Luís Pargana
Nos últimos dias, o drama que se vive no Haiti entra diariamente em nossas casas, nas aberturas dos noticiários televisivos, nas primeiras páginas dos jornais, nas mais diversas reportagens jornalísticas.
A dimensão da tragédia não é para menos: mais de 150 mil mortos, uma metrópole devastada num cenário de desolação sem precedentes, quase dois milhões de desalojados, meio milhão de feridos sem acesso a medicamentos, sede, fome e pilhagens numa inglória luta pela sobrevivência. Se procurássemos uma imagem do “apocalipse” seria fácil encontrarmos uma representação nas muitas que documentam a tragédia.
Mas o que as imagens não dizem é que a tragédia do Haiti começou muito antes do terramoto. O drama que sofre, agora, o povo do Haiti é consequência directa das teias de interesses internacionais que, ao longo da história, foram secando nações nas suas riquezas nacionais e estratégicas, dominando e explorando populações inteiras subjugadas a lógicas alheias.
Sendo uma nação fundada no colonialismo, primeiro espanhol e, depois, francês, aquele que é o segundo mais antigo país da América sofreu com o imperialismo norte-americano, sobretudo durante os anos da guerra fria.
Na segunda metade do século XX, o Haiti ficou marcado pela ditadura sangrenta de Papa Doc, aliado estratégico dos Estados Unidos, a quem sucedeu o próprio filho, Baby Doc que se auto-proclamou “presidente vitalício” até ser deposto num dos muitos golpes de estado que têm afligido o País. As décadas de dura repressão tolheram qualquer esperança de desenvolvimento e de bem-estar para os seus habitantes.
O atraso estrutural manteve-se depois da entrada no novo século e a incompetência governativa, aliada à hipocrisia internacional das potências suas aliadas, levaram ao fatalismo da miséria daquele povo e à desproporção da tragédia que agora aconteceu.
Ironia das ironias é a declaração de Baby Doc, a partir da sua luxuosa residência actual, em França, a anunciar a doação de 8 milhões de dólares, da sua fortuna pessoal, destinados às vítimas do terramoto. Assim se pode avaliar a dimensão das desigualdades naquele País e o fim que têm levado as suas riquezas materiais.
É claro que a origem do terramoto tem causas naturais, mas até parece que as catástrofes naturais escolhem apenas os mais pobres e os menos desenvolvidos.
A verdade é que este não é o primeiro terramoto a acontecer no Haiti, mas o que é incompreensível é a falta de capacidade de previsão e a total inexistência do mais simples mecanismo de protecção civil num País fundado sobre uma placa tectónica instável e incontrolável.
Isso é que é preciso denunciar para que nunca mais aconteça uma tragédia com estas consequências humanas.
A capacidade de previsão dos fenómenos naturais e a possibilidade de planeamento para minimizar os seus efeitos, garantindo o bem-estar das populações é, aliás, o paradigma do mundo desenvolvido.
Vem esta reflexão a propósito de uma das imagens que mais me impressionou, de entre as muitas cenas de terror que têm ilustrado a catástrofe no Haiti: uma imensa multidão em tumulto, atropelando-se na tentativa de alcançar um autotanque de distribuição de água, em quantidade claramente insuficiente para tanta gente desesperada. Sendo a água indispensável à vida, a sua falta é um dos problemas mais sentidos em toda esta tragédia.
E, parecendo estar tão longe, este é, precisamente, um dos maiores problemas actuais de toda a Humanidade, em resultado directo das alterações climáticas do Planeta e do seu aquecimento global.
Por isso, planear as melhores soluções para evitar que este problema se transforme numa tragédia do nosso futuro próximo é um imperativo local, nacional e internacional.
Não se percebe, portanto, como é que num país europeu, em pleno século XXI se continuam a adiar decisões fundamentais que garantam a constituição de reservas de água estratégicas e necessárias ao bem-estar das populações, ao seu desenvolvimento e qualidade de vida. Refiro-me a Portugal, a este distrito de Portalegre e a um empreendimento adiado há mais de 50 anos e que, não restam dúvidas, representa um potencial de progresso e de desenvolvimento num país desigual e com atrasos estruturais acentuados.
Não sendo panaceia para todos os males, a muitas vezes anunciada e sempre adiada Barragem do Pisão, representa, um potencial de esperança e de desenvolvimento para uma população que, por enquanto sem terramotos nem catástrofes comparáveis à que vemos no Haiti, vê o seu futuro constantemente adiado.
Voltarei ao tema em futuro desabafo, espero que com as feridas do Haiti já sanadas.
A dimensão da tragédia não é para menos: mais de 150 mil mortos, uma metrópole devastada num cenário de desolação sem precedentes, quase dois milhões de desalojados, meio milhão de feridos sem acesso a medicamentos, sede, fome e pilhagens numa inglória luta pela sobrevivência. Se procurássemos uma imagem do “apocalipse” seria fácil encontrarmos uma representação nas muitas que documentam a tragédia.
Mas o que as imagens não dizem é que a tragédia do Haiti começou muito antes do terramoto. O drama que sofre, agora, o povo do Haiti é consequência directa das teias de interesses internacionais que, ao longo da história, foram secando nações nas suas riquezas nacionais e estratégicas, dominando e explorando populações inteiras subjugadas a lógicas alheias.
Sendo uma nação fundada no colonialismo, primeiro espanhol e, depois, francês, aquele que é o segundo mais antigo país da América sofreu com o imperialismo norte-americano, sobretudo durante os anos da guerra fria.
Na segunda metade do século XX, o Haiti ficou marcado pela ditadura sangrenta de Papa Doc, aliado estratégico dos Estados Unidos, a quem sucedeu o próprio filho, Baby Doc que se auto-proclamou “presidente vitalício” até ser deposto num dos muitos golpes de estado que têm afligido o País. As décadas de dura repressão tolheram qualquer esperança de desenvolvimento e de bem-estar para os seus habitantes.
O atraso estrutural manteve-se depois da entrada no novo século e a incompetência governativa, aliada à hipocrisia internacional das potências suas aliadas, levaram ao fatalismo da miséria daquele povo e à desproporção da tragédia que agora aconteceu.
Ironia das ironias é a declaração de Baby Doc, a partir da sua luxuosa residência actual, em França, a anunciar a doação de 8 milhões de dólares, da sua fortuna pessoal, destinados às vítimas do terramoto. Assim se pode avaliar a dimensão das desigualdades naquele País e o fim que têm levado as suas riquezas materiais.
É claro que a origem do terramoto tem causas naturais, mas até parece que as catástrofes naturais escolhem apenas os mais pobres e os menos desenvolvidos.
A verdade é que este não é o primeiro terramoto a acontecer no Haiti, mas o que é incompreensível é a falta de capacidade de previsão e a total inexistência do mais simples mecanismo de protecção civil num País fundado sobre uma placa tectónica instável e incontrolável.
Isso é que é preciso denunciar para que nunca mais aconteça uma tragédia com estas consequências humanas.
A capacidade de previsão dos fenómenos naturais e a possibilidade de planeamento para minimizar os seus efeitos, garantindo o bem-estar das populações é, aliás, o paradigma do mundo desenvolvido.
Vem esta reflexão a propósito de uma das imagens que mais me impressionou, de entre as muitas cenas de terror que têm ilustrado a catástrofe no Haiti: uma imensa multidão em tumulto, atropelando-se na tentativa de alcançar um autotanque de distribuição de água, em quantidade claramente insuficiente para tanta gente desesperada. Sendo a água indispensável à vida, a sua falta é um dos problemas mais sentidos em toda esta tragédia.
E, parecendo estar tão longe, este é, precisamente, um dos maiores problemas actuais de toda a Humanidade, em resultado directo das alterações climáticas do Planeta e do seu aquecimento global.
Por isso, planear as melhores soluções para evitar que este problema se transforme numa tragédia do nosso futuro próximo é um imperativo local, nacional e internacional.
Não se percebe, portanto, como é que num país europeu, em pleno século XXI se continuam a adiar decisões fundamentais que garantam a constituição de reservas de água estratégicas e necessárias ao bem-estar das populações, ao seu desenvolvimento e qualidade de vida. Refiro-me a Portugal, a este distrito de Portalegre e a um empreendimento adiado há mais de 50 anos e que, não restam dúvidas, representa um potencial de progresso e de desenvolvimento num país desigual e com atrasos estruturais acentuados.
Não sendo panaceia para todos os males, a muitas vezes anunciada e sempre adiada Barragem do Pisão, representa, um potencial de esperança e de desenvolvimento para uma população que, por enquanto sem terramotos nem catástrofes comparáveis à que vemos no Haiti, vê o seu futuro constantemente adiado.
Voltarei ao tema em futuro desabafo, espero que com as feridas do Haiti já sanadas.
26 de Janeiro de 2010
Luís Pargana
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