\ A VOZ PORTALEGRENSE: O estado da direita em Portugal

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O estado da direita em Portugal

O estado da direita

Depois de Abril
No pós-25 de Abril, as “direitas” refizeram-se ou reconstruíram-se, entre duas principais opções: uma linha, guiada pela memória histórica e intelectual das causas da continuidade – nacionalismo, anti-comunismo, pessimismo – outra atenta aos imperativos da sobrevivência e do mal menor. Uma parte aderiu aos partidos – PSD e CDS – não se preocupando com as suas matrizes ideológicas “de esquerda”, ou “centro” que, com filosofia, considerou um caso de necessitas non habet legem. Outra privilegiou a intervenção cultural, adaptando as mais diversas correntes europeias e anglo-saxónicas, desde o germanismo da Konservative Revoluzion ao gramscianismo da Nouvelle Droite francesa, ao realismo estratégico e liberalismo económico dos conservadores anglo-saxónicos. Uns quiseram agir no imediato político, outros pensar. Embora houvesse cumplicidade e amizade tipo old boys network, estas linhas foram-se afastando, chegando-se ao risco de um pensamento sem utilidade cívica, “académico”, e de uma acção sem pensamento estruturante, logo “oportunista”… .
Que foi o que veio a acontecer e a razão pela qual podiam fazer sentido os tais “estados gerais” ou o que fosse. Mas nunca assim!
Jaime Nogueira Pinto
in, Futuro Presente, 62, ano xxvi, set-out 2006, p. 5
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Esta análise quanto à direita ou direitas nos últimos trinta e três anos em Portugal é correcta. Contudo, não apresenta justificativos para que assim fosse.
Se em relação aos partidos representados no Parlamento onde há gente que se afirma ou define como de direita, CDS-PP e PPD-PSD, é normal que não tenha ideologia para defender ou difundir. O nível a que a classe política, em todos os quadrantes, atingiu em Portugal é tão baixo, que se não pode exigir a qualquer deputado um mínimo de coerência ideológica, coisa que dificilmente compreenderão.
O busílis da questão reside nos grupos de pensamento e na sua incapacidade de fazer chegar a mensagem aos políticos, por muito medíocre que são ou sejam.
À direita, dois grupos como que hegemonizaram o pensamento de direita nas últimas três décadas, o grupo da Resistência e o grupo da Futuro Presente.
Em linhas muito gerais, o primeiro actuou nos dois campos, no pensamento através das revistas Resistência, Economia e Terceiro Milénio, tendo ainda editado livros e realizado colóquios e conferências. Mais tarde veio a estar na fundação da editora Nova Arrancada e em outros momentos culturais. No campo político, participou em movimentos e partidos extra-parlamentares.
O segundo nunca saiu da “redoma” que era a revista, nunca se abriu à sociedade civil, e com o tempo foi perdendo o fôlego, a ponto de hoje já não desempenhar aquele papel de referência dos anos oitenta. Dada a juventude dos seus fundadores, à época, muito se esperava daquele grupo, fazendo-se constantes comparações com o dinamismo dos congéneres franceses Club de l’Horloge ou GRECE.
Portanto, quando hoje Nogueira Pinto escreve, e bem, sobre a direita com “um pensamento sem utilidade cívica”, estará a pensar no que poderia ter sido e não foi o grupo do Futuro Presente. Por muito que isso lhe custe!
MM