António Martinó de Azevedo Coutinho
É apenas uma bronca, mais uma, no alucinado reino da educação indígena. Desta vez, mais uma vez, é sobre provas escolares. O episódio vem glosado, o gozado, em tudo quanto é sítio público.
Vale a pena recordá-lo, uma vez mais.
Aconteceu num recente teste intermédio da disciplina de Físico-Química, oficial e nacional, proposto aos alunos do 9.º ano de escolaridade. A prova foi elaborada pelo gabinete de Avaliação Educacional do Ministério da Educação. Entre outras perguntas (algumas igualmente risíveis!) encontrava-se a seguinte:
Repito, para que se possa encarar isto como merece, que se trata duma prova nos domínios da disciplina de Físico-Química, destinada a alunos do 9.º ano de escolaridade, situados portanto no escalão etário dos 15/16 anos.
Como é evidente, mesmo para quem não se mova nos domínios da Educação, a pergunta mais óbvia que se impõe será a de nos interrogarmos sobre os objectivos, ou metas, que os “especialistas” do tal Gabinete pretendem avaliar.
Saber contar até oito, e nada mais é preciso para responder correctamente a esta questão, situar-se-á no seio dos lúdicos entretenimentos de um qualquer jardim de infância que se preze. Pessoalmente, nos tempos que passam, nem me atrevo a situar esta exigência nos domínios da escolaridade mais básica. Até mesmo qualquer analfabeto funcional sabe contar, no mínimo, até vinte...
Que secreto domínio da ciência Físico-Química estará aqui, submerso ou oculto, nas complexidades do enunciado da questão? - será outra das perguntas que também apetece formular, dirigida aos “especialistas” ministeriais.
Como é óbvio, este anedótico episódio tem servido para as mais inflamadas críticas e risotas anexas.
O catedrático Carlos Fiolhais, responsável pelo Centro de Física Computacional da Universidade de Coimbra, comentou assim o tema, num jornal diário: “Essa pergunta é uma coisa verdadeiramente inacreditável, que mostra o estado horrível a que o nosso sistema de ensino chegou. (...) Há várias perguntas no teste que não avaliam mais do que a capacidade de ler, fazer contas simples e até de desenhar. Aquilo é Física? Acho que não. (...) Se calhar estão a insultar milhões de portugueses. Isto são as Novas Oportunidades aplicadas a todo o sistema de ensino.”
A máquina ministerial, de facto, parece ter vindo a encarniçar-se contra os professores, centrando quase todas as atenções na sua avaliação.
No presente caso -envolvendo também uma questão de avaliação- os responsáveis ministeriais revelaram uma aflitiva carência de qualidade mínima, parecendo apenas preocupados com a obtenção de resultados estatísticos onde sejam disfarçadas as flagrantes debilidades do nosso sistema de ensino oficial.
PS – Não resisto à tentação de citar mais um comentário do Professor Carlos Fiolhais sobre a cretina questão planetária: “A própria formulação da pergunta é absurda. Informam que Plutão já não é classificado como um planeta desde 2006 mas depois acrescentam que ‘continua a fazer parte do sistema solar’, não fosse haver o risco de os alunos acharem que se tinha ido embora...”
Provavelmente para a Lua -acrescento eu- fazer companhia aos criadores do teste!
António Martinó de Azevedo Coutinho
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home