\ A VOZ PORTALEGRENSE: Matthew Gregory Lewis

sábado, setembro 27, 2008

Matthew Gregory Lewis

O MONGE
Matthew Gregory Lewis
Livro considerado capital na literatura do fantástico, O MONGE retira o seu poder sugestivo da grande ousadia por que o tema é tratado, a par de uma cativante ingenuidade. Aliás, aquela mesma ousadia não ficaria impune: Lewis esteve perante a iminência de um processo e o «corpo de delito» viu-se apreendido.
Publicado no final do século XVIII, há a anotar a particularidade interessante de ter sido escrito por um moço de vinte anos. Nele estão detectadas as influências múltiplas de Cazotte (OS AMORES DO DIABO), de Diderot (A RELIGIOSA), de Goethe (O FAUSTO) (possivelmente também do de Klinger), de Schiller (O VISIONARO) e de PEDRINHO de Spietz.
Como uma cunha, o pecado instala-se no coração de Ambrósio, inspirado pregador de um convento de dominicanos em Madrid, apreciadíssimo pelo dom da palavra de que é senhor e venerado pela irrepreensível virtude que aparenta, Lewis vai empenhar-se em mostrar como, na conjunção de um certo número de factores, a minúscula fenda instalada na alma do monge é susceptível de fazer periclitar toda a estrutura antes julgada férrea.
Tentado por Satã, a «pequena mancha» do orgulho crescera, crescerá até englobar, primeiro, a bela Matilde, que lhe revela um mundo desconhecido de desvairada sensualidade; depois, uma jovem mulher por quem se sente irresistivelmente atraído e que acabará por violar. Para saciar o apetite despertado e enlouquecido, valer-se-á dos mais torpes estratagemas e dos mais abjectos crimes.
Um sopro tempestuoso premonitor do Inferno abre caminho aos seus passos, nem sempre firmes, mas finalmente inexoráveis, sendo as páginas em que Lewis descreve o fogo infernal obras-primas de «horror sagrado».
Fantásticos, realistas ou ingénuos, entrecruzam-se no livro - demónios, assassínios, fantasmas, torturas, lúgubres subterrâneos, encontrando-se subjacente no romance uma potente critica aos barbarismos de um poder que de espiritual decerto toma o nome inúmeros episódios secundários concorrem para criar em O MONGE aquele «esplêndido céu de tempestade» referido por André Breton.


Nos inícios deste Setembro, fizemos referência à obra de Cazotte «Os Amores do Diabo», deixado o caminho aberto para falar da obra de Lewis.
Fazemo-lo agora, recorrendo ao texto da badana, mas sem que antes se diga, e se reforce o agradecimento ao
Ilustre e Culto Harms, que saiu recentemente uma nova edição de «O Monge» na editora Bonecos Rebeldes.

mj