Hitler segundo Estaline
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Estudo baseado em interrogatórios
feitos a dois oficiais nazis
e resgatado dos arquivos de Estaline
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Os livros que existem sobre Hitler são tão numerosos que é fácil encher várias prateleiras com títulos diferentes. Numa boa biblioteca não podem faltar estudos de historiadores como Ian Kershaw, Joachim Fest e Alan Bullock - o último com uma comparação entre Hitler e Estaline. Sobretudo nos anos 90, a venda de biografias sobre o ditador nazi alcançou grandes números, em parte alimentados pelas comemorações do cinquentenário da derrota do Terceiro Reich.
Menos êxito tiveram as primeiras biografias - com excepção do auto-biográfico Mein Kampf -, escritas nos anos 30, principalmente por adversários políticos, como Theodor Heuss, em 1932: Hitlers Weg (O Caminho de Hitler). Depois da eclosão da II Guerra Mundial, outro tipo de estudos veio à luz: análises da personalidade de Hitler elaboradas por vários serviços de informações dos Aliados, destinadas a um grupo muito restrito de leitores. Um retrato psicológico de Hitler do psiquiatra americano Henry A. Murray, escrito em 1943 a pedido do Office of Strategic Services - OSS (antecessor da Central Intelligence Agency - CIA), teve uma tiragem de apenas 30 cópias.
O Livro de Hitler - tecnicamente: «Processo 402a» - tinha um único leitor: José Estaline. Trata-se de um relatório dactilografado de 413 páginas, completado em 1949 e baseado nos interrogatórios feitos a Otto Günsche e Heinz Unge, respectivamente ajudante e mordomo do Führer. Os dois oficiais das Waffen-SS tinham caído nas mãos dos soviéticos e sido interrogados no âmbito da «Operação Mito», uma investigação do Comissariado do Povo para os Assuntos Internos (NKVD - a polícia secreta), para analisar o suicídio de Hitler.
Durante cerca de 6o anos, o documento ficou inacessível no antigo arquivo pessoal de Estaline, até que dois historiadores alemães, Henrik Eberle e Mathias Uhl, tiveram autorização de o ler e publicar. Com direitos vendidos em mais de 20 países e numerosas traduções, é agora possível ter acesso àquilo que só o ditador soviético tinha lido. O documento are tinha «resistido» à destalinização, pois uma tentativa de Nikita Khrushchov de disponibilizá-lo aos historiadores russos, em 1959, fracassou, porque o «Processo 462a» contradizia em alguns aspectos a leitura oficial soviética da II Guerra Mundial.
Que imagem de Hitler surge das páginas deste livro? Em primeiro lugar, um Hitler «politicamente correcto», ou seja, uma figura que correspondia exactamente à imagem que a propaganda soviética de então fazia do ditador fascista: um político histérico, apoiado pelos grandes industriais e capitalistas alemães e pouco contestado pelos líderes das democracias ocidentais, supostamente mais interessados em canalizar a expansão alemã em direcção ao Leste do que em parar a ascensão do nazismo na Europa. Em segundo lugar, um Hitler com uma personalidade bastante simples e banal, incompetente em termos militares, neurótico na vida do dia-a-dia, em certas ocasiões até tímido (aparentemente, foi essa a razão por que Hitler não gostava de falar ao telefone). Em poucas palavras, um ditador que em tudo seria o contrário de Estaline.
Há muitas indicações de que os oficiais alemães e os agentes do NKVD sabiam exactamente o que era ou não desejável mencionar no relatório. Não há nenhuma menção do Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939, o acordo secreto da divisão da Polónia entre o Reich e a União Soviética, e pouco se fala do Holocausto. Por isso, mais do que um retrato de Hitler, O Livro de Hitler é um retrato da historiografia soviética no auge do estalinismo.
Os dois editores reconhecem as limitações de uma fonte deste tipo, ao propor uma discussão bastante profunda do lugar do documento na historiografia soviética em particular e na historiografia sobre o nazismo em geral. E este aspecto que torna a leitura interessante, muito mais do que os «factos novos» em si. Quem se limitar a O Livro de Hitler corre o risco de ficar com uma imagem defeituosa.
Menos êxito tiveram as primeiras biografias - com excepção do auto-biográfico Mein Kampf -, escritas nos anos 30, principalmente por adversários políticos, como Theodor Heuss, em 1932: Hitlers Weg (O Caminho de Hitler). Depois da eclosão da II Guerra Mundial, outro tipo de estudos veio à luz: análises da personalidade de Hitler elaboradas por vários serviços de informações dos Aliados, destinadas a um grupo muito restrito de leitores. Um retrato psicológico de Hitler do psiquiatra americano Henry A. Murray, escrito em 1943 a pedido do Office of Strategic Services - OSS (antecessor da Central Intelligence Agency - CIA), teve uma tiragem de apenas 30 cópias.
O Livro de Hitler - tecnicamente: «Processo 402a» - tinha um único leitor: José Estaline. Trata-se de um relatório dactilografado de 413 páginas, completado em 1949 e baseado nos interrogatórios feitos a Otto Günsche e Heinz Unge, respectivamente ajudante e mordomo do Führer. Os dois oficiais das Waffen-SS tinham caído nas mãos dos soviéticos e sido interrogados no âmbito da «Operação Mito», uma investigação do Comissariado do Povo para os Assuntos Internos (NKVD - a polícia secreta), para analisar o suicídio de Hitler.
Durante cerca de 6o anos, o documento ficou inacessível no antigo arquivo pessoal de Estaline, até que dois historiadores alemães, Henrik Eberle e Mathias Uhl, tiveram autorização de o ler e publicar. Com direitos vendidos em mais de 20 países e numerosas traduções, é agora possível ter acesso àquilo que só o ditador soviético tinha lido. O documento are tinha «resistido» à destalinização, pois uma tentativa de Nikita Khrushchov de disponibilizá-lo aos historiadores russos, em 1959, fracassou, porque o «Processo 462a» contradizia em alguns aspectos a leitura oficial soviética da II Guerra Mundial.
Que imagem de Hitler surge das páginas deste livro? Em primeiro lugar, um Hitler «politicamente correcto», ou seja, uma figura que correspondia exactamente à imagem que a propaganda soviética de então fazia do ditador fascista: um político histérico, apoiado pelos grandes industriais e capitalistas alemães e pouco contestado pelos líderes das democracias ocidentais, supostamente mais interessados em canalizar a expansão alemã em direcção ao Leste do que em parar a ascensão do nazismo na Europa. Em segundo lugar, um Hitler com uma personalidade bastante simples e banal, incompetente em termos militares, neurótico na vida do dia-a-dia, em certas ocasiões até tímido (aparentemente, foi essa a razão por que Hitler não gostava de falar ao telefone). Em poucas palavras, um ditador que em tudo seria o contrário de Estaline.
Há muitas indicações de que os oficiais alemães e os agentes do NKVD sabiam exactamente o que era ou não desejável mencionar no relatório. Não há nenhuma menção do Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939, o acordo secreto da divisão da Polónia entre o Reich e a União Soviética, e pouco se fala do Holocausto. Por isso, mais do que um retrato de Hitler, O Livro de Hitler é um retrato da historiografia soviética no auge do estalinismo.
Os dois editores reconhecem as limitações de uma fonte deste tipo, ao propor uma discussão bastante profunda do lugar do documento na historiografia soviética em particular e na historiografia sobre o nazismo em geral. E este aspecto que torna a leitura interessante, muito mais do que os «factos novos» em si. Quem se limitar a O Livro de Hitler corre o risco de ficar com uma imagem defeituosa.
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