** / *Mais ou menos desaparecidos têm andado os Gift, ocupados com outros projectos paralelos de qualidade discutível. Ainda assim vieram ao Crato mostrar que estão vivos. O público agradeceu a gentileza e aplaudiu consensualmente.
Reamonn
***/**
Não sou definitivamente admirador deste tipo de música, um hard rock paradoxalmente melodioso, vagamente gótico e de grandiloquência instrumental, bem tocado por músicos tecnicamente razoáveis, mas de imaginação pobre. Canções ‘orelhudas’ para entrarem nas play lists das rádios (RFM, Rádio Comercial, Cidade FM), discos em que as canções são quase todas potenciais singles de sucesso garantido, feitas da mesma massa e com os restos umas das outras, daí parecerem quase todas iguais, tipo 'vira o disco e toca o mesmo'. Como diria o meu velho Mestre Dr. Francisco Barrocas, dou-lhes pelo profissionalismo 'um mal chega a suficiente'.
DJ’S
Forte foi a aposta nos dj’s para animar as madrugadas pós concertos. Ideia feliz também ao colocar os dj’s no palco principal para manter a concentração do público. Nomes grandes do DJing estiveram no Crato, e demonstraram que hoje um bom dj set pode ter a dimensão e o sucesso de um concerto. Já agora, num futuro próximo talvez valha a pena ter em conta o VJing, uma nova disciplina que consiste na manipulação em tempo real de vídeos e que pode complementar na perfeição o DJing.
Se Kusturica e a sua corte reinaram no Crato 2009, é justo realçar que o DJ Fernando Alvim foi o príncipe. O seu DJ set concebido à sua imagem é desconcertantemente motivador para a festa, por ali convivem Amália com Black Eyed Peas, Buraka com Paulo Alexandre ou Red Hot Chilli Peppers com as Doce. DJ Alvim foi um verdadeiro príncipe na celebração da noite tórrida que encerrou em grande festa a 25ª Feira de Artesanato e Gastronomia do Crato.
Luís Filipe Meira
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