Crónica de Nenhures
José Maria dos Reis Pereira nasce em Vila do Conde a 17 de Dezembro de 1901. Viveu grande parte da sua vida na cidade de Portalegre, regressando a Vila do Conde, onde vem a falecer em 22 de Dezembro de 1969.
É em Vila do Conde que permanece arte completar o quinto ano do liceu, indo depois estudar para o Porto em 1918. Em 1920 inicia em Coimbra, como aluno voluntário, o curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras, que conclui em 1925.
Após o curso da Escola Normal Superior de Coimbra e o Exame de Estado, inicia a sua actividade de professor do ensino secundário em 1928 no Liceu Alexandre Herculano, no Porto. Em Outubro de 1929, parte para Portalegre para leccionar no Liceu Mouzinho da Silveira, acabando por aí ficar a exercer a carreira docente, durante trinta e dois anos.
António de Oliveira Salazar nasce em Vimieiro, Santa Comba Dão, a 28 de Abril de 1889, e vem a falecer em Lisboa em 27 de Julho de 1970. Antes, a 27 de Setembro de 1968, terminava a sua vida pública.
Em 1900, Salazar conclui a instrução primário, indo continuar os estudos em Viseu, onde fica até 1910. Depois muda-se para Coimbra para estudar Direito. Em 1914, concluiu o curso de Direito e torna-se, dois anos depois, assistente de Ciências Económicas. Assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917, e alcança o grau de Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra em 1918, sendo desde esta data Professor Ordinário da Faculdade de Direito daquela Universidade.
Em Junho de 1926, Salazar toma posse da pasta das finanças, mas passados treze dias renuncia ao cargo e retorna a Coimbra, por não lhe haverem satisfeito as condições que achava indispensáveis ao seu exercício. E em 27 de Abril de 1928 reassume a pasta das finanças, deixando de vez a cidade de Coimbra.
Entre Salazar e José Régio havia uma diferença de idades superior a uma dúzia de anos, mas há um tempo de ‘vida comum’ entre eles na cidade de Coimbra. Entre os anos de 1920 e 1928, o professor e o estudante ter-se-ão cruzado inúmeras vezes, e quiçá trocado alguma palavra, uma vez que fosse. Na época, o ambiente coimbrão era restrito a uma pequena área, e sabendo-se onde Salazar e Régio viviam, a distância entre as duas casas, ambas na Alta, não era grande. Também a Faculdade de Letras distava escassos metros dos Gerais, se bem que para Salazar o caminho mais curto para a sua Faculdade fosse pela Porta de Minerva, junto à Biblioteca Joanina.
Mas Régio conhecia Salazar, que gozava na Academia forte prestígio, tal como Salazar conhecia Régio que em 1927 é um dos fundadores da revista Presença, que de imediato se tornou conhecida, e que já antes em 1925 tinha publicado o seu primeiro livro, Poemas de Deus e do Diabo.
Salazar em Lisboa e Régio em Portalegre seguem percursos muito diferentes. Dificilmente se terão voltado a cruzar, a encontrar, mas com toda a certeza sabem da ‘existência’ um do outro. É uma evidência!
Em 1956, José Régio organiza uma antologia poética, que intitula Poesia de Ontem e de Hoje para o nosso Povo Ler. É uma ‘encomenda’ do regime do Estado Novo, que tem em prática uma Campanha Nacional de Educação de Adultos.
Contudo, esta antologia vai mais longe, porque a sua qualidade literária, e estética fruto das ilustrações de António Vaz Pereira, assim o exigem. Hoje é um ‘produto’ de alfarrabista de alto valor.
A seguir a cada poema, José Régio faz uma pequena análise do mesmo e sobre o autor, de uma sensibilidade extrema, no mesmo sentir da própria introdução à antologia, páginas sete e oito, e que recordamos:
É em Vila do Conde que permanece arte completar o quinto ano do liceu, indo depois estudar para o Porto em 1918. Em 1920 inicia em Coimbra, como aluno voluntário, o curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras, que conclui em 1925.
Após o curso da Escola Normal Superior de Coimbra e o Exame de Estado, inicia a sua actividade de professor do ensino secundário em 1928 no Liceu Alexandre Herculano, no Porto. Em Outubro de 1929, parte para Portalegre para leccionar no Liceu Mouzinho da Silveira, acabando por aí ficar a exercer a carreira docente, durante trinta e dois anos.
António de Oliveira Salazar nasce em Vimieiro, Santa Comba Dão, a 28 de Abril de 1889, e vem a falecer em Lisboa em 27 de Julho de 1970. Antes, a 27 de Setembro de 1968, terminava a sua vida pública.
Em 1900, Salazar conclui a instrução primário, indo continuar os estudos em Viseu, onde fica até 1910. Depois muda-se para Coimbra para estudar Direito. Em 1914, concluiu o curso de Direito e torna-se, dois anos depois, assistente de Ciências Económicas. Assumiu a regência da cadeira de Economia Política e Finanças em 1917, e alcança o grau de Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra em 1918, sendo desde esta data Professor Ordinário da Faculdade de Direito daquela Universidade.
Em Junho de 1926, Salazar toma posse da pasta das finanças, mas passados treze dias renuncia ao cargo e retorna a Coimbra, por não lhe haverem satisfeito as condições que achava indispensáveis ao seu exercício. E em 27 de Abril de 1928 reassume a pasta das finanças, deixando de vez a cidade de Coimbra.
Entre Salazar e José Régio havia uma diferença de idades superior a uma dúzia de anos, mas há um tempo de ‘vida comum’ entre eles na cidade de Coimbra. Entre os anos de 1920 e 1928, o professor e o estudante ter-se-ão cruzado inúmeras vezes, e quiçá trocado alguma palavra, uma vez que fosse. Na época, o ambiente coimbrão era restrito a uma pequena área, e sabendo-se onde Salazar e Régio viviam, a distância entre as duas casas, ambas na Alta, não era grande. Também a Faculdade de Letras distava escassos metros dos Gerais, se bem que para Salazar o caminho mais curto para a sua Faculdade fosse pela Porta de Minerva, junto à Biblioteca Joanina.
Mas Régio conhecia Salazar, que gozava na Academia forte prestígio, tal como Salazar conhecia Régio que em 1927 é um dos fundadores da revista Presença, que de imediato se tornou conhecida, e que já antes em 1925 tinha publicado o seu primeiro livro, Poemas de Deus e do Diabo.
Salazar em Lisboa e Régio em Portalegre seguem percursos muito diferentes. Dificilmente se terão voltado a cruzar, a encontrar, mas com toda a certeza sabem da ‘existência’ um do outro. É uma evidência!
Em 1956, José Régio organiza uma antologia poética, que intitula Poesia de Ontem e de Hoje para o nosso Povo Ler. É uma ‘encomenda’ do regime do Estado Novo, que tem em prática uma Campanha Nacional de Educação de Adultos.
Contudo, esta antologia vai mais longe, porque a sua qualidade literária, e estética fruto das ilustrações de António Vaz Pereira, assim o exigem. Hoje é um ‘produto’ de alfarrabista de alto valor.
A seguir a cada poema, José Régio faz uma pequena análise do mesmo e sobre o autor, de uma sensibilidade extrema, no mesmo sentir da própria introdução à antologia, páginas sete e oito, e que recordamos:
UMA PALAVRA
Amigo Leitor:
BEM-FADOU Deus a nossa Pátria com o dom da poesia. Entre todas as nações do mundo, Portugal é das que geraram mais e maiores poetas. Não podia, pois, deixar de ser muito incompleta esta breve colecção de poesias portuguesas. Muitos outros poetas possuímos além dos que te irei apresentando. Nem, por agora. Aqui puderam caber alguns dos grandes. Muitos outros aspectos oferecem os apresentados, através das suas várias obras. Assim, não é este livrinho senão uma tentativa para te abrir o apetite de mais. Nele procurei reunir poesias tanto quanto possível acessíveis e agradáveis a quem principia a ler versos, – sem, porém, deixarem de ser de bom quilate. Se alguma coisa te puderem auxiliar os breves comentários que lhes juntei, ainda bem que aí vão. E, se vieres a dispensá-los, melhor. Por mim, bem satisfeito me sentirei em te despertando este livrinho aquela sede que só a poesia pode saciar, sem – como dever ser – a matar de todo: sede de Beleza, de Bondade, de Amor, de Sonho, de Entendimento, – verdadeira dignidade do homem.
JOSÉ RÉGIO
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Vai sair desta antologia uma segunda edição em 1969, em tudo idêntica à primeira.
E dentro dessa mesma ‘identidade’ está a página cinco, onde em maiúsculas está uma frase, melhor, um pensamento de Salazar. Nele fala-se do Homem, do Espírito e dos seus Valores e dos Povos. Infere-se dela que é do Espírito e dos seus Valores que os Povos encontram a Paz.
Na Biblioteca Municipal de Portalegre está à disposição dos seus utilizadores a segunda edição desta antologia poética.
Todavia, nela foi perpetrado um acto de vandalismo. A página cinco foi cortada, num manifesto acto de censura.
Hoje, quem consultar esta obra, vai encontrá-la conspurcada pela mais vil das manifestações de intolerância. Quem cometeu este acto de barbárie está a coberto do anonimato, ‘qualidade’ muito ‘cultivada’ em Portalegre, ‘ontem’, como ‘hoje’, e infelizmente de certeza também ‘amanhã’.
A tentativa de reescrever a História é milenar. Em Portalegre, a propósito de José Régio, alguém a quis reescrever. Mas foi descoberto. Não quem o fez, mas o acto em si.
É bem verdade que com ‘amigos’ como ‘este’, José Régio jamais precisará de ‘inimigos’!...
E dentro dessa mesma ‘identidade’ está a página cinco, onde em maiúsculas está uma frase, melhor, um pensamento de Salazar. Nele fala-se do Homem, do Espírito e dos seus Valores e dos Povos. Infere-se dela que é do Espírito e dos seus Valores que os Povos encontram a Paz.
Na Biblioteca Municipal de Portalegre está à disposição dos seus utilizadores a segunda edição desta antologia poética.
Todavia, nela foi perpetrado um acto de vandalismo. A página cinco foi cortada, num manifesto acto de censura.
Hoje, quem consultar esta obra, vai encontrá-la conspurcada pela mais vil das manifestações de intolerância. Quem cometeu este acto de barbárie está a coberto do anonimato, ‘qualidade’ muito ‘cultivada’ em Portalegre, ‘ontem’, como ‘hoje’, e infelizmente de certeza também ‘amanhã’.
A tentativa de reescrever a História é milenar. Em Portalegre, a propósito de José Régio, alguém a quis reescrever. Mas foi descoberto. Não quem o fez, mas o acto em si.
É bem verdade que com ‘amigos’ como ‘este’, José Régio jamais precisará de ‘inimigos’!...
Mário Casa Nova Martins
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Capa e contracapa do exemplar da Biblioteca Municipal de Portalegre
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Página com os carimbos da Biblioteca Municipal de Portalegre
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É nítida a ausência da página 5/6
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Capa da 1.ª edição
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