\ A VOZ PORTALEGRENSE: Luís Filipe Meira

quinta-feira, fevereiro 11, 2010

Luís Filipe Meira

Jazz em Fevereiro
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O Portalegre JazzFest vai cumprir dentro de dias a sua 8.ª edição, terá sido - hoje não sei - a manifestação cultural mais importante do Norte Alentejano com referências em toda a comunicação social nacional generalista. O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa chegou mesmo a elogiar o festival na sua intervenção de domingo à noite, Nuno Rogeiro fez o mesmo e os grandes jornais nacionais faziam a cobertura do evento.
Hoje naturalmente que ainda há imensas referencias ao festival, mas com menos expressão e há quem diga que as coisas estão diferentes e já não são a mesma coisa até porque a cidade também nunca considerou o JazzFest como uma manifestação de vitalidade cultural.
Será assim?
Continua a justificar-se um investimento expressivo numa manifestação que está longe de mobilizar a cidade?
A perda de gás que se tem vindo a notar em relação às primeiras edições é real?
Será que este formato de estender o festival por dois fins-de-semana é correcto?
E as datas serão as mais aconselháveis?
Será que o Portalegre Jazzfest traz algum valor acrescentado substancial à promoção turística da região e será que essa ligação tem sido bem gerida?
Finalmente, deve esta aposta ser mantida como prioritária no mapa cultural da autarquia?
Estas são questões a meu ver pertinentes que colocámos como base para um testemunho a cinco pessoas de referência na vida cultural da cidade e que de alguma forma estão próximas do Portalegre Jazzfest.
Na semana passada publicámos o testemunho de Joaquim Ribeiro, director artístico do CAEP, hoje publicamos a opinião de António Eustáquio um musico de múltiplas facetas entre as quais o Jazz e de José Polainas, vereador da cultura no último mandato autárquico. Os outros dois testemunhos apesar de confirmados não chegaram até ao fecho desta edição, e se eles eram importantes.
Luís Filipe Meira
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ANTÓNIO EUSTÁQUIO
O Portalegre Jazzfest já está instalado no calendário nacional dos Festivais de Jazz. É sem dúvida um dos acontecimentos mais importantes para a região. Deixou de ser novidade porque é um dado adquirido e por isso a sua existência não merece empolgação mas sim referência.
A cultura não se pode enquadrar como um investimento de lucro imediato. A criação de públicos e o seu enriquecimento cultural tem sido um dos principais alicerces para construção e desenvolvimento das muitas regiões e países desenvolvidos.
De início houve o factor novidade, claro. Nas primeiras edições do Festival era de esperar uma afluência de público fora do comum para este tipo de evento. Muitos portalegrenses ouviram pela primeira vez Jazz ao vivo, a nível internacional, e isso contagiou a população em geral. Foi fantástico sentir essa energia. A programação do CAEP tem sido diversificada ao longo dos anos e isso contribui para uma dispersão dos públicos e consequentemente uma menor concentração de público neste evento. Por outro lado, a cidade não se pode limitar ao seu Festival anual de Jazz. Tem que apostar na formação de músicos e públicos ao longo de todo o ano. A articulação entre a autarquia e as instituições culturais da cidade seria um bom começo na procura de soluções para a formação específica dos jovens nesta área.
Em minha opinião, o formato de três dias de Festival, como se verificou inicialmente, tinha mais impacto junto do público. Tinha um critério, um equilíbrio, uma orientação coerente. O primeiro dia com o Jazz tocado por portugueses; o segundo dia com Jazz europeu e finalizava com Jazz americano. Permitia uma visão conjunta de diferentes abordagens e estilos e facilitava a deslocação de públicos oriundos de outras regiões que programavam com antecedência a vinda ao Portalegre Jazzfest para esse fim-de-semana.
Um evento desta natureza beneficia sempre a região. Aliás, nesta região acontecem ao longo do ano diversas manifestações culturais que, a meu ver, necessitavam de uma verdadeira articulação no capítulo da divulgação conjunta pelas diferentes autarquias que a compõem. Programas conjuntos a serem divulgados nos postos de turismo de cada localidade, nas unidades Hoteleiras, Restaurantes e Bares, em que no mesmo suporte constasse tudo o que de importante acontecesse num determinado período de tempo. Falta, porém, uma boa rede de transportes que permitisse aos visitantes a sua deslocação entre as diferentes localidades de forma a permitir visitas a museus e assistir a diferentes manifestações culturais a partir das unidades hoteleiras. Não é só importante promover a região lá fora. Temos que criar aqui as condições de ofertas de modo a tornar mais apelativo a circulação de turistas pela região. Já lá vai o tempo do chamado turismo meramente contemplativo. A oferta cultural, estruturada, torna-se urgente.
Deve ser uma das prioridades, se entendermos este Festival numa perspectiva de enriquecimento turístico e cultural para a nossa região. Creio que está a precisar, neste momento, de outra dinâmica. Rever o seu formato, apostar mais na sua divulgação e, como já disse, apostar ao longo do ano numa programação continuada e na formação de músicos locais na área do Jazz.
António Eustáquio
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JOSÉ POLAINAS
Todos os Festivais têm a sua “evolução critica”, de uma primeira fase de nascimento, crescimento e consolidação para uma de afirmação e sobrevivência..., é neste ponto em que o Portalegre JazzFest se encontra.
Em termos de investimento ele encontra-se estável, com o seu redimensionamento passou a “gastar-se” menos e a ter-se mais espectáculos, o exemplo disso foi a edição de 2009... foi das “mais económicas” e com melhor qualidade em termos musicais, dai eu não poder concordar com a “perda de gás”, antes pelo contrário. De salientar que é o próprio CAEP que “produz” na sua totalidade o Festival.
Os formatos que se implementaram ao longo das suas edições tiveram a ver com “pedidos” vários de clientes habituais e a própria percepção de quem organiza, é algo que está em aberto para, se for caso disso, se avaliar e modificar de novo, foi essa a lógica. Continua a ser o 1º festival do ano em Portugal.
O relacionamento com a cidade é típico da própria cidade...ainda hoje há gente que não foi ao CAEP..., independentemente desta sala já pertencer aos roteiros turístico-culturais do País...
Como evento integrado numa programação “normal” de uma sala como o CAEP esta referência ao JAZZ é de manter mas, como é normal, ser avaliada continuadamente em termos de “target” e poder ser potencialmente analisada a sua “viabilidade” nas suas mais variadas formas.
José Polainas
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in Alto Alentejo – 10 de Fevereiro 2010 – Terra a Terra – 11