Luís Pargana
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DESABAFOS - IX
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Hoje no Mundo
DESABAFOS - IX
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Hoje no Mundo
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A minha crónica de hoje aborda três assuntos. Três desabafos sobre três temas distintos mas que se relacionam, como tudo o que acontece hoje no Mundo.
O primeiro decorre da comemoração do Dia Mundial da Água que se celebrou ontem, em todo o Mundo, e que deve alertar as nossas consciências.
Todos sabemos que a água é um recurso essencial à vida e que, ao contrário da convicção do senso comum, não é um recurso infinito. Alguns dos grandes conflitos mundiais de hoje, têm já o controlo da água como questão central, como é o caso dos colonatos da Faixa de Gaza, no conflito israelo-palestiniano.
Pois bem, nas comemorações do Dia Mundial da Água, no nosso País, ficámos a saber que ainda há cerca de 200 mil portugueses que não têm acesso a água em condições aceitáveis de potabilidade. Isto acontece em diferentes zonas do nosso País e acontecia também no concelho do Crato até há bem pouco tempo, em que a água que saía das torneiras não tinha condições para ser bebida em segurança e com qualidade de sabor e salubridade. Ora, o Crato é, precisamente, o concelho onde está prevista a construção de uma das mais importantes barragens do País e do Alentejo – A barragem do Pisão.
Com construção prevista há mais de 50 anos, desde que foi feito o Plano de Rega do Alentejo, esta barragem seria útil tanto para o abastecimento de água às populações, como para fins agrícolas, de produção hidroeléctrica e como recurso de enorme potencial turístico. Enfim, seria uma infra-estrutura essencial ao progresso e ao desenvolvimento da Região.
No entanto, a sua construção continua adiada e, recentemente, foi mesmo criticada em declarações de um responsável pela empresa que gere as águas do norte alentejano. É caso para dizer que sendo a água fonte de vida, a sua gestão não pode ser feita com base em critérios puros de gestão empresarial, na obtenção de lucros e na redução de despesas. Investir na Vida e no Futuro das populações é uma obrigação de todos os que, no presente, têm responsabilidades públicas. E se há investimento que tem retorno inquestionável é o investimento na água, na sua qualidade e na sua preservação.
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E do Crato salto para o outro lado do Mundo, para me congratular com a aprovação que ontem aconteceu nos Estados Unidos da América, do Plano de Saúde apresentado pelo Presidente Obama. Com este Plano, 40 milhões de norte americanos vão passar a ter acesso a serviços e cuidados de saúde que antes lhes estavam vedados porque eram exclusivo dos negócios de saúde feitos pelas seguradoras.
Isto acontecia no País dito mais desenvolvido do Mundo e provava que a democracia americana não era, afinal, para todos, em questões tão essenciais como o acesso à saúde.
Barack Obama teve a coragem de enfrentar os poderosos monopólios dos seguros de saúde e abrir o sistema a toda a população. Teve de contrariar os egoísmos dos mais poderosos que contestam qualquer sistema social baseado na solidariedade contributiva e deu uma lição a todo o Mundo de como combater a crise, apostando na qualidade de vida das pessoas e enfrentando os interesses económicos que regulam a economia mundial e que, em nome da manutenção dos seus lucros são, afinal, os principais responsáveis por esta crise.
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Esta lição bem podia ser aprendida pelo governo português antes da apresentação do tão recente, mas já tão tristemente famoso Programa de Estabilidade Económica – o PEC. É evidente que todos pretendemos a recuperação económica do nosso País, mas esta recuperação não pode ser feita contra e à custa das pessoas.
Ora é isso, precisamente, que o PEC advoga: congelar salários, reduzir as prestações sociais, cortar o investimento público e as deduções fiscais e privatizar o pouco que ainda resta do sector público do Estado.
É caso para dizer que depois de vendidos os anéis vão-se agora vender os dedos e quem vier depois que se aguente.
Com este Programa não se vê o fim para a crise sentida pelas famílias e pelas camadas mais desfavorecidas da população portuguesa. Ainda por cima, os argumentos apresentados revelam o mais absoluto cinismo e desconsideração pelas pessoas, como é o caso da proposta de diminuição do subsídio de desemprego para, dizem, incrementar a procura de emprego. Quando o próprio estudo aponta a inevitabilidade do aumento desse desemprego que hoje afecta já mais de um milhão de portugueses.
Com as pessoas a viverem pior e sem poder de compra, enquanto os grupos económicos aumentam os seus lucros à custa de medidas artificiais, como esta, dificilmente poderá haver relançamento económico do País.
Curiosamente, o sinal de que a crise não pode ser combatida contra as pessoas e sem medidas sociais que favoreçam a igualdade de oportunidades veio da América – a pátria do liberalismo económico, com o Plano de saúde de Obama.
Faz falta, agora, que a velha Europa do Estado Social olhe para esse exemplo antes de se descaracterizar no mais puro e duro neo-liberalismo e antes que seja tarde de mais.
23 de Março de 2010
Luís Pargana
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