Plágio
PURGATÓRIO Plágios
NADA TENHO contra plágios. Desde que os plágios sejam criativos e, como diria Dryden sobre Jonson, possam construir novos mundos sobre velhos autores. T.S. Eliot, o maior poeta do século XX (opinião pessoal), provavelmente não existiria sem roubos divinos a poetas menores, como o esquecido Madison Cawein. Lytton Strachey, que praticamente fixou para a posteridade a imagem que hoje temos dos vitorianos, roubou vasta e impunemente aos seus pares (como Edward Tyas Cook ou A. P. Staniey, que obviamente não deixaram rasto). Só os plágios preguiçosos me incomodam: a cópia pura e simples, sem nenhum esforço de criação ou continuidade. É como entrar na casado autor, roubar-lhe as pratas — e nem sequer deixar uma gorjeta, uma palavra, um obrigado.
Há duas semanas, num exercício que define a inteligência da tribo e a cultura de rapina que por lá abunda, o «Jornal de Angola» resolveu transcrever e mutilar um artigo meu (da «Folha de São Paulo») atribuindo a autoria da coisa à BBC. Agradeço a honra da nobilitação anglófila; mas seria assim tão difícil roubar-me o texto e, já agora, disfarçar com competência a natureza do acto?
Tudo ao contrário de Rui Cartaxana, o veterano cronista do «Record», a quem envio um grande abraço. Mostrando esforço e até respeito pelo original, Cartaxana leu o meu texto sobre o programa Liga dos Últimos (publicado há duas semanas no «Expresso») e depois reescreveu o dito com certo «panache», sem, no entanto, conseguir ocultar inteiramente a tese, a estrutura e algumas frases ou expressões deste plumitivo que vos fala. Em Angola, rouba-se; em Portugal, pede-se emprestado. Talvez esta diferença seja a melhor definição sobre o antigo colonizador e o antigo colonizado.
NADA TENHO contra plágios. Desde que os plágios sejam criativos e, como diria Dryden sobre Jonson, possam construir novos mundos sobre velhos autores. T.S. Eliot, o maior poeta do século XX (opinião pessoal), provavelmente não existiria sem roubos divinos a poetas menores, como o esquecido Madison Cawein. Lytton Strachey, que praticamente fixou para a posteridade a imagem que hoje temos dos vitorianos, roubou vasta e impunemente aos seus pares (como Edward Tyas Cook ou A. P. Staniey, que obviamente não deixaram rasto). Só os plágios preguiçosos me incomodam: a cópia pura e simples, sem nenhum esforço de criação ou continuidade. É como entrar na casado autor, roubar-lhe as pratas — e nem sequer deixar uma gorjeta, uma palavra, um obrigado.
Há duas semanas, num exercício que define a inteligência da tribo e a cultura de rapina que por lá abunda, o «Jornal de Angola» resolveu transcrever e mutilar um artigo meu (da «Folha de São Paulo») atribuindo a autoria da coisa à BBC. Agradeço a honra da nobilitação anglófila; mas seria assim tão difícil roubar-me o texto e, já agora, disfarçar com competência a natureza do acto?
Tudo ao contrário de Rui Cartaxana, o veterano cronista do «Record», a quem envio um grande abraço. Mostrando esforço e até respeito pelo original, Cartaxana leu o meu texto sobre o programa Liga dos Últimos (publicado há duas semanas no «Expresso») e depois reescreveu o dito com certo «panache», sem, no entanto, conseguir ocultar inteiramente a tese, a estrutura e algumas frases ou expressões deste plumitivo que vos fala. Em Angola, rouba-se; em Portugal, pede-se emprestado. Talvez esta diferença seja a melhor definição sobre o antigo colonizador e o antigo colonizado.
João Pereira Coutinho
in, 22 REVISTA ÚNICA - 18/10/2008 - Expresso
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