Luís Pargana
DESABAFOS - X
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Investimentos certos no momento certo
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Investimentos certos no momento certo
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Muitos de nós ainda nos lembramos das embalagens de leite tetraédicas, de cor azul e branca, que caracterizavam o leite produzido e embalado em Portalegre, de nome Serraleite.
Serraleite, o leite da serra de S. Mamede, é uma indústria de sucesso da nossa terra, nascida em 1969 a partir de um plano da Federação dos Grémios da Lavoura para que a região de Portalegre fosse considerada como "zona organizada de recolha de leite para consumo em natureza".
A famosa embalagem tetrapack que acondicionava meio litro de leite, surgiu em 1971 e representou um sistema bastante avançado para a época, por poder conservar todas as qualidades do leite, sem necessitar refrigeração, por um período de cerca de três meses. Portalegre estava, assim, na vanguarda técnica desta importante agro-indústria, e sentia-se orgulhosa em ser pioneira neste género de embalagens, em todo o país.
Hoje, a Serraleite é a cooperativa agrícola dos produtores de leite de Portalegre e conta com cerca de 70 associados, dos quais 40 entregam diariamente o seu leite para tratamento, embalagem e comercialização. Por dia, a Serraleite chega a recolher e tratar cerca de 90 mil litros de leite, contando para tal, com o desempenho profissional de 72 trabalhadores.
No mundo globalizado dos nossos dias a Serraleite conta com poderosos concorrentes, mas também sabe estabelecer parcerias estratégicas, como a estabelecida com o grupo Jerónimo Martins, que lhe permitem alargar a capacidade produtiva até ao milhão de litros, aumentando também a sua potencialidade empregadora.
Com meio século de actividade, em Portalegre, a Serraleite pode considerar-se uma das nossas indústrias tradicionais, na área das agro-indústrias, sendo um sector estratégico da nossa actividade industrial e produtiva.
Como sabemos, esta indústria continua a laborar em pleno centro histórico da cidade de Portalegre o que, naturalmente, condiciona o seu desenvolvimento empresarial e a modernização necessária a uma empresa com actividade no século XXI.
Para acautelar estas necessidades, as cidades a partir do início dos anos 80 passaram a prever áreas de expansão urbana denominadas zonas industriais e que tinham como objectivo acolher as empresas industriais que asseguram o emprego e a riqueza, fundamentais para o seu desenvolvimento.
Digamos que a infraestruturação das zonas industriais nas cidades e a criação de condições atractivas para que nelas se fixem empresas eram as contrapartidas de investimento público, por parte dos Municípios, para a atracção do investimento privado e a promoção da actividade económica.
Ora, na cidade de Portalegre a zona industrial apesar de repetidamente apontada como prioridade estratégica pelos executivos presididos por Mata Cáceres, não conseguiu até este terceiro mandato instalar uma única indústria significativa. Pelo contrário, assistiu à saída da Johnson’s Control, transferida para outro qualquer lugar do mundo, como é vulgar nas empresas multinacionais.
Obviamente não se podem atribuir culpas a um Presidente de Câmara pela não opção por Portalegre por parte das empresas industriais. Mas, outra coisa são as nossas empresas, aquelas que nos habituámos a associar a Portalegre e que fazem parte da nossa identidade de cidade industrial.
E, em relação a essas, pelo menos, a Câmara Municipal tem responsabilidades acrescidas na sua manutenção e na garantia de condições para que se possam desenvolver e sobreviver no mundo competitivo em que vivemos. E a criação de condições favoráveis à sua deslocalização do centro da cidade para a zona industrial é condição essencial para a sua sobrevivência. E aí, Mata Cáceres tem falhado redondamente.
Como sabemos, a Robinson entrou em processo de insolvência, enquanto aguardava pela infraestruturação prometida no lote da zona industrial que lhe estava destinado. A Robinson II faliu antes mesmo de ter conseguido a transferência anunciada. A recentemente criada Rob Cork ia desistindo perante a imperícia como o processo de negociação da transferência para as antigas instalações da Johnson’s Control estava a ser conduzido.
Sabe-se, agora, que a Serraleite enfrenta a necessidade de garantir um investimento de cerca de 10 milhões de euros para construir e equipar a nova unidade a transferir para a zona industrial. Só o projecto custa cerca de cem mil euros.
E enquanto não reúne os apoios indispensáveis a esta deslocalização, a empresa vai-se “arrastando” pelas antigas instalações, enquanto os anunciados 300 lotes da zona industrial continuam à espera das indústrias que tardam em chegar à nossa cidade.
É caso para dizer que uma Câmara Municipal também se afirma pela capacidade de assumir os investimentos certos no momento certo. É essa coragem que Portalegre precisa e os portalegrenses exigem.
30 de Março de 2010
Luís Pargana
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