Mário Silva Freire
A PERIFERIA DAS PERIFERIAS
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Já várias vezes, e por diversos modos, tentei chamar a atenção do poder local e daqueles que nos representam para a importância das acessibilidades (ou da falta delas!) no desenvolvimento de uma região.
Leio no jornal Fonte Nova de 15 de Novembro passado, numa análise preliminar aos censos de 2011, feita pelo sociólogo José Correia Pais, que o Distrito de Portalegre entre 2001 e 2011, perdeu 8066 habitantes.
Ora, é na oportunidade de criação de emprego que reside o potencial de crescimento de uma região, seja ele demográfico ou económico. Mas o emprego só é gerado se houver investimento. Numa altura em que os poderes públicos estão a conter ou a diminuir os seus contingentes, é na criação de empresas que reside o futuro de uma região.
Admitamos, então, que um investidor está a pensar em criar na região de Portalegre uma PME do sector secundário, aquele que mais perda sofreu nestes últimos anos. Uma das questões que primeiramente colocará será, naturalmente, a que se relaciona com as acessibilidades que tem para transportar as matérias-primas, exportar os seus produtos e modos rápidos e económicos de deslocar os agentes directamente interessados (fornecedores, clientes e produtores).
Como é que Portalegre se situa, nos campos rodoviário e ferroviário, para ser um elemento de atractividade de potenciais investidores? A resposta, infelizmente, é esta: quanto ao sector rodoviário, não andarei longe da verdade se considerar Portalegre a única capital de distrito a não ter uma auto-estrada que a sirva ou, sequer, qualquer via desse tipo em projecto.
Quanto ao sector ferroviário, a resposta foi dada há pouco: o Plano Estratégico de Transportes do Governo prevê o encerramento de 622,7 quilómetros de linha ferroviária e de diversos serviços, entre os quais o transporte de passageiros na Linha do Leste entre Abrantes e Portalegre, bem como a desactivação do Ramal de Cáceres.
Numa altura em que a palavra de ordem é o corte nas despesas e a selecção nos investimentos públicos, pergunto-me sobre qual a razão que leva o governo central, os poderes locais, com todas as entidades e instituições que neles existem e os deputados do distrito, a assistirem, inertes, ou a contribuírem para o afundamento demográfico e económico de uma região como a de Portalegre? Será que por estarmos neste interior tão periférico já saímos do mapa?
Termino com o que escrevi neste mesmo blog em 28 de Outubro de 2009: “É dos manuais da ciência política que a melhor maneira de aglutinar vontades é encontrar um inimigo comum. Ora, aqui, se inimigos existem, eles têm a ver com o desemprego e a desertificação humana. Então, porque não eleger estes inimigos para aglutinar esforços no sentido de exigir das entidades competentes a criação de uma Linha do Leste condigna que sirva a cidade e a região de Portalegre?”
Mário Freire
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