\ A VOZ PORTALEGRENSE: Carlos Garcia de Castro

sábado, fevereiro 02, 2008

Carlos Garcia de Castro

Glória a Garcia de Castro
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A Notícia
Teve lugar no passado sábado no anfiteatro do Instituto Português da Juventude (IPJ) em Portalegre a apresentação do livro “Gloria victis, Não-Poemas” de Carlos Garcia de Castro.
A primeira parte teve uma componente musical, na qual, sob a direcção de António Eustáquio, participaram António Eustáquio no guitolão, Celestino Raposo no clarinete, Luísa Amaro na guitarra portuguesa e Vítor Miranda no contrabaixo e na percussão.
Na segunda parte falou o Editor e o Poeta. O Editor das Edições Sempre-em-Pé historiou a sua vida enquanto ligado à edição do livro, e do prazer em conhecer e agora fazer sair dos prelos este livro de Garcia de Castro. Durante a apresentação da obra, Carlos do Rosário leu poemas do Livro.
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O Autor e a Obra
Carlos Garcia de Castro nasceu em Portalegre em 1934. Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas, teve uma carreira no Ensino. Sempre ligado à cultura, tem colaboração dispersa em jornais, revistas e em colectâneas, tendo publicado à data os livros “Cio” (1955), “Terceiro Verso do Tempo” (1963), “Portus Alacer” (1987), “Os Lágoias e os Estrangeiros” (1992), “Rato do Campo” (1998), e agora “Gloria victis, Não-Poemas” (2008).
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Glória aos Vencidos
“Gloria victis”, “Glória aos vencidos”, é um livro, como o Autor o define em subtítulo, de “Não-Poemas”.
A temática principal é a velhice, que o A. diz viver e sentir. Então, as suas vivências do dia-a-dia são traduzidas em versos, construindo poemas. Todavia, considera que essas temáticas não serão “nobres” a ponto de alcançarem o “estatuto” de Poema.
A obra está dividida em seis passos, como se de uma via-sacra se tratasse: “Provocatória” com três poemas, “Analítica” com cinco, “Consistório” com quatro, “Militância” com cinco, “Katabolé” com onze, e “In dubio, pró reo” com cinco. O poema mais antigo é de 1967, há um de 1970 e outro de 1997 que serão reescritos e datados de 2001. Os anos mais “produtivos” são os do virar do século e do milénio, 2000 com doze e 2001 com nove mais os dois que vinham do século anterior. O mais recente é de 2003. Ao todo trinta e três Poemas, Não-Poemas, número que representa a idade de Cristo, elemento importante na vida do Poeta, católico praticante, como a dado passo fez questão de afirmar.
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Crítica
Num anfiteatro literalmente cheio, foi tão agradável ouvir os Músicos, como o Poeta e o Declamador. Mas o “herói da tarde” era o Poeta, que não foi um “fingidor”. Disse-se “despido” perante a audiência. Ao falar de Si e da Obra ia-se “desnudando”, num acto de humildade frente a quem o escutava. As constantes da sua poesia estiveram presentes, Portalegre, a Mulher, o Amor, a Amizade, e agora a Velhice, que neste tempo presente o “atormenta”. Mas a sua exposição não teve nada de “velha”, foi clara, erudita e acima de tudo penetrante porque verdadeira, sentida.
Senador se define, mas será apenas pela quantidade dos anos. A fonte da eterna juventude acompanha-o. Continua a criação poética, escrevendo, e participa na vida cultural indígena.
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Futuro Presente
A Portalegre Cultural está mais rica. Em cerca de oito meses, António Ventura (A Maçonaria no Distrito de Portalegre), Aurélio Bentes Bravo (O Semeador – Em Portalegre não se sabe muita coisa…), António Martinó de Azevedo Coutinho (Crónicas Lagóias – Um auto-retrato e Outros instantâneos) e agora Carlos Garcia de Castro (Gloria victis, Não-Poemas), editam livros marcantes para a Cidade. Os quatro representam duas gerações distintas, mas em todos, imanente o Amor a esta Terra que é sua.

Mário Casa Nova Martins
in, Alto Alentejo, 30/1/2007, p.18