\ A VOZ PORTALEGRENSE: Crónica de Nenhures

quarta-feira, abril 02, 2008

Crónica de Nenhures

Em Angola nada de novo
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Neste momento ainda não são conhecidos os resultados das eleições presidenciais no Zimbabué. Mas também não será importante para o caso. A existir verdade Robert Mugabe será derrotado, e um novo ciclo começará neste país africano. Igual ou diferente logo o tempo diria.
Mas o facto importante é que o Zimbabué teve eleições presidenciais. É verdade que existe um regime autocrático, mas não deixa de ser verdade que ciclicamente se foram fazendo eleições. Terão sido em clima de suspeição, com dados viciados que permitiram sucessivas reeleições de Mugabe. Mas progressivamente a Oposição veio a crescer em número de votos. Foi perseguida e cometeram-se crimes de toda a espécie sobre ela, que a tudo resistiu. E hoje não tem credibilidade externa como interna, a ponto da Comunidade Internacional nela confiar. Assim continue a dar motivos para que seja um exemplo a seguir em África e no Mundo democrático.

Em contraponto está Angola. Neste país, há muito que a palavra “eleições” não existe no léxico político. Uma das condições para que houvesse eleições em Angola, segundo o MPLA, o partido do presidente José Eduardo dos Santos, era a eliminação física de Jonas Malheiro Savimbi, o obstáculo à paz naquele país. Ora Savimbi foi assassinado, com a cumplicidade dos EUA e de portugueses que dele se serviram para negócios de armas, diamantes, madeiras e outros, e as eleições, ou um simulacro das mesmas, continuam marcadas para as calendas gregas…
A UNITA e as outras forças da Oposição angolana estão não só fragilizadas por sucessivas purgas a mando da cleptocracia que controla os destinos de Angola liderada pela família dos Santos, como sem espaço de manobra política. O Zimbabué de Robert Mugabe, comparado com Angola de José Eduardo dos Santos é um “paraíso” democrático.
Se Mugabe destruiu a economia de um país pobre, dos Santos e seu clã enriquece enquanto o Povo de Angola continua a sofrer fome e doenças.

A grande diferença em termos de opinião pública reside no facto de os interesses da Inglaterra terem sido postos em causa no Zimbabué por Mugabe, enquanto dos Santos abriu Angola às multinacionais que exploram os recursos naturais a seu belo prazer.
Assim o regime angolano não é posto em causa nos areópagos internacionais, é um país “amigo”, logo é-lhe permitido todo o tipo de arbitrariedades sobre o Povo e em termos políticos sobre a Oposição liderada pela UNITA, enquanto que o Zimbabué, e muito bem, é alvo de sanções de toda a ordem pela existência do regime autocrático de Mugabe.
De facto, dois pesos e duas medidas. E tudo por razões económicas. Como sempre. As “boas consciências” na Europa, nos EUA e por aí fora dormem descansadas. Que bom assim ser!
MM