António Martinó de Azevedo Coutinho
CROMOS DA BD - II
(1946/47)
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(1946/47)
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A história contida na caderneta intitulada “Aventuras de Fred Bill - O Terror do Texas” é um western aos quadradinhos, ao típico estilo dos anos 40.
O tema foi exaustivamente tratado nos jornais infanto-juvenis da especialidade. Os seus autores - Orlando Marques e Vítor Péon - foram, aliás, pródigos no tratamento de muitas outras aventuras do género. Esta não escapa aos clássicos modelos de sucesso: a vingança em nome da justiça (dos homens ou de Deus), o eterno confronto racial (caras-pálidas e peles-vermelhas) e o amor (!?). Pelo meio do(s) conflito(s) gerado(s), eis-nos perante o mítico cenário do Far-West, onde cavalga um cavalo super-dotado, tudo enredado na dominante e secular luta entre o Bem e o Mal. O restante resume-se a meros pormenores...
O tema foi exaustivamente tratado nos jornais infanto-juvenis da especialidade. Os seus autores - Orlando Marques e Vítor Péon - foram, aliás, pródigos no tratamento de muitas outras aventuras do género. Esta não escapa aos clássicos modelos de sucesso: a vingança em nome da justiça (dos homens ou de Deus), o eterno confronto racial (caras-pálidas e peles-vermelhas) e o amor (!?). Pelo meio do(s) conflito(s) gerado(s), eis-nos perante o mítico cenário do Far-West, onde cavalga um cavalo super-dotado, tudo enredado na dominante e secular luta entre o Bem e o Mal. O restante resume-se a meros pormenores...


A forma assumida pela BD é a usual na época, seguindo a escola inglesa muito divulgada nos jornais portugueses dos anos 40 e 50. Embora os criadores americanos (e alguns europeus, sobretudo da Escola de Bruxelas) já tivessem atingido então um estádio de fusão narrativa entre texto e imagem, com uso adequado de elementos da rica linguagem dos quadradinhos, como o balão, o signo cinético, a onomatopeia e outros, a verdade é que a maioria dos nossos desenhadores quase se limitava a ilustrar os argumentos por meio de tiras de vinhetas desenhadas e devidamente colocadas sobre o texto.
Os 120 cromos produzidos por Vítor Péon, em tiras (ou bandas) de três unidades, procuram portanto acompanhar o ritmo narrativo constante do texto de Orlando Marques. Porém, este efeito comunicacional perde-se sem remédio logo a partir da primeira página, dada a riqueza literária quase gongórica ou maneirista da escrita. O que pode servir na perfeição a uma novela ou a um conto revela-se aqui manifestamente inadequado, pois uma rigorosa tradução icónica do rebuscado estilo literário usado exigiria, talvez, o triplo das folhas...

E o argumento escrito, em boa verdade, não precisaria de qualquer ilustração para ser totalmente compreensível.
Uma questão interessante que releva do mundo da comunicação diz respeito ao “descuido” com que foram montadas estas duas páginas finais. Com efeito, desprezando toda a lógica narrativa compatível com o sistema legográfico em uso nas civilizações ditas ocidentais - da esquerda para a direita, de cima para baixo - , a relação espacial entre as tiras de imagens e as colunas de texto foi alterada, propondo aos leitores menos avisados uma incoerência comunicacional ausente nas anteriores páginas. Os esquemas juntos ajudam a perceber esta diferença...
Vítor Péon deu certamente o melhor da sua arte, no estilo de traço instintivo e directo, de toque inglês exuberante e quase barroco que o caracterizou e que lhe conferiu um lugar seguro no pódio dos melhores desenhadores nacionais de BD da sua época, ao lado de Eduardo Teixeira Coelho e de Fernando Bento, todos já desaparecidos. No presente caso, a impressão tipográfica dos seus desenhos traiu por vezes o colorido original e produziu alguns cromos algo esborratados.
Esta crítica tão honestamente objectiva quanto cruel - sinto-o! - não ofusca o valor da iniciativa nem afecta, sobretudo, um justo sentimento de gratidão para com os seus autores. Nem reduz a emoção com que agora, mais de sessenta anos após a saudosa vivência dessa juvenil prática de um saudável e didáctico coleccionismo, tal se evoca.
Aqui e agora, nestas memórias de cromos, a que prometo voltar um dia destes...

Esta crítica tão honestamente objectiva quanto cruel - sinto-o! - não ofusca o valor da iniciativa nem afecta, sobretudo, um justo sentimento de gratidão para com os seus autores. Nem reduz a emoção com que agora, mais de sessenta anos após a saudosa vivência dessa juvenil prática de um saudável e didáctico coleccionismo, tal se evoca.
Aqui e agora, nestas memórias de cromos, a que prometo voltar um dia destes...
António Martinó de Azevedo Coutinho
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Post Scriptum - Ver:
CROMOS DA BD - I - (1946/47)
CROMOS DA BD - I - (1946/47)
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